Mais um ano e eu aqui, meio zumbi comentando a cerimônia do Oscar. Tem uns anos que é mais puxado, as este até que estava divertido – nem tanto pelas piadas do Chris Rock e demais apresentadores, é só que o twitter estava on fire mesmo. Senti que a cerimônia foi menos enrolada também, acho que foi o primeiro ano que chegou no bloco das categorias principais e eu até fui consultar minha folha para ver se tinha faltado alguma outra porque nem vi o tempo passar. Pode ter sido por causa da nova ordem de premiação (será que vão repetir ano que vem?), que começou com os roteiros, mas enfim, ficou mais dinâmico, não fiquei lutando contra o sono para assistir toda a cerimônia.
Do Cris Rock veio o monólogo de abertura já esperado, falando sobre a polêmica do #OSCARSOWHITE. O monólogo estava indo bem (“Is Hollywood racist? Hollywood is sorority racist. It’s like, We like you Rhonda, but you’re not a Kappa.”), dando algumas direto nas fuças mas aí esculhambou total lá no fim ao minimizar a polêmica do ano passado, o “ask her more”. Deu umas pisadas de bola mais para frente na cerimônia também (e, convenhamos, o negócio das escoteiras, ai que preguiça), mas no geral foi bem. Só que aí tem o outro problema…
… a culpa da Academia pela falta de indicação para atores negros, chegou um momento que já estava batendo na vergonha alheia. A piada do Chris Rock sobre aquela montagem inicial, de que ele contou pelo menos uns quinze negros ali – aliás, qual é da montagem mostrando um monte de filme que foi esnobado, foi uma tentativa de passar a mão na cabeça da galera? – já serviria para mostrar a tendência. Vários e vários prêmios apresentados por atores negros, muita homenagem, muito blablabla. E é isso, blablabla. A sensação que passou foi de que a todo momento quiseram falar “ei, não somos racistas, olha só, até chamamos esse pessoal para a festa”.
Vou repetir o que disse no twitter: não é na premiação que as coisas precisam mudar. O problema não é o Oscar, ou pelo menos não só o Oscar. É realmente difícil ter um equilíbrio nas indicações se não há na oferta de papéis. Papéis relevantes. Não chamar atriz negra só quando precisa de uma escrava e um ator negro quando precisam de um melhor amigo desbocado para o protagonista branco. O melhor exemplo de como lidar com essa questão: Perdido em Marte (um dos mais bacanas do Oscar que infelizmente ficou sem prêmio) tem o Chiwetel Ejiofor como um cientista da Nasa. Enfim, não são prêmios, são oportunidades. É o que Violão já tinha dito no discurso do Emmy (e por favor, deem um papel no cinema para Violão).
Amém.
Então, sobre os premiados em si, poucas surpresas (meio como tem acontecido há algum tempo). A Ana Maria Bahiana comentou algo no Facebook que chamou minha atenção: ao especularem chances, será que no final das contas as pessoas já não estão meio que induzindo pessoas que nem viram o filme a votar em determinados artistas? Mais ou menos quando você escolhe Son of Saul para melhor filme estrangeiro no bolão, mas só porque estão dizendo que tem chances, não porque você tenha realmente assistido e gostado?
Porque todas as surpresas desse ano eram minhas segundas opções. E não por torcida, eram segundas opções baseadas justamente nos comentários, nos prêmios dos sindicatos, etc. “Ninguém esperava que o Mark Rylance ganhasse coadjuvante!”, bom, é verdade, estavam dando quase como certo o Stallone. Mas várias listas apontavam o Rylance como segunda opção. O mesmo para Efeitos Visuais para Ex-Machina (ieeeeei, pelo menos um <3) e melhor filme para Spotlight.
(O fato de ser bem cotado para ganhar não quer dizer que eu tenha ficado feliz. Acho mega incoerente um filme que leva só mais outro Oscar ser escolhido como melhor. Nenhuma atuação? Nem o diretor? Só o roteiro bastou, é isso? Achava que a coisa deveria ter ficado entre O Regresso e Mad Max.)
Ah, não, péra. Teve uma zebra bem horrível. Lady Gaga vai lá, faz todo mundo chorar com aquela apresentação (segundo ano seguido, minha gente) e aí a pior música acaba levando? E o Sam Smith ainda cometeu uma gafe no discurso né. Apesar das boas intenções ao dedicar à comunidade LGBT, ele falou qualquer coisa sobre nenhum artista abertamente gay ganhar o Oscar e uepa, já teve sim. Mas detalhes, né?
Mad Max ganhou um monte de prêmio nas categorias técnicas, e o mais bacana de notar é que tinha MUITA mulher no meio. Que negócio bacana. Mas que coisa horrível a reação desse pessoal aqui quando a Jenny Beavan estava indo para o palco:
Obsessed with all these famous people on the aisle refusing to clap for an #oscars winner. https://t.co/ideciyQNuh
— Dalton Ross (@DaltonRoss) February 29, 2016
Dos discursos, chamou minha atenção o Adam McKay ao receber o prêmio por roteiro adaptado (por A Grande Aposta): “Big money is taking over our government, and until right and left goes, no more big money. It has to be like a scarlet letter on these candidates. So I really honestly did not mean either side, but like Google it. Just Google it. You can see what the candidates have been paid, and when you elect people that get money from banks and oil and weirdo billionaires, that’s who they vote for.“. O comentário do Louis C K antes de entregar o melhor curta de documentário também vale a menção: “This is documentary short film; you cannot make a dime on this. These people will never be rich as long as they live. These people all they got is this Oscar, is going home in a Honda Civic.“. Mas convenhamos, nenhum extraordinário que fosse arrancar lágrimas ou aplausos como nos anos anteriores. Para quem gosta disso, o Hollywood Reporter fez uma seleção das melhores falas da noite.
