As melhores leituras de 2023

Ano passado eu previ que detestaria a ideia de furar a lista de melhores leituras e exatamente conforme havia previsto, eu realmente xinguei muito meu eu de janeiro de 2023 que achou que seria uma boa ideia transformar meu post de melhores leituras em uma thread de twitter. Pois voltei aqui dia desses e minha mente voou para outro tipo de lista, mas hoje eu prometo que não vou dormir até falar quais foram meus dez livros favoritos de 2023.

Para surpresa de zero pessoas que acompanham minhas leituras através de comentários aleatórios por aí,1 foi mais um ano com mulheres dominando a lista de autores e como sempre digo: não é de propósito, é só que de um tempo para cá o que tem atraído minha atenção. Mas se você acha que precisa colocar mais mulheres nas suas listas de leituras, ficam aí sugestões. Então vamos lá para os melhores, sem uma ordem definida.

Bellies (Nicola Dinan): Ainda lidando com a recém-descoberta (ou aceita) homossexualidade em tempos de universidade, Tom conhece Ming e ambos se apaixonam. A vida parece já ter tomado um rumo certo para os dois, mas Ming – que não se sente bem em um corpo de homem – decide começar a transição. A partir daí, vemos como lidarão com a situação (spoiler: não muito bem). Um dos pontos fortes do livro é que as personagens são muito bem construídas, e mesmo quando você está xingando bastante as decisões que elas vão tomando, você consegue sempre compreender qual é a motivação. Ainda sem tradução no Brasil, mas como será adaptado para TV pelo mesmo pessoal de Normal People, é capaz de que logo chegue por aqui.

Shark Heart: A Love Story (Emily Habeck): A regra é clara, se eu tiro a poeira do blog para falar de um livro, é porque ele aparecerá na minha lista de favoritos do ano. Não poderia ser diferente com Shark Heart, romance de estreia de Emily Habeck. A história sobre o homem que descobre estar com uma doença rara que faz com que aos poucos vá se transformando em um tubarão branco ainda está ressoando aqui no meu coração (pensa na cena: encontro de família e eu falando do livro para a Sol e chorando lendo um trecho para ela. Pois é.). Ainda sem tradução no Brasil.

The Last Tale of the Flower Bride (Roshani Chokshi): Caramba, que livro mais lindo. E quando falo em lindo é pelas imagens que evoca, colocando o leitor no meio de um sonho meio conto-de-fadas, meio romance gótico. Há um mistério permeando a história e não é possível confiar em ninguém. Não acho que enquanto thriller vá trazer grandes plots twists (você já começa a desconfiar de como será o desfecho a partir de um certo momento), e talvez por causa disso eu tenha ficado com um gosto de que tem alguma coisa ali que poderia ser melhor. Mas pela beleza da narrativa de Chokshi, valeu cada segundo. Não tem tradução no Brasil ainda.

Babel: Ou a necessidade de violência (R.F. Kuang): A história começa em Cantão do século XIX, em uma realidade que é quase como a nossa, com o porém de que a magia é possível. Robin Swift é resgatado de uma epidemia de cólera pelo professor Lovell, que conduzirá o garoto para Oxford onde irá transformá-lo em um tradutor do Instituto Babel. Parece tudo um conto-de-fadas, mas acredite, aquela “necessidade de violência” não aparece no título por acaso. O ponto forte aqui é que Kuang se aproveita da onda da dark academia para colocar o Colonialismo em debate. Gosto especialmente do fato de que a autora não poupa o leitor para defender a tese principal da história. Ah sim, o sistema de magia é um dos mais criativos que vi nos últimos tempos, na hora que entendi como funcionava achei genial. Chega aqui no Brasil pela Intrínseca em fevereiro de 2024, com tradução de Marina Vargas.

Masters of Death (Olivie Blake): A Blake entrou no meu radar por causa de Nós Dois Sozinhos no Éter, que saiu por aqui pela Intrínseca e foi um dos meus favoritos do ano passado. Aí comecei a procurar outros livros dela e como me recuso a ler série que ainda não foi concluída, passei longe de The Atlas Six, mas li esse ano outros dois dela: One for My Enemy (uma mistura de folclore russo com Romeu e Julieta que funciona, viu?) e Masters of Death, que começa com uma vampira (mais precisamente uma answang, que se transforma em gato) que pede ajuda ao afilhado do Morte para se livrar de um fantasma que assombra uma casa que ela precisa vender. É uma doideira só, super divertido (e bem fofo em outros momentos) – algo meio “e se Douglas Adams e Neil Gaiman escrevessem algo juntos?”. Ainda sem tradução no Brasil, mas como a Intrínseca já lançou Atlas Six e o Sozinhos é capaz de que logo dê as caras por aqui.

