Hum. É. Aqui estou. Não estava muito animada para fazer a lista de melhores leituras do ano porque olhando para os livros que separei para o top10, uma parte achei bem boa, mas nem todos são livros que me acompanharão no futuro. Sabe, não daqueles que só de ver a capa em algum lugar ou ler algum comentário já dá aquela sensação de reencontrar um bom amigo? Algo assim.
É meio que um desânimo, não necessariamente sobre o ato de ler, mas dessa conversa que vem depois. Até com o registro que eu sempre fui super metódica acabei deixando passar alguns momentos de obsessão (o outubro dos romances góticos, por exemplo, ou o setembro das comédias românticas).
Mas eu percebi que foi a mesma coisa com os filmes, então acho que talvez seja mais algo sobre onde está minha cabeça no momento e não sobre os livros em si. Talvez por isso mesmo valha o registro, nem que seja para revistá-los em outro momento. Então, mais um ano, mais uma lista.
The Dangers of Smoking in Bed (Mariana Enriquez): Eu sei que está todo mundo no Nossa Parte de Noite que saiu pela Intrínseca, e eu pretendo ler logo porque com a Mariana Enriquez não tem erro. Mas quem chegou primeiro na fila de livros para ler foi essa coletânea de contos que saiu nos EUA em 2021. E que coletânea maravilhosa. Adorei demais As Coisas que Perdemos no Fogo, e tudo que gostei no livro anterior eu encontrei no recente – mas ainda melhor. Tem um conto em específico que entrou para a minha lista de contos favoritos de todos os tempos, envolvendo brincadeira do copo e desaparecidos da ditadura argentina. Sem tradução no Brasil, mas a Intrínseca está lançando todos os livros dela então dá para ter fé.
The Liar’s Dictionary (Eley Williams): O livro abre com uma introdução que tem uma sacada tão genial que já sabia que iria adorar o livro: a autora te coloca em uma situação em que você começa a duvidar de algumas palavras que estão sendo usadas e vai conferir no dicionário para saber se são reais. E esse detalhe é importante, porque boa parte do enredo tem a ver com os mountweazel, termos fictícios que são colocados propositalmente em dicionários, enciclopédias e afins para evitar plágio. Mas o melhor são as personagens, que são completamente doidas. É um livro engraçado e ao mesmo tempo tocante, misturando passado e os tempos atuais. Te dizer que é a coisa mais próxima a um filme do Wes Anderson que eu já li (eu adoro os filmes do Wes Anderson, então é um elogio). Sem tradução no Brasil.
Broken (Jenny Lawson): Não-ficção ainda não é exatamente minha praia, mas quando é Jenny Lawson eu nem espero muito porque é certeza de que vou rir demais. Com Broken não foi diferente, o Fábio não me aguentava mais gargalhando ao lado dele “Que foi?” e eu respondendo “É o livroooo!!”. Como com os outros livros da autora, eu sei que o humor é o tom principal, mas não é o único. Tem um capítulo dedicado os planos de saúde que eu fiquei morrendo de vontade de traduzir na época que apareceram as denúncias sobre um ~~certo plano de saúde~~ que resolveu fazer experimento com os pacientes internados com covid. Eu deveria ter economizado o livro e ler mais devagar porque olha, eu estava precisando das risadas. E agora eu sei como é um cockchafer. 🙂 Sem tradução no Brasil, mas aposto na Intrínseca trazendo para cá.
Tender is the Flesh (Agustina Bazterrica): Sugestão da @jarenmelo lá no twitter, para quem deixo meu muito obrigada mais uma vez porque caramba, que livrão. É perturbador e requer algumas pausas, não é livro para ler corrido. É um baita soco no meio da cara, porque a Bazterrica te coloca a todo momento em uma situação em que você acha terrível o que está sendo feito com humanos, para então se questionar por que com animais parece ser normal? O que nos difere deles, e quais mentiras estamos dispostos a contar para nós mesmos para nos adaptar ao que achamos horroroso. “She had the human look of a domesticated animal.” é uma frase final de livro que me assombrará por muitos, muitos anos. Sem tradução no Brasil.