E então tem as categorias de atuação, já comentei o Rylance (ninguém esperava, mas ao mesmo tempo era a segunda opção) e das atrizes acabou dando o esperado, Vikander para coadjuvante (fechei os olhos e sonhei que era por Ex-Machina, não A Garota Dinamarquesa hahaha) e a Brie Larson por O Quarto de Jack que olha, realmente causou um efeito em mim: até naqueles clipezinhos rápidos durante a cerimônia eu via umas cenas e já dava vontade de chorar. E para melhor ator, nenhuma surpresa.
E acho que é isso. A grande injustiça foi canção original, a grande incoerência foi Spotlight como melhor filme e o campeão moral (hehe) da noite foi Mad Max com seis Oscar nas categorias técnicas. Lista dos vencedores (em negrito e vermelho) para você que foi dormir mais cedo:
Melhor filme
“A grande aposta”
“Ponte dos espiões”
“Brooklyn”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“Perdido em Marte”
“O regresso”
“O quarto de Jack”
“Spotlight: Segredos revelados“
Melhor ator
Bryan Cranston (“Trumbo”)
Matt Damon (“Perdido em Marte”)
Leonardo DiCaprio (“O regresso”)
Michael Fassbender (“Steve Jobs”)
Eddie Redmayne (“A garota dinamarquesa”
Melhor atriz
Cate Blanchett (“Carol”)
Brie Larson (“O quarto de Jack”)
Jennifer Lawrence (“Joy”)
Charlotte Rampling (“45 anos”)
Saoirse Ronan (“Brooklyn”)
Melhor diretor
Alejandro G. Iñárritu (“O regresso”)
Tom McCarthy (“Spotlight: Segredos revelados”)
George Miller (“Mad Max: Estrada da fúria”)
Adam McKay (“A grande aposta”)
Lenny Abrahamson (“O quarto de Jack”)
Melhor canção original
“Earned it”, The Weeknd (“Cinquenta tons de cinza”)
“Manta Ray”, J. Ralph & Antony (“Racing extinction”)
“Simple song #3”, Sumi Jo e Viktoria Mullova (“Youth”)
“Writing’s on the wall”, Sam Smith (“007 contra Spectre”)
“Til it happens to you”, Lady Gaga (“The hunting ground”)
Melhor trilha sonora
“Ponte dos espiões”
“Carol”
“Os 8 odiados”
“Sicario”
“Star Wars: O despertar da força”
Melhor filme estrangeiro
“O abraço da serpente” (Colômbia)
“Cinco graças” (França)
“O filho de Saul” (Hungria)
“O lobo do deserto” (Jordânia)
“Guerra” (Dinamarca)
Melhor curta de live action
“Ave Maria”
“Day one”
“Everything will be okay (Alles Wird Gut)”
“Shok”
“Stutterer”
Melhor documentário
“Amy”
“Cartel Land”
“The look of silence”
“What happened, Miss Simone?”
“Winter on fire: Ukraine’s Fight for Freedom”
Melhor documentário de curta-metragem
“Body team 12”
“Chau, beyond the lines”
“Claude Lanzmann: Spectres of the Shoah”
“A Girl in the River: The Price of forgiveness”
“Last day of freedom”
Melhor ator coadjuvante
Christian Bale (“A grande aposta”)
Tom Hardy (“O regresso”)
Mark Ruffalo (“Spotlight: Segredos revelados”)
Mark Rylance (“Ponte dos espiões”)
Sylvester Stallone (“Creed”)
Melhor animação
“Anomalisa”
“O menino e o mundo”
“Divertida mente”
“Shaun, o carneiro”
“As memórias de Marnie”
Melhor curta de animação
“Bear Story”
“Prologue”
“Sanjay’s Super Team”
“We can’t live without Cosmos”
“World of tomorrow”
Melhores efeitos visuais
“Ex Machina”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“Perdido em Marte”
“O regresso”
“Star Wars: O despertar da força”
Melhor mixagem de som
“Ponte dos espiões”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“Perdido em Marte”
“O regresso”
“Star Wars: O despertar da força”
Melhor edição de som
“Mad Max: Estrada da fúria”
“Perdido em Marte”
“O regresso”
“Sicario”
“Star Wars: O despertar da força”
Melhor montagem
“A grande aposta”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“O regresso”
“Spotlight: Segredos revelados”
“Star Wars: O despertar da força”
Melhor fotografia
“Carol”
“Os oito odiados”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“O regresso”
“Sicario”
Melhor cabelo e maquiagem
“Mad Max: Estrada da fúria”
“The 100-year-old man who climbed out the window and disappeared”
“O regresso”
Melhor design de produção
“Ponte dos espiões”
“A garota dinamarquesa”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“Perdido em Marte”
“O regresso”
Melhor figurino
“Carol”
“Cinderela”
“A garota dinamarquesa”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“O regresso”
Melhor atriz coadjuvante
Jennifer Jason Leigh (“Os 8 odiados”)
Rooney Mara (“Carol”)
Rachel McAdams (“Spotlight: Segredos revelados”)
Alicia Vikander (“A garota dinamarquesa”)
Kate Winslet (“Steve Jobs”)
Melhor roteiro adaptado
“A grande aposta”
“Brooklyn”
“Carol”
“Perdido em Marte”
“O quarto de Jack”
Melhor roteiro original
“Ponte dos espiões”
“Ex Machina”
“Divertida mente”
“Spotlight – Segredos revelados”
“Straight Outta Compton”
E agora lá vou eu começar o dia morta de sono.