Os melhores filmes de 2016

Eu tenho ficado meio preguiçosa sobre o blog, confesso. Tanto que quase nem publiquei a listinha de melhores filmes de 2016. Talvez depois de 12 anos fazendo a lista eu devesse simplesmente publicá-la e parar com as desculpas? Ok, tentarei para a de 2017.

Para quem chegou agora: vale apenas filmes lançados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2016 (eu tenho burlado o critério com uns “lançados em festivais no Brasil” para filmes que gostei demais e inexplicavelmente ainda não apareceram por aqui).  Listas dos anos anteriores: 2004 | 2005 |2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2013 | 2014 | 2015.

10. Deadpool (idem, 2016): Tem um tico de pedantismo que mora lá num cantinho do meu coração que ficava dizendo “quéisso, vai botar filme de herói na tua lista?”. Mas resolvi mandar às favas, até porque Deadpool sai do convencional. Tanto que ainda em 2016 os estúdios estavam tentando seus próprios Deadpools, o que vá lá, não tem como. É tipo contar uma piada várias vezes, o efeito nunca é o mesmo. Então, acho que a essa altura nem tem muito o que falar que tudo mundo já não saiba, de qualquer forma valeu. Ainda acho que não atinge o mesmo nível de Guardiões da Galáxia, mas que alívio assistir algo que não é uma repetição do que tem sido feito desde que o público aprovou Homem de Ferro (o que tem aí quase uns 10 anos já).

“Now, I’m about to do to you what Limp Bizkit did to music in the late 90s.”


09. High Rise (idem, 2015): adaptação do romance de J.G. Ballard, com Tom Hiddleston no papel principal mas junto um elenco cheio de gente que eu meio que quero assistir filme só porque a pessoa está lá (tipo a Elisabeth Moss). Crítica ao sistema naquele jeitão bem óbvio mas que até pelos níveis de whattafuckery mesclados com imagens lindíssimas (e eu não estou falando do Tom Hiddleston pelado) podem acabar passando por algo sutil? De qualquer forma, só pela cena com SOS na versão do Portishead meio que já entraria na minha lista.

“It takes a certain determination to row against the current.”


08. Amor & Amizade (Love and Friendship, 2016): Pelo título você já deve ter percebido que é uma adaptação de Jane Austen, né? O que surpreende aqui é ser uma comédia tão boa. Tem toda aquela coisa de formar parzinho, casamento por causa de dinheiro e yadda yadda yadda da Austen mas com um humor tão, tão ácido que parece quase que é Austen tirando sarro de Austen? Kate Beckinsale está ótima como Lady Susan Vernon, acho importante dizer. Dirigido por Whit Stillman, responsável por um dos meus queridinhos dos assistidos no ano passado retrasado, Metropolitan.

” I had a feeling that the great word ‘respectable’ would some day divide us.”


07. Demônio de Neon (The Neon Demon, 2016): Sabe aqueles filmes que parecem uma desculpa para capturar imagens lindas? Demônio de Neon é assim. Em termos de enredo pode enganar inicialmente como mais uma história de menina tentando a sorte na cidade grande. Mas vai além, e mistura o grotesco e o sublime ao trazer para a tela cenas lindíssimas como a da atriz Elle Fanning encarnando a menina Jesse em seu primeiro ensaio fotográfico. Sei que como crítica ao culto à beleza funciona de forma meio óbvia (como a crítica de High Rise), mas não vejo a falta de uma alegoria ou outros recursos necessariamente como algo ruim. Ah, sim. Vários momentos MAZOQUEEEEE?, incluindo os minutos finais.

“I don’t want to be like them. They want to be like me.”


06. Elle (idem, 2016): Eu ainda não sei o que pensar sobre Elle, e acho que o incômodo que sinto sobre o filme é meio que parte do seu charme. De início: me recuso a ver o filme como a vingança de uma vítima de um estupro – até pelo modo como a história se desenvolve. Enfim, se você abandona essa leitura da vingança, consegue perceber o tom absurdo e até por isso cômico nas ações de Michèle (interpretação maravilhosa de Isabelle Huppert), por exemplo, toda a sequência da ceia de Natal é simplesmente hilária. São pequenas ações que falam mais sobre a personagem do que qualquer frase de efeito que ela pudesse soltar entre uma cena e outra.

I’ve came here to spit on my father’s face. Can’t say it was a metaphor.


05. Blue Jay (idem, 2016): Vá lá, eu vi que era Mark Duplass e Sarah Paulson e nem quis saber muito mais sobre o filme, foi só depois de assistir que fui atrás de outras informações. E olha, faz diferença saber que o filme não tinha um roteiro, era apenas um resumo da história e informações sobre as personagens, o resto todo era improviso. Porque aí a sintonia de Paulson e Duplass ganham pontos extras no desenrolar da história de dois ex-namorados da adolescência que se reencontram por acaso quando já adultos. É um filme doce, carregado de nostalgia e com muitos “e se…?”. E o final é de partir o coração. Saiu um artigo bacana no Vulture sobre isso, mas eu recomendo a leitura só se você já viu o filme. Ah, sim, tem no Netflix.

“It’s almost like I don’t know who that person was on the tape.”


