No qual eu finalmente atualizo o blog


Quase três semanas sem atualizar, acabou que até o aniversário de 11 anos do Hellfire passou batido e eu acabei de clicar em “Justificar” e pensei como seria legal se ao clicar nesse botão aparecesse uma justificativa automática, mas divago. O fato é que desde que o Hellfire é Hellfire eu sempre tive problemas para escrever enquanto minha cabeça estava em outro lugar. No momento só penso no Augusto, nos últimos detalhes que faltam para a chegada dele. Então sento aqui, penso em como preciso dizer que O Grande Hotel Budapeste é lindo, falar mais um pouco sobre Penny Dreadful ou sobre os livros que estou lendo e bem, como deve ter dado para reparar, o rascunho vai para a lixeira ou nem existe. Mããããs…

… eu preciso deixar anotado aqui uma coisa ou outra sobre os livros. Aquela história que vivo dizendo: não confio muito na minha memória. Tenho uma tendência horrível de achar tudo muito melhor ou muito pior do que realmente achei depois de um tempo. Com o registro, pelo menos a opinião de quando li algo não se perde. Acho.  Então é isso, atualizando agora com umas rapidinhas sobre as leituras da metade de junho para cá.

(Se você pensar bem, parei de atualizar tão logo começou a Copa. Será que estou usando Augusto de desculpa para minha sem-vergonhice? Pior que nem tem como saber: é provável que o guri chegue bem na final)

The End of the Story (Lydia Davis): Eu fiquei sabendo desse livro na tal da lista de 10 romances para superar uma separação (dessa mesma lista conheci o ótimo Important Artifacts and Personal Property From The Collection of Lenore Doolan and Harold Morris, Including Books, Street Fashion, And Jewelry de Leanne Shapton), mas na época ele ainda não tinha versão para e-book e vá lá, com tanto livro para ler, acabei pensando “ok, fica para outra”. Até que vi que chegou na Amazon e comprei. Confesso que me enrolei um pouco para falar sobre ele porque não é exatamente uma tarefa fácil, porque o livro não é fácil: é daqueles que passam uma falsa impressão de que nada acontece, o que pode acabar entediando rapidamente o leitor menos acostumado com narrativas nesse estilo. Sabe quando você escuta uma pessoa dizendo que um livro é ótimo e então você lê o livro e depois pensa “Manaonde que é