Como era de se esperar, depois que saiu a lista começaram as reclamações. É natural, principalmente quando não encontramos nossos favoritos e ao mesmo tempo vemos livros do século passado entre os melhores do século atual (NYT carece de uma aula básica sobre como funciona a divisão de séculos, livros do ano 2000 são do século XX).
Das reclamações o que eu achei interessante foram os brasileiros falando que a lista tinha muito livro anglófono: é um periódico estadunidense, a lista elaborada com voto de leitores estadunidenses considerando livros lançados só nos Estados Unidos1, as pessoas realmente esperavam diversidade?
Eu, criadora compulsiva de listas, tenho outros questionamentos para além da falta de diversidade já comentada. Por exemplo: sempre que elaboro lista tenho por regra não repetir artista, justamente para dar espaço para outros nomes. Na lista do NYT eles não só repetem autores, como ainda fazem a Elena Ferrante aparecer com 3 de quatro livros da tetralogia napolitana que só fazem sentido lidos juntos. História de Quem Foge e de Quem Fica é o meu favorito dos quatro, mas ele não significaria nada se eu não tivesse a bagagem do primeiro e do segundo livro (meu ponto é: a tetralogia deveria ser considerada um livro só e Ferrante deveria entrar com a tetralogia e Dias de Abandono, sobrando espaço para mais dois autores diferentes.
Outro problema é a ideia de livro lançado no século XXI. Segundo as regras, os livros da Lucia Berlin são válidos (e entraram dois na lista), mas os textos da Berlin são todos anteriores ao século XXI. E não entenda mal, eu adoro a Berlin, e o Manual da Faxineira esteve em lista de leituras favoritas minhas em 2017, mas aí nessas regras também vale a coletânea de contos da Clarice Lispector que fez um grande sucesso lá fora poderia ter entrado na lista como melhores livros do século XXI. A Clarice era autora a frente do seu tempo e todo clássico é atemporal, mas, hum, não, não acho que faz sentido. Fico pensando que se o recorte são os anos entre 2000 e 2024, isso deveria valer para a produção mais do que a publicação.
Mas como disse, reclamações de quem adora fazer lista há anos. E obviamente eu aproveitei e fiz a minha também, né. Para ser justa na brincadeira usei as mesmas regras do NYT, mas as regras aprendidas na escola sobre divisão de século. Dos meus dez escolhidos só um ainda não foi traduzido no Brasil (o que é uma pena, porque ele é bom demais, mas eu não perdi a fé porque se até Departamento de Especulação achou casa no Brasil quase uma década depois de publicado, ainda há esperanças). Se tiver link no título do livro é porque falei dele no bró.
Lançado pela Companhia das Letras com tradução de Paulo Schiller.
Lançado pela Rocco com tradução de Léa Viveiros de Castro.
Lançado pela Companhia das Letras com tradução de Ana Guadalupe.
Lançado pela Morro Branco com tradução de Heci Regina Candiani.
Lançado pela Todavia com tradução de Carol Bensimon.
Lançado pela Todavia com tradução de Rogério Galindo.
Lançado pela Darkside com tradução de Ayelén Medail.
Lançado pela Companhia das Letras com tradução de Jorio Dauster.
Lançado pela Biblioteca Azul com tradução de Maurício Santana Dias. Eu obviamente estou considerando toda a tetralogia.
Ainda sem tradução no Brasil.
uma autora do Lithub foi convidada para votar e em um artigo explicou quais eram os critérios, o que dá para entender ainda mais a questão. Por exemplo, só eram válidos livros publicados em inglês. Vocês têm noção da fatia que o mercado editorial gringo reserva para traduções? É ridícula e claramente se reflete na lista ↩
incrível como vc se mantém leitora contumaz(?) por tantos anos! parabéns.
hahahahaha é meu remedinho, andre. se eu parar de ler, vou coringar =F