04. Um Cadáver Para Sobreviver (Swiss Army Man, 2016): Que filme doido. Que filme engraçado. Que filme triste. Que filme foda. Sério, esqueça esse título horrendo que ele ganhou aqui no Brasil, corre para o Netflix e assista. Paul Dano ( <3 ) é Hank, um náufrago que prestes a se suicidar encontra o corpo de Manny (Daniel Radcliffe) na praia. Por mais bizarro que possa parecer, surge desse encontro uma amizade que salvará Hank mais do que no sentido de fazê-lo encontrar o caminho de casa. Sério, tem uns diálogos ali que chegam a dar um tilt na cabeça: você não sabe se ri pelo absurdo ou se chora pelo que ele realmente significa.

“If my best friend hides his farts from me then what else is he hiding from me, and why does that make me feel so alone?”


03. A Bruxa (The VVitch: A New-England Folktale, 2015): Caceta de filme tenso da porra. Posso dizer que em termos de tensão A Bruxa equivale ao que eu senti lendo I’m thinking of ending things: tinha uma hora que eu já nem sabia porque estava tensa, só sei que estava. Eu vi muita discussão sobre o filme ser ou não assustador, e eu acho que o que fez com que eu ficasse com medo é que ele conseguiu me transportar para o que era viver naquele tempo. Mais ou menos assim: é fácil no conforto do seu lar, sabendo que ali na esquina tem padoca e um pouco além o ponto do ônibus para te levar para o Centro, teus postes de luz iluminando a noite, teu vizinho de cima, de baixo e dos lados, achar que bah, nada acontece no filme. Agora, se transporta para a situação da família banida, vivendo nas bordas de uma floresta desconhecida. Para mim isso já é mais do que suficiente para provocar medo. Não é o som ficando mais alto quando uma porta bate, é um desenvolvimento da ambientação. (Black Phillip tem conta no twitter, achei uma boa contar).

“We will conquer this wilderness. It will not consume us.”


02. A Chegada (Arrival, 2016): É meio parcial, a protagonista do filme é moça ~~das Letras~~ como eu, mas não é só isso. Quando você lê uma história e gosta muito fica sempre aquele pé atrás sobre a adaptação, com A Chegada não foi diferente. Mas foi tão estranho ir ao cinema sabendo todo o enredo (e até o que seria o ‘twist’ que na novela nem é tão twist assim), e mesmo assim me surpreender e me encantar. A parte da física da novela ficou de fora (ruim para a personagem interpretada por Jeremy Renner, que acabou virando uma espécie de ajudante da doutora Banks), mas a relação mãe e filha permaneceu, pelo menos no tom, assim como as questões sobre destino e as consequências de nossas escolhas (o que resultou em Anica disfarçando o choro no cinema). Para quem chegou agora no bró, falo da novela do Ted Chiang aqui.

“If you could see your whole life laid out in front of you, would you change things?”


01. O Quarto de Jack (Room, 2015): Por mim era o que deveria ter levado o Oscar do ano passado. Eu sei que muita gente pode considerar meio apelão – a inocência de uma criança contra a brutalidade do mundo real sempre bate forte e arranca lágrimas, mas não é só por isso (se bem que, do que eu lembro aqui, não tinha nem dez minutos de filme e eu já estava chorando). O que eu gostei mais em Room foi de como a imagem de um lugar pode mudar – para Jack o quarto era o mundo, depois virou um quarto pequeno. E sim, aquela cena na caminhonete, olhando para o céu depois de se desenrolar do tapete, caramba, que momento lindo.

“Ma and I have decided that because we don’t know what we like, we get to try everything. There are so many things out here. And sometimes, it’s scary, but that’s okay, because it’s still just you and me.”


E é isso. Faltou ver muita coisa, mas faltou tempo também. Acho que para a lista de 2017 vou aplicar o método do Gabriel e fazer duas listas? Não é contraditório dizer que faltou tempo e pensar em fazer duas listas? Ainda não vi Rogue One. Dia desses me dei conta de que eu provavelmente não assisti A Vingança dos Sith. É nessas de esquecer se vi ou não filme que gosto de fazer minhas listas. Uma coisa meio polaroides do Leonard Shelby, mas para filmes. Pronto, parei. Acabou. Volto depois.

3 comentários em “Os melhores filmes de 2016”

  1. Concordo totalmente com vc sobre o Quarto de Jack! Nem acho apelão, o filme evita um bocado mostrar violência descaradamente e mesmo assim consegue ser forte. Todos atores estão mt bem tb Aquela cena em que a vó fala em cortar o cabelo do menino é tão coisa de avó, é bem trivial e ao mesmo tempo emocionante por td contexto. (acho que ser indicado ao Oscar criou mais preconceito contra o filme do que ajudou – mt gente ficou achando “Ah é só um melodrama cheio de choro pra ganhar Oscar”)

    Neon Demon não vi, pq eu não curti mt Drive do mesmo diretor. Ficou pra baixo na lista. haha

    1. O que eu sinto sobre Room é que o ponto de vista acaba sendo do Jack, e a mãe dele sempre o protegeu da violência da situação em que viviam (vide a regra do guarda-roupa). Então ele nem sabia/via as coisas como violentas. Acho que por isso o filme consegue evitar o que seria uma violência descarada – e o feito é ainda mais forte na gente, não? O que não fica dito/mostrado fica por conta de nossa imaginação.

      Olha, Neon Demon é bem bizarrão mas vale, viu? Pelo menos como experiência visual. =]

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