Fleabag

Mês passado aproveitei que tinha recém-assinado Amazon Prime e resolvi dar uma conferida nas comédias disponíveis no catálogo. Você sabe: aquelas com episódios de 25 minutos e que está tudo bem se você resolver assistir a uns quatro seguidos, porque afinal, só 25 minutos. Nessas assisti toda a primeira temporada de Forever e depois saltei para Fleabag, sobre a qual já tinha lido uma coisa ou outra. Pois bem, eis-me aqui apaixonada por Fleabag.

Criada e protagonizada por Phoebe Waller-Bridge, a primeira temporada saiu em 2016 e a segunda acabou de estrear (assim, mesmo: primeiro episódio foi semana passada). Não tem muito como vender o peixe descrevendo de forma geral: é a vida de uma guria (a Fleabag), tentando sobreviver à morte da melhor amiga e uma família bem disfuncional, basicamente. Mas se você está lá com seu espaço para séries de 25 minutos, reserva e vai com fé porque vale muito a pena.

Parte do charme da série vem da sensação de cumplicidade que se estabelece entre a Fleabag e o espectador por causa dos comentários e olhadas para a câmera. É algo parecido com o Frank Underwood em House of Cards, mas tem algo na atuação da Waller-Bridge que vai além de quebrar a quarta parede só pelo riso: tem uma passagem agora na segunda temporada em que durante uma sessão a analista pergunta para Fleabag se ela tem amigos. Primeiro temos um flash da amiga Boo e depois a câmera volta para Fleabag, que olha para nossa direção com um sorrisinho e diz que tem amigos, sim, claro – como esperando nossa validação. Nós somos seus amigos.

E daí que fica clara a solidão da protagonista, uma solidão que não veio apenas com a perda da amiga, mas a constatação de que não tem absolutamente ninguém com quem contar. A irmã a conhece muito bem, e até por isso parece sempre tentar manter uma distância segura. O pai, por causa dos ciúmes da madrasta de Fleabag, aparentemente não pode chegar perto nem para a mais trivial das conversas. E os relacionamentos amorosos da personagem acabam todos sendo rasos, baseados unicamente em sexo ou, no caso de Harry, em uma espécie de garantia de normalidade.

E aí nesse ponto você já está voltando para o começo do post para conferir se descrevi a série como comédia mesmo porque caramba, né, parece triste. E é triste. Tem um diálogo com uma personagem bem aleatória lá no finale da primeira temporada que eu desafio qualquer um a assistir e terminar sem pelo menos um nó na garganta (eu terminei chorando, mas sou meio manteiga derretida mesmo). Mas ao mesmo tempo que é triste, tem momentos hilários, como o retiro para mulheres (que tinha como vizinho um retiro para homens que odiavam mulheres). E eu já devo estar dizendo isso pela enésima vez aqui, as a Waller-Bridge é genial. Ela dispara umas falas que tinham tudo para soarem forçadas ou meio esquisitonas mas ali ficam engraçadíssimas. 

Mas lógico, ela não está sozinha. O elenco é muito bom, mas na minha opinião acabam se destacando a irmã Claire (interpretada por Sian Clifford) e a Madrasta (interpretada pela recém-oscarizada Olivia Colman). Se o equilíbrio entre drama e comédia funciona tão bem na série é por causa desse trio. Tem algumas trocas entre a Fleabag e a Madrasta, algo que inicialmente parece a disputa pelo afeto do pai mas claramente vai além, os cutucões que uma dá na outra – enfim, é um relacionamento que ganha muito no que não é dito pelas personagens, e nisso dá para perceber o valor das atuações.

O mesmo vale pela Claire, o problema é que a personagem ainda está um pouco presa no tipo que ela representava inicialmente – a pessoa que tenta ter a vida sob controle a qualquer preço, completamente inflexível, era quase uma anti-Fleabag, mas com a história avançando ela vai saindo do tipo e começa a nos conquistar – talvez daí o grande coração partido no finale. 

Adoro que algumas personagens não chegam a ganhar nomes: tem o Arsehole Guy, o Bus Rodent, Hot Misogynist, etc. Talvez alguma relação com a superficialidade das relações da Fleabag, ou ainda, reforçar a visão que ela tem dos outros e de si, já que ela também não tem o nome revelado, vale lembrar. Agora na segunda temporada entrou mais uma personagem masculina sem nome, The Priest, interpretado pelo Andrew Scott (que eu amo de paixão por causa de Sherlock). 

São só 6 episódios por temporada, os da primeira já estão todos disponíveis na Amazon Prime. Por enquanto o primeiro da segunda temporada é o melhor – a loucura da reunião de família na mesa de jantar, uma bomba relógio pronta para explodir – e quando explode é uma confusão de sentimentos, que representam exatamente a série como ela é. Genial.

***

Na linha dramédia britânica com uma protagonista getting her shit together (ok, isso foi bem específico), li tem uns tempos Don’t You Forget About Me da Mhairi McFarlane. Se estiver precisando de um livrinho gostoso para esquecer por algumas horas o cocô gigante que está o mundo atualmente, fica aí a dica. 

2 comentários em “Fleabag”

  1. Não conhecia essa série, mas parece bem legal! Não tenho Amazon Prime, mas tô pensando em assinar quando sair Good Omens, aí quem sabe eu veja Fleabag também.

    Da Mhairi McFarlane já li Amor à Segunda Vista, mas a leitura demorou pra engrenar pra mim. Porém, até que tenho interesse em ler outros livros dela!

    P.S.: como assim você trancou teu Twitter? Como vou ficar sabendo dos lançamentos de livros e etc.? XD

    1. Ahhh eu estou tão ansiosa sobre Good Omens!!! Tem tudo para ser boa demais <3 Se assinar e assistir Fleabag, depois me conta o que achou 🙂

      Este Amor à Segunda Vista é o "You Had Me at Hello"? eu fiquei com vontade de ler depois de terminar o "Don't you forget about me", mas é tanta coisa nova saindo que estou morrendo de vontade de ler que acaba ficando pra depois +_+

      (eu tenho reavaliado minha presença em redes sociais, hahaha. pensando seriamente em concentrar tudo em um lugar só - aqui - e usar as redes só para ler/me informar. mas se eu voltar a postar mais no twitter eu tiro o cadeado de novo ^^ )

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