The Death of Jane Lawrence (Caitlin Starling): Quando a Anne Rice morreu em dezembro a Mariana Enriquez escreveu que quando leu Entrevista com o Vampiro pensou “Esta mulher entende o que eu gosto mais do que eu”. Na hora que li a frase pensei em quando assisti Crimson Peakdo Del Toro – é um caldeirãozinho do que eu mais adoro, da história até o visual. Então, quando li o comentário sobre The Death of Jane Lawrence ser inspirado em Crimson Peak, comecei a ler o livro na hora. E olha, é melhor que Crimson Peak. É bom demais. É tão bom que iniciou o tal do outubro dos romances góticos. Como comentei no twitter, a resenha sobre o livro que saiu no NPR é o que eu teria escrito aqui no bró se eu não tivesse perdido completamente meu mojo. Sem tradução no Brasil.
Torto Arado (Itamar Vieira Junior): E lá vamos nós no trenzinho do hype. Teve um momento do ano em que TODO MUNDO estava lendo Torto Arado e se tem uma coisa que eu adoro é ver qualé quando todo mundo está amando um livro (ou fazendo questão de dizer que “não achou tudo isso”). Eu sou da turma que amou, aviso desde já. Não sem falhas, mas é um livro que pede um pouco do seu fôlego na leitura, principalmente na porção inicial quando vemos o acidente que entrelaçou a vida das irmãs Bibiana e Belonísia. Gosto como os elementos da terra tomam lugar importante ao longo da história, quase como se fossem personagens e não parte do espaço. O autor é brilhante nas descrições, ao ponto de te transportar para o lugar.
Nightbitch (Rachel Yoder): Nightbitch conta a história de uma mãe que percebe que está virando uma cadela. Sim, basicamente isso. No começo do ano tinha lido outro livro que também lidava com aquele momento de pausa na vida da mulher quando torna-se mãe, na história também há um choque com a realidade (o nome do livro é The Upstairs House da Julia Fine). É engraçado porque os dois são parecidos mesmo nas questões que levanta: o ressentimento com o homem que não participa daquele momento, o tentar se reconhecer sabendo que você não é mais a mesma pessoa, as noites mal dormidas que afetam sua percepção, a insegurança, o medo de ter ficado à margem da história principal. Mas Nightbitch parece ter um pouco mais de coragem quando abraça o absurdo, e por isso ele ganha um lugarzinho na lista. E também: gente, essa capa!! Sem tradução no Brasil.
A Vida Invisível de Addie LaRue (V.E. Schwab): Que história fofa. Tem algo nela que me fez pensar muito em Homens de Boa Fortuna de Sandman – a personagem principal faz um pacto parecido com o que o Hob Gadling faz: ela não morre. O porém é que o pacto dela tem um preço, as pessoas esquecem dela se ficarem poucos minutos sem vê-la. E para tentar contornar “a maldição”, ela vai vivendo através da História, buscando um jeito de não ser esquecida, servindo como uma espécie de musa dos artistas. É interessante ver como Addie vai mudando o modo de perceber Luc, o sujeito com quem fez o pacto, mas o que faz valer a história mesmo é quando ela rouba um livro de uma loja e quando retorna ao local, descobre que o livreiro Henry lembra dela. E gente, que personagem encantadora é o Henry. Tem horas que a cabeça precisa de um pouco de heart eyes, mothefucker, né? Tradução no Brasil de Flavia de Lavor para a Galera Record.
A Outra Garota Negra (Zakiya Dalila Harris): A história começa com a rotina de trabalho de Nella Rogers em uma grande editora – ela é a única garota negra até a chegada de Hazel. A relação das duas é um negócio que por si só já valeria o livro, a indignação que o leitor sente ao não ver Hazel se converter automaticamente em uma aliada, mas em alguém que parece querer roubar o lugar de Nella dá uma agonia enorme. Acho que um pouco o que estragou minha leitura é que quando lançaram o livro lá fora compararam demais com Get Out, e além da comparação ser meio preguiçosa, ela faz o leitor criar expectativa sobre um tipo de história, quando a tensão se desenvolve de outra maneira. Tradução no Brasil de Flávia Rössler e Maria Carmelita Dias para a Intrínseca.
Mary Jane (Jessica Anya Blau): É coming of age, anos 70, tem rock star, tem atriz famosa e uma menina com os olhos brilhando para adultos completamente imperfeitos. Acho que o ponto mais forte do livro é que ele não tenta mostrar o amadurecimento da protagonista Mary Jane com uma completa transformação – saindo da garota exemplar da família super conservadora para uma doidona como a família para a qual vai trabalhar durante o verão. A personagem fica deslumbrada com os adultos que parecem tratá-la como uma igual, mas é engraçado perceber, por exemplo, que ela não é ela (a adolescente) que tenta imitar a atriz famosa esposa do roqueiro. É doce e tem qualquer coisa ali que lembra bastante Almost Famous. Sem tradução no Brasil.
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let’s go.
They do not move.
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9 comentários em “Melhores Leituras de 2021”
Obrigada pelo top 10, Anica.
Meu ano literário foi bem mequetrefe e eu nem tinha ouvido falar desses livros, mas vários chamaram minha atenção pelos seus breves comentários.
Parece uma lista interessante, meu ano de 2021 foi mais acadêmico do que outra coisa, só li uns dois ou três por interesse próprio. Um deles foi Daisy Jones and the six, que estava bombando na minha timeline do twitter e eu acabei adquirindo e lendo, esse Mary Jane me lembrou ele, deu até vontade de ler.
Espero que 2022 seja um ano de melhores para todos nozes
Eu gostei um montão do Daisy Jones, estou bem ansiosa sobre a série que está para sair porque é meio que um jeito de a banda fictícia ser real? hahahahah
O Mary Jane tem uma pegada mais coming of age, protagonista mais nova, mas os adultos são todos meio zoados como os de Daisy Jones também.
Estava pensando agora mesmo que talvez eu devesse voltar a escrever nem que seja só um pouco sobre as coisas que chamam minha atenção. Tanta coisa acaba se perdendo porque ficam fora das listas de fim de ano ou eu só falo lá no twitter (que é uma coisa muito do momento, não tem isso de vir ler tempos depois).
Obrigada pelo top 10, Anica.
Meu ano literário foi bem mequetrefe e eu nem tinha ouvido falar desses livros, mas vários chamaram minha atenção pelos seus breves comentários.
Nhaaaaaa, obrigada você pela visita <3
Meu ano não foi grandes coisas também. Vamos torcer que 2022 traga melhores leituras para nós =D
Parece uma lista interessante, meu ano de 2021 foi mais acadêmico do que outra coisa, só li uns dois ou três por interesse próprio. Um deles foi Daisy Jones and the six, que estava bombando na minha timeline do twitter e eu acabei adquirindo e lendo, esse Mary Jane me lembrou ele, deu até vontade de ler.
Espero que 2022 seja um ano de melhores para todos nozes
Eu gostei um montão do Daisy Jones, estou bem ansiosa sobre a série que está para sair porque é meio que um jeito de a banda fictícia ser real? hahahahah
O Mary Jane tem uma pegada mais coming of age, protagonista mais nova, mas os adultos são todos meio zoados como os de Daisy Jones também.
Meu medo é das músicas não me agradarem, espero que seja uma parada da boa
tem essa chance, né? torcer que seja tipo a stillwater do almost famous, eu escuto fever dog até hoje >> https://youtu.be/_fxdDJYvVyE
Almost Famous é uma obra de arte, mudou minha vida para um caralho
Entendo esse desânimo, mas saiba que desde os tempos do Meia Palavra, sempre levo em muita consideração as indicações da senhora.
Vez ou outra acabo vindo parar aqui e sempre acho uma leitura nova (mesmo que seja lendo posts antigos).
Obrigada, Carlos =D
Estava pensando agora mesmo que talvez eu devesse voltar a escrever nem que seja só um pouco sobre as coisas que chamam minha atenção. Tanta coisa acaba se perdendo porque ficam fora das listas de fim de ano ou eu só falo lá no twitter (que é uma coisa muito do momento, não tem isso de vir ler tempos depois).