O bom e velho post com um breve comentário sobre livros que li mas dos quais não falei aqui.
A proposta é bem maluca e o desenvolvimento mais ainda: um cara saudável (Steve) é diagnosticado com uma doença que lhe dá poucos dias de vida. Detalhe é que mal avançamos na leitura e ficamos sabendo que o que o que Steve tem é meio que o que todos nós temos: a certeza de que morreremos eventualmente já que estamos vivos.
Boa parte das melhores piadas saem disso, mas a metralhadora do Lipsyte dispara para todo lado da nossa vida “moderna” e todas as maluquices inclusas no pacote. Em um outro post já tinha comentado um tico dele aqui, dizendo que “é um livro com bons momentos mas que não mexeu comigo o suficiente para sentar aqui e escrever sobre ele. Basta dizer que tem uma pitada de Tibor Fischer (alou, Sol!), que tem uma ideia bem sacada só que em determinado momento ele começa a se repetir tanto, tanto, que cansa. Seria uma novela excelente, e é um romance mediano“.
“Was I living?” I said.
“Wow”, said Desmond. “Don’t talk. Don’t say another thing. Those should be your last words. Mythic, man. I knew you had style.”
Seguindo aquela característica peculiar das crônicas, mesmo falando de algo bem específico (como os primeiros textos descrevendo a rotina de Mandaqui), ainda assim consegue falar para o leitor que desconheça o que está lendo ali. É através do corriqueiro que a familiaridade se estabelece: conversas ao celular no ônibus, a veja fora do plástico ou detalhes da vida a dois.
Tem ainda o senso de humor, afiadíssimo e que rende boas risadas (eu não sei sobre você, mas meço o nível de graça num livro quando dou risada MESMO, rindo alto, e não aquele riso meio contido de “opa, vão pensar que estou maluca aqui”). Tem coisa que parece que fica ainda mais engraçada por ser uma menção a algo presente em texto anterior (como as tartarugas, por exemplo) – meio que a autora não precisa explicar, a gente já lembra de outra parte da leitura o que ela quer dizer com aquilo.
Gostei bastante e recomendo especialmente para quem entrou em fase de ressaca literária, ou que não está podendo se dedicar muito a alguma leitura: como as crônicas são curtinhas, você começa e termina bem rápido, sem aquela aflição de capítulo inacabado que leitura de romance às vezes dá (só eu que tenho essa aflição?).
Pessoas vão embora e, na partilha extrajudicial, ficamos com os restos.
De qualquer modo, na parte das ideias: ô loco. É uma pancada. E tão atual, quase que como crônica em verso – foi até curioso ter começado a leitura logo após O Louco de Palestra. Mas pense em um texto bem ácido, daqueles de enfiar o dedo na ferida mesmo. O útero do título meio que já canta a bola, o tema principal (e não o único, vale ressaltar) é a mulher. Mas não a mulher perfeita e idealizada dos poetas românticos, é a mulher e ponto.
Aliás, para quem pensa que poesia é só coisa fofa (sei lá, né, vai que exista gente assim), está aí uma boa leitura. Remédio também para sujeito que usa termos como “feminazi” para falar de mulheres, fica a dica.
não queria fazer uma leitura
equivocada
mas todas as leituras de poesia
são equivocadas.
Enfim, o lance é que a Laurel sofre daquela maldição bem conhecida dos YA a MPM (maldição da protagonista mala), e é tão difícil se envolver com o que ela está contando, que talvez o que mais tenha me prendido à leitura foi tentar saber o que diabos aconteceu com a irmã dela.
Para piorar, as cartas parecem seguir sempre o mesmo esquema, com um comentário sobre algo da biografia do defunto famoso com o qual Laurel acabe se identificando. Mas assim, nada que você provavelmente já não saiba, então tem que resistir ao desejo incontrolável de pular aqueles parágrafos e seguir em frente.
Vi alguém dizendo que é parecido com As Vantagens de Ser Invisível e o que tenho a dizer é que NÃO, não é parecido. As Vantagens é gostoso de ler, esse foi uma tortura.
(não tem citação porque né)
Mara foge do hospital onde estava internada em busca de respostas sobre seu “poder” e todo o esquema envolvendo as pesquisas com pessoas como ela, mas está principalmente procurando por Noah. Hmkay. Pontos favoráveis para Hodkin por a) conseguir criar momentos de real terror e b) não ficar de melação com o Noah, deixando que o casal só se reunisse novamente num momento bem avançado da leitura.
Fora isso olha, foi puxado. A cada explicação de gene não sei das quantas, o passado da avó de Mara e afins não tinha como deixar de pensar “precisava mesmo dessas explicações?”. Eles têm uma modificação genética, pronto. Toca em frente, faz umas cenas tipo a Mara tirando o negocinho da barriga e o livro ficaria ótimo. Mas parece que tem muito mais explicações do que cenas assim, e no final a trilogia meio que confirma o que já suspeitava: poderia ter sido um livro só.
(também não tem citação, mas o Jamie é cheio das sacadas nérdicas então fica aí o joinha para ele)
A narrativa é bastante fragmentada e o foco vai saltando de uma personagem para outra, brincando um pouco com aquilo que sempre comento por aqui sobre como uma história pode ser mil histórias diferentes, dependendo de quem está contando. Isso acontece especialmente com Kitty, a estranha que aceita a gentileza daquela família de passar os dias na casa e que aos poucos vamos descobrindo que tinha outras intenções por ali que não esperar até ter quarto disponível em algum hotel da região.
Funciona, e funciona especialmente pelo desfecho, bem triste mas não um triste piegas, é comovente – e eu sinceramente não esperava. Não é um plot twist, não entenda errado. É algo que no final das contas já está anunciado desde o começo.
Eu sei o que você está pensando. A vida só é digna de ser vivida porque temos esperança de que vai melhorar e de que vamos chegar em casa sãos e salvos.