Você se acostuma a não terminar nada. Por exemplo, o bebê está olhando fixo para uma bola vermelha. Você está na pia lavando uns rabanetes bem grandes. O bebê começa a se agitar quando você acabou de lavar quatro e ainda faltam oito.
O que significa que comecei este post já achando que não vou terminá-lo. Ou que escreverei aos poucos, em pedacinhos. Essa coisa de escrever aos poucos lembra uma história que contam sobre a carta que o Wilde escreveu para o Bosie enquanto estava na cadeia (sim, a que virou o De Profundis), que ele recebia uma quantidade limitada de papel e que tudo que ele escrevia era recolhido no fim do dia, mas mesmo assim ele conseguia manter a coesão do texto, começando um novo trecho da carta no papel novo exatamente onde tinha parado no dia anterior. Moral da história: não sou Oscar Wilde, então espera um post meio sem sentido.
Era super legal, mas eu não salvei e perdi, então vou ficar devendo, fuéém. Raquel achou o link para mim: aqui), na realidade me interessei por The Quick, mas acabei começando esse porque foi bem na semana do nascimento do Augusto e queria algo leve, em todos os sentidos (inclusive em número de páginas).
Bom, ele não é exatamente leve. Ou pelo menos não começa leve. Dizem por aí que é justamente o charme dele, ser uma história de amor ao contrário, começando com o pé na bunda. Richard Haddon é um artista inglês com um casamento em crise: a esposa acaba de descobrir que ele a estava traindo há algum tempo. Esse primeiro pedaço, em que ele pensa porque diabos se envolveu com outra mulher, e mesmo quando descreve o primeiro momento da separação é bem pesado, mas depois o livro vai ganhando tintas de comédia romântica, envolvendo até situações inusitadas como um casal amante de arte bem esquistão.
Aliás, comédia romântica é um bom termo para definir, então o melhor é ler esperando dele o mesmo que esperaria vendo um filme do gênero. Assim, é um livro bacaninha, mas não vejo nada nele que garanta um lugar na lista de mais lidos nem nada. Passava fácil sem ele.
A história se concentrará na amizade de Bea (a Garota Robô) e Jonah (o Garoto Fantasma) que começa principalmente por causa de um programa de rádio que passa durante a madrugada, no qual vários ouvintes participam comentando os fatos mais aleatórios. Aqui preciso dizer que talvez o que tenha me atraído tenha sido uma leve familiaridade com essa questão do grupo formado por pessoas bastante diferentes que acaba se formando por causa do tal do programa. Lembrei dos tempos de chat do UOL e da “Galera Cool” e dos amigos que fiz lá. Sim, meios completamente diferentes, mas o princípio era o mesmo, no fim das contas. Incluindo as madrugadas sem dormir e as manhãs dominadas pelo sono.
É um YA bem diferente, que foge um tanto das fórmulas que se sustentam basicamente na protagonista conquistando o-amor-da-vida-daquele-momento. Mas sugiro fortemente que se você for começar a ler, o faça em um momento bem bom da sua vida porque ó, é deprê mesmo.
Tem livro que você não sabe explicar o que foi te atraiu tanto. Às vezes acho que estamos simplesmente no momento certo para aquela obra, e aí nem é muito sobre como foi escrito, mas o que foi escrito. Eu achava de verdade que o que estava me encantando em Dept. of Speculation eram os trechos em que a narradora falava sobre a filha, mas depois a menina cresce e o livro continuou prendendo minha atenção. Citei a Lydia Davis no começo e olha, segue um pouco por essa linha, dos pequenos recortes de cotidiano. Mas ao contrário da Davis que faz microcontos, o livro de Offill segue alinhavado como um romance marcado pelo fluxo de consciência.
Queria de verdade ter escrito um post só sobre ele, inclusive para pirar um pouco sobre uma teoria que tenho aqui. Falando brevemente: no fim ela fala de um texto que o marido escreveu e colocou no meio das redações dos alunos. Pensei nisso e no fato de que há um momento da história em que a narração sai da primeira pessoa para a terceira, e fiquei cá com a impressão de que nessa parte temos um segundo narrador-personagem, o marido. E aaargh me mata quando leio um livro e quero falar dele com as pessoas mas ninguém que conheço leu ainda. Assim, ó:
Viu, valia a pena um post só sobre ele. E vale a pena ler. Pode ser que tenha significado muito só para mim, pode ser que você leia e pense que ainda estou com meus hormônios desregulados e não faço ideia do que estou falando, mas de qualquer forma eu acabo recomendando nem que seja pelo motivo para lá de egoísta de ter outra pessoa com quem falar sobre ele, nem que seja para ouvir um “Credo, é ruim, Anica.”.
Eu acharei que teria uma pegada parecida com A Vida do Livreiro A.J. Fikry, falando do amor das pessoas pelos livros, mas apesar de também mostrar como cada um dos membros da sociedade se relaciona com a Literatura, a proposta aqui pareceu mais falar sobre como a guerra afetou aquelas pessoas. É um romance epistolar, e quem unifica as cartas (ou ainda, quem as recebe e envia) é uma escritora chamada Juliet Ashton, que estava sem ideia para seu próximo livro (de novo isso??) e acabou encontrando nos habitantes de Guernsey material de sobra para um novo romance.
Gostei do livro, as histórias sobre a guerra são tocantes porque são aqueles pequenos retratos de como o que temos de melhor pode surgir mesmo nos momentos mais negros de nossa história. Mas para livro que fale das guerras eu ainda sugiro Harry August e para livro sobre amantes da literatura ainda fico com o A.J. Fikry.