Cursed Bread (Sophie Mackintosh): o livro se baseia em um evento real – no começo da década de 50 várias pessoas de uma cidadezinha francesa morreram envenenadas por causa do pão feito pelo padeiro local. Aqui a história é contada sob o ponto de vista de Elodie, a mulher do padeiro, e embora a dúvida sobre o que aconteceu naquele lugar seja o que mais prende a atenção, há ainda algumas frases perdidas numa espécie de fluxo de consciência que saltam aos olhos, fazendo o leitor desconfiar da narradora e perceber coisas antes dela. A autora (Sophie Mackintosh) apareceu na lista da Granta de jovens autores lá na Inglaterra esse ano, então é bom ficar de olho (vale o mesmo para as editoras do Brasil, já que ela ainda não tem tradução por aqui).

Ripe (Sarah Rose Etter): Pegue uma guria que sofre de depressão e jogue no meio da cultura startupeira e veja no que vai dar. É mais ou menos o que temos em Ripe, de Sarah Rose Etter, um livro que é perturbador não por causa do buraco negro que constantemente acompanha a protagonista (estou dizendo literalmente. E ele muda de tamanho conforme as emoções da personagem), mas por causa das coisas que acontecem ao redor dessa garota sem que as pessoas reajam com algum tipo de indignação ou ao menos preocupação. É como se estivéssemos dentro do pesadelo de outra pessoa como observadores. A tensão é constante e até por isso é difícil largar o livro. Ainda não tem tradução no Brasil.

Quarto Aberto (Tobias Carvalho): Eu tenho lido pouco livro de literatura nacional e até sei o motivo – quando gosto muito de um livro, procuro outros títulos relacionados e aí acabo ficando sempre na mesma bolha anglófona. MAS. Ouvi tanta gente falando de Quarto Aberto que a curiosidade falou alto demais e fui atrás. Tratando da relação de quatro caras em tempos de aplicativos, o livro obviamente capta o espírito do tempo. Gostei bastante (embora eu me enxergasse mais na colega de trabalho quarentona do protagonista), e talvez porque eu tenha uma queda descarada por personagem sem noção que só percebe que está sendo sem noção quando a realidade explode na cara, não consegui largar o livro até chegar no fim. Saiu agora em 2023 pela Companhia das Letras.

The Rachel Incident (Caroline O’Donoghue): Falando em personagem sem noção, a Rachel é uma das minhas favoritas desse ano. Ela começa a trabalhar em uma livraria, onde logo faz amizade com James (outro sem noção). Rachel então se apaixona por um professor (casado) e arruma um esquema para seduzi-lo, mas as coisas acabam dando meio errado e é a partir daí que a história engrena, com Rachel (e James!) tomando decisão ruim após decisão ruim, mas aos tropeços amadurecendo. É difícil explicar como o livro é tão bom quando é basicamente uma história sobre personagens cavando na unha seus lugares na fase adulta, mas realmente foi um dos meus favoritos do ano, talvez porque seja triste e engraçado na mesma medida. Ainda sem tradução no Brasil.

In Memoriam (Alice Winn): Deixei o favorito para o fim porque eu queria um lugarzinho de destaque para esse livro maravilhoso. É daqueles que você gostaria de ter a sensação de ler pela primeira vez várias vezes, sabe como? Eu falei dele aqui no blog e falo dele sempre que dão uma chance, porque realmente me apaixonei pela história de Gaunt e Ellwood, dois garotos apaixonados tentando sobreviver aos horrores da Primeira Guerra. Fico aqui na torcida para que seja traduzido logo no Brasil, para eu poder recomendar para ainda mais pessoas.

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Eu vou deixar os títulos e autores dos favoritos do ano passado porque vai que o twitter morre e aí a minha thread se perde.

Shit Cassandra Saw (Gwen E. Kirby)

Vladimir (Julia May Jonas)

Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã (Gabrielle Zevin)

Half a Soul (Olivia Atwater)

A Dreadful Splendor (B. R. Myers)

Magma (Þóra Hjörleifsdóttir)

Nós dois sozinhos no Éter (Olivie Blake)

Cleopatra & Frankenstein (Coco Mellors)

Um Beijo Antes de Morrer (Ira Levin)

Scattered Showers (Rainbow Rowell)


  1. como eu disse há uns tempos, naquele meme de “com qual personagem de série que você se identifica” apesar de responder coisas tipo Princess Carolyn e outras personagens descaralhadas das ideias, mas cool, sou o Dado da Malhação (circa 1995), famoso pelo bordão “bonito isso, né? eu li num livro” 

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