Enterre seus mortos, romance de Ana Paula Maia publicado em 2018 pela Companhia das Letras tem já em seu primeiro parágrafo uma série de elementos que (nas palavras do narrador) enfurecem os sentidos. Um triturador imenso está moendo os restos de uma vaca. O diálogo que segue a descrição da máquina em funcionamento é surpreendentemente banal: o animal é grande demais, algum osso está emperrando a máquina.
Esse tratamento prosaico dispensado à morte (aos restos, ao que vemos com tanto nojo) será uma constante ao longo do romance. O protagonista Edgar Wilson1 é um sujeito de poucas palavras que trabalha retirando animais mortos da estrada que passa perto de uma mina de calcário. No seu cotidiano, a morte é banal, é algo que simplesmente acontece: “Observava diariamente a vida evoluir para a morte“.
não sei se porque o livro me foi recomendado como terror, mas o nome na minha cabeça soava quase como um cacófato de ideias: Edgar (o Poe) e Wilson do conto William Wilson do Poe. ↩
Logo após completar os 28 anos, trabalhando de caixa em dois mercadinhos e ainda morando com a mãe, Lillian Breaker recebe uma proposta irrecusável de uma amiga dos tempos de escola, Madison Roberts: ajudar a cuidar de seus dois enteados (Bessie e Roland) durante o verão. Partindo desse ponto não parece que o que virá a seguir será uma história cheia de momentos que beiram ao absurdo, outros hilários, e alguns assustadores. Mas Nothing to See Here de Kevin Wilson contraria o próprio título: há muito para se ver ali.
O interessante é que tudo vai sendo revelado aos poucos, através das palavras da narradora-protagonista Lillian. Como uma pessoa que já tomou algumas bordoadas na vida, confiança não é exatamente uma característica que ela possui, então é evidente que não entregará o jogo rapidamente. São algumas páginas para revelar que talvez Madison nem seja mais sua amiga (o que tornaria o pedido estranho). Segue um pouco mais para contar a razão para a dúvida sobre a amizade. E lá vão umas trinta páginas quando ficamos sabendo as reais condições da proposta de Madison: seus enteados simplesmente pegam fogo quando estão nervosos. O pai das crianças está em um momento crucial da carreira e precisa ficar longe de qualquer tipo de escândalo, por isso Lillian deve garantir que as crianças não causem problemas durante o verão.
Observando de longe, histórias de bandas de rock não são muito diferentes entre si, seja lá a qual década elas pertençam. Um elemento ou outro pode até faltar, mas no geral quase todos estarão lá. As narrativas são construídas a partir de encontros ao acaso. Tem aquele momento meio aleatório da escolha do nome da banda que depois significará tanto para tantas pessoas. O trabalho duro e os shows em lugares pequenos anteriores à fama, contrastando com o completo assombro ao passar a tocar em lugares enormes e lotados.
Com a fama, os atritos entre personalidades fortes e egos gigantes passam a ser mais constantes, piorados pelo abuso de drogas e bebidas. Surgem projetos paralelos e ciúmes, algum membro acaba resolvendo ir embora ou acaba morrendo. A banda acaba. Ou continua, mas resignada que aquele momento de explosão é único e não se repete.
Dito isso, é óbvio que Meet Me in the Bathroom de Lizzy Goodman não fugirá da regra ao falar de bandas do começo dos 2000, como The Strokes, Interpol e Yeah Yeah Yeahs. Mas o charme do livro não está nas coisas que todo fã saberia, mas em como ao usar várias vozes, a jornalista consegue fazer um retrato tão preciso do momento em que essas bandas estiveram no auge.
Uou. Já são 15 anos fazendo a lista de melhores filmes aqui no blog. Falhei em 2011 e 2012 porque ainda estava me adaptando à maternidade, mas fora isso, desde 2004 volto sempre aqui para contar quais foram meus dez filmes favoritos do ano que passou.
Em 15 anos até o modo como acompanhava cinema mudou. A minha lista de 2004 e 2005 tem muitos filmes que… ALUGUEI EM UMA LOCADORA. Em 2004, minhas principais fontes de informação ainda eram a revista SET (sim, de papel) e o site Cinema em Cena. Mas já estava começando a seguir recomendação dos amigos lá do Fórum Valinor (a mania das listas começou lá, diga-se de passagem).
Dois anos antes lembro que tinha saído o segundo filme da trilogia nova de Star Wars (agora já não mais nova), e o Uglúk mandou link para baixar pelo emule (!!!!!) um spot de tv do Yoda lutando contra o Dooku, que simplesmente não estava acessível para os brasileiros ainda. Agora com A Ascensão de Skywalker a Disney não deu um espirro sem que todas as redes sociais no mundo inteiro fossem atualizadas. Continue lendo “Os melhores filmes de 2019”
Eeeee…. mais um ano que começa. Estava falando ontem no twitter, sempre que chega essa época de listas de melhores eu me empolgo porque atualizo o blog, penso que finalmente a coisa vai engrenar e vou voltar a escrever, mas aí acaba que passa mais um ano e pans, poucas atualizações.
O negócio é que em 2019 fiquei cozinhando na cabeça um problema que há tempos tenho percebido: de como abrimos mão do controle do conteúdo que criamos ao publicá-los em redes sociais. Eu continuo falando de livros como sempre falei, mas lá no twitter é vago, é breve e, o principal: não fica histórico, não fica registro. Quem me acompanha não tem uma real garantia de que lerá o que postei, porque tudo se perde numa timeline infinita e uma ferramenta de busca péssima.