E de fato, é bem fofo. A protagonista é uma personagem que aparece rapidamente no primeiro livro, Isla, que depois de ano embalando uma paixão platônica por Josh finalmente tem uma chance de ficar com o garoto. É tudo tão bonitinho que acho que conflito meeeeesmo só surge lá pelos 70% do livro, antes disso são algumas dificuldades entre os dois ma who cares, eles se amam e blablabla.
Mas assim, foi bacaninha. E a experiência de ver protagonistas como personagens secundários foi interessante – dá algo para se pensar sobre possibilidades de narrativas. Não, não fez falta ler o Lola e qualquer coisa que agora não lembro, mas acho que ler Anna e o Beijo Francês antes é necessário, até para entender o funcionamento da escola das meninas em Paris (e ver um pouco de Josh com outros olhos que não os de Isla).
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E é isso. Eu sei que ninguém chega até o fim de um post comprido (assim como eu provavelmente não chegarei até o fim de Os Luminares que comecei tem uns dias aí, há!), mas para quem chegou aqui, lê em inglês e gosta de ler textos sobre e-books (uou, isso é bem específico), vou sugerir um post do Chuck Wendig que li hoje cedo e é simplesmente perfeito, sobre o preço dos e-books: What Is An E-Book Worth?
Por muito tempo fui da turma que acreditava que se uma editora não tinha despesa com papel, impressão e afins nada justificaria o preço de um e-book ser muito próximo do livro impresso, hoje em dia já tenho uma opinião um tanto diferente, e esse post do Wendig vai de acordo com o que penso no momento. Vale a leitura, e aliás, se você ainda não acompanha o blog do Wendig, deveria começar, porque esse cara é genial.
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* Domingão Leminski faria 70 anos, então achei bacana fazer a homenagem com uma citação no título. De um dos meus poemas favoritos, que já até coloquei aqui no Hellfire mas wth, não é como se eu tivesse um limite de caracteres por aqui então lá vai de novo:
ICEBERG
Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.
Anica, eu estava ansiosa pra saber suas opiniões sobre alguns dos livros citados, mas obviamente a gente entende esse momento gracinha da sua vida <3
Obrigada pela dica do Chuck Wendig :DD
Beijoca :**
O Wendig é muito legal! E ele fala muito para quem está começando a escrever, só que ele faz de um jeito bem leve e engraçado. Vale a pena seguir no twitter também >> https://twitter.com/ChuckWendig =]
beijos e obrigada pelo link :*****
A imagem no meio do post descreve o que ocorreu comigo ao acabar o livro da Ali Smith. É isso!
Que bom que cê ~curtiu~ o livro do robô (acho complicado usar o verbo pra algo deprê, assim como nunca “curto” post de gente que postou algo triste)!
Achei massa o que fizeram com as capas novas dos livros da Stephanie Perkins. Menos específicas quanto ao público.
Meu irmão vai começar a ler o Toda Poesia, do Leminski. <3
Ah, e também detesto isso de não saber se o livro é bom mesmo ou se me pegou num momento sensível (não posso pôr a culpa nos hormônios (ou será que posso?), mas às vezes ponho a culpa da minha reação emocional no sono que não tenho tido muito; daí penso: é emocionante mesmo ou eu só tô com sono?). Por isso é massa estar nas redes sociais de livro, com ozamigo mandando a real e dando estrelinhas etc. (Queria que mais gente fizesse review de cabeça quente pra gente saber exatamente como a pessoa estava ao terminar o livro. Eu só faço assim no Goodreads.)
Anotadas as dicas.
você me deixou mega curiosa sobre esse livro, vou acabar abandonando os luminares (de novo, hahahaha) para começar esse =F
eu gostei, acho que era o tom que a autora daquele livro do bolo de limão queria chegar mas não conseguiu (lembra dele?). e entendo o que você quer dizer sobre o curtir. nunca entendi gente curtindo notícia de morte de celebridade, por exemplo.
e o livro está bem caprichadinho também. gosto muito do cuidado que estão tendo com ebooks, deixando de ser um mero “ok, tá aqui o texto”. está crescendo a preocupação com formatação, e as editoras parecem estar explorando melhor as possibilidades (por exemplo: cada capítulo do isla tem uma rosinha no começo. é bem bobo, mas é bonitinho, mostra o cuidado, sabe como?).
Você viu que linda a caixa? Se eu já não tivesse o Toda Poesia e o Vida eu comprava a caixa agora, achei que ficou muito legal o preto em contraste com as cores berrantes das capas.
vou começar a usar o goodreads assim, nem que seja só para marcar as estrelas hahaha
Pfvr. No máximo três dias depois você retoma a Catton (e, nesse meio tempo, vai deixar um bloguêro feliz!). XD
Interessante cê citar isso, porque TIVE que falar do livro do robô quando resenhei o livro da Bender: http://www.posfacio.com.br/2013/08/15/resenha-a-peculiar-tristeza-guardada-num-bolo-de-limao-aimee-bender/
Adoro quando os e-books têm desenhinhos no meio. Só não gosto quando eles não ampliam quando aumentamos a letra. rs Tem isso no “A terra inteira e o céu infinito”, de Ruth Ozeki, um baita livrinho bom.
Eu não tenho o Vida ainda, mas tô me segurando nas compras. Mas, bah, ficou mó bonita a caixa!
Goodreads é massa. É rede SOCIAL mesmo. Sempre que saio do fb, gasto mais tempo lá e, ó, não me arrependo nem um pouquinho. Talvez seja só eu, mas eu gosto de comentar nas leituras dos outros etc.