Lançado por aqui pela Seguinte, o livro entrou no meu radar por causa da capa (essa que ilustra o post). É, a capa. Achei tão colorida, tão linda, e aqueles bloquinhos do kit pequeno engenheiro, que nostálgico! Enfim, parecia cute, e depois da paulada que foi The First Bad Man eu estava precisando de algo assim e lá fui eu.
E eu comecei a ler sem saber muito bem sobre o que seria o livro, mas convenhamos, não existiriam perfis no twitter como o Brooding YA Hero se alguns temas e personagens não se repetissem tanto nos livros YA, mesmo a MPM (maldição da protagonista mala) é bem comum. Talvez por causa disso eu estivesse meio cansada desses livros? Bem, só sei que aí chega o Finch, que olha, tem um tanto do Brooding YA Hero, mas caramba, como é gostoso de ler a história do ponto de vista dele.
Finch é um guri genial, mas meio obcecado com suicídio, e logo fica evidente que não está bem. Ele detesta rótulos, portanto quando alguém chega com a etiqueta “transtorno bipolar”, lógico que ele nega e surta. Mas enfim, não pense em Finch como aquele carinha simples de decodificar.
Um dia, no alto do telhado da escola, ele conhece Violet Markey que sobe decidida a se suicidar. Ele a salva, mas por ter a fama de “esquisito” do colégio, todo mundo aceita facilmente a versão que contam ao sair dali, dizendo que ocorreu o contrário: ele se mataria caso Violet não aparecesse.
Independente disso, fica óbvio no que a história se sustentará: ambos se salvaram naquele dia no telhado, e por conta da experiência, mais um trabalho em dupla solicitado pelo professor de Geografia, acabam se aproximando e se apaixonando.
Eu sei que até agora tudo o que descrevi parece justamente o mais do mesmo do qual falava inicialmente sobre YA, e não nego que seja: pelo menos até a metade você tem ali o romance dos improváveis (o esquisito e a guria popular), nada que mesmo Hollywood já não tenha repetido exaustivamente.
Só que ao ter coragem de se agarrar não ao romance de Finch e Violet, mas ao sofrimento de Finch, que Por Lugares Incríveis me conquistou e, na minha opinião, se diferencia (ahn, spoilers a partir daqui?).
Como já mencionado, Finch sofre de transtorno bipolar. Eu sei que hoje em dia junto com o autismo todo mundo acha graça de se dizer bipolar para se definir como inconstante, mas se tem algo que já vale a pena nesse livro é justamente lembrar às pessoas que dizem “ai, sou bipolar”, que isso não é engraçadinho, nem tão pouco tem a ver com o fato de hoje você adorar dias frios e amanhã odiar.
Conhecemos Finch quando acaba de sair da fase depressiva, entrando na fase maníaca. Esse momento se prolonga por conta da aproximação de Violet, então vamos vendo o melhor dele, a impulsividade marcando suas ações, sempre daquelas que partem de uma pessoa desesperada para deixar logo uma marca, para ser sempre lembrada.
Então quando ele começa a se aproximar da fase depressiva novamente, o leitor teve a oportunidade de conhecê-lo tal como Violet conheceu, um guri que consegue tirar o melhor de algumas situações, que aparentemente parece tão apaixonado pela vida (apesar do interesse mórbido pelo suicídio) que consegue fazer com que Violet supere a morte da irmã mais velha.
E o que aumenta a agonia do leitor é que Jennifer Niven começa a colocar uma série de pequenos encontros/situações que marcam o pedido de socorro de Finch – mas só quem está lendo consegue reconhecer como tal, as demais personagens se perdem com a mentira que o garoto contava para todos para tentar se proteger de mais bullying.
Ah, sim, porque tem isso. Não basta sofrer de transtorno bipolar, ele também tem que lidar com esse problema. Ao contar para um amigo o modo como se sentia na fase depressiva, passou a ser classificado por todos na escola como freak, e tratado como tal. Apesar de alguns conhecidos, não tem amigos de verdade, e o que aparentemente ele mais gosta na relação com Violet é justamente o fato de ela ser acima de tudo uma amiga.
Enfim, vamos chegando aos momentos finais com o suicídio de Finch, e o efeito disso em Violet. Confesso que até o suicídio não gostava muito dos capítulos narrados pela menina, mas parece que a morte do namorado causa uma transformação, e se você de repente chega em um momento:
É muito mais por causa do que Violet está sentindo do que pela morte de Finch em si. Sim, eu sei, mesmo história de casal separado pela morte também não é novidade, mas o que dói aqui é que era uma morte que poderia ser evitada. Não é uma questão de apontar o dedo e culpar, mas de como uma série de fatores em nossas vidas pessoais podem afetar terceiros ou abalar a confiança de alguém que realmente precise da nossa ajuda.
Essa noção vem como um verdadeiro tapa na cara, porque embora seja ficção, não é o tipo de coisa impossível de acontecer (ok, talvez alguém considerado “freak” pelos colegas que ao mesmo tempo tenha fama de pegar geral seja algo meio raro, mas deu para entender o que quis dizer, certo?).
Então no final é aquela coisa: independente de ser YA ou não, é uma história que vale a leitura nem que seja pela reflexão de quão atentos ao próximo nós estamos. Não, não vou entrar no “ai, só olha para a tela do celular”. Umbiguismo não é fruto só da geração smartphone.
Em tempo, já que falei de adultos lendo YA, dois links aqui sobre o assunto: “Why are so many adults reading YA and teen fiction?” no Guardian, e o meu favorito, “A Conversation with Jonathan Franzen“. Embora eu discorde bastante da noção dele de “simplicidade moral” (vide o caso de Por Lugares Incríveis), esse trecho da entrevista é simplesmente impagável:
SL: There’s been heated discussion lately about the uptick of adults who read literature written for young adults. Recently in Slate, the journalist Ruth Graham declared that adults should be embarrassed if what they are reading was written for children, and that it would be a shame if readers substituted “maudlin teen drama” for the complexity of great adult literature. What are your thoughts?
JF: I don’t care what people read.
SL: You have no opinion on the question of whether or not readers might be cheating themselves if they’re reading YA lit?
JF: If it’s a loss, it’s their loss, not mine.
Créditos da montagem: http://wildyoungunderwhimsy.blogspot.com.br/2014/01/the-year-in-five-minute-photoshop.html
OMG morri com a foto do gato huahuahua
~~~~~~~~~~~Comentário com SPOILER !!!~~~~~~~~~~~~~~~
eu adorei esse livro e me surpreendeu, não esperava muita coisa.. mas, a mensagem como ela passada é muito legal, nem a mãe do Finch sabia como era o quarto dele e não tinham nenhuma conversa aberta
não é a toa o desespero do Finch lidar com o transtorno bipolar o qual as pessoas não dão muita importância, acham que é frescura ou esquisito – ah o cara é a Aberração.. como a autora disse na sua nota no final do livro, muitos casos deixam de ser diagnosticados e ela até conta que é uma “suicida sobrevivente” e como é difícil lidar com isso (nunca tinha pensado sobre isso) depois que o Finch se matou (eu ñ esperava (!) fiquei louca nessa parte 🙁 ) achei a Violeta muito corajosa em lidar com toda essa situação,deu até suporte a mãe do Finch e terminou o projeto de Geografia. Este que achei sensacional a ideia da JN,legal as narrações dos lugares q iam visitando =D
a minha vontade foi sair por aí para conhecer lugares diferentes hehe
tb gosto de ler YA de vez em qdo, eu tb li “Mentirosos” que não gostei =/ e terminei ontem ” Eleanor e Park” o final desse livro blergh… muita raiva afff e tb ñ gostei hehe tem umas partes legalzinhas só que não rola empatia e umas partes muito forçadas, a menina chegava a usar isca de pesca como penduricalho no cabelo o.O
Gostei da tua resenha e tb foi muito bom ler “Por lugares incríveis” =D
Há YA legal ainda o/
Nuss, sério que você não gostou de Eleanor & Park? É a primeira pessoa que conheço que não curtiu. Assim, não acho que ninguém é obrigado a adorar algo só porque geral adora (Os Mentirosos eu achei meh também, e tem um povo que adora), mas nossa, fiquei surpresa de qualquer forma O_o
hhehehe pois é, acho que eu me empolguei demais com algumas opiniões que li e esperei demais do livro =/
pq realmente o pessoal gostou, a parte da troca dos gibis foi o que eu mais gostei hehehe e o final que eu fiquei mais revoltada hehe
eu fiquei bem deslocada por não entender pq o povo gostou tanto do livro xD
li que teve gente chorando com o final de Mentirosos e eu dei graças de terminar, é bem louco essas coisas ~.~
Não sei pq leio YA, mas nada nunca me fez pensar ohhh, acho que não é meu tipo, mas tampouco odeio
Acabei de “devorar” Por lugares Incríveis e sai em busca de posts/resenhas em blogs que falassem sobre a história e sobre a mensagem que ela transmite (e que mensagem hein?!). Acabei encontrando a sua resenha sobre o livro, e eu, definitivamente, amei. É incrível como a doença passa despercebida pelas pessoas — nem todas, ok? —, nem mesmo a mãe de Theodore percebeu e gosto do jeito que Violet, ou Ultravioleta, suportou/conseguiu enfrentar a dor de perder mais uma pessoa. Também acho que a morte do Finch poderia ser evitada, se as pessoas prestasse mais atenção em quem está na sua volta e pudesse ver a dor alheia, coisas como essa (não sei nem oq falar sobre esse problema tão comum) não aconteceriam constantemente.
vim ler seu comentário, reli o post e que saudades que deu do livro! acho que nesses momentos que percebo como uma leitura me marcou, quando penso nas personagens quase como se fossem amigos distantes.
(obrigada pelas palavras <3 )
estou terminando de ler o livro (que só vim descobrir agora). estou nos capítulos finais ~ spoiler alert ~ logo após a morte do Finch, e, confesso que estou tentando me recuperar para concluir a leitura. eu tinha receio de que acontecesse, mas o seu suicídio é chocante e tão, tão triste. acho que o que torna tudo mais duro é perceber a angústia do Theodore no desenrolar de toda história, e como ele precisava tanto de ajuda. como foi dito acima, bipolaridade não é brincadeira e muito menos uma banalidade. a morte do Finch poderia ter sido evitada mas não foi. e infelizmente isto reflete tanto a realidade. no final todos choram e lamentam pela vida que se foi, quando todos os sinais passam despercebidos – e alguns até contribuem para o fim trágico. de novo: não é sobre quem é o culpado, mas é sobre o que está ao alcance hoje. comecei e estou terminando o livro pensando em como Theodore Finch é genial, único e complexo e como gostaria de ser sua amiga, haha. talvez seja um de meus personagens favoritos. devíamos ter um olhar mais atento aos Finch’s da vida real.
Uma coisa que eu acho bem admirável sobre o livro é que meu post de 2015 continua tendo visitação. Meu coração se enche de esperanças que mais e mais pessoas leiam e consigam tirar dele alguma coisa para a própria vida.
(Finch é muito amor <3 )
Obrigada pelo comentário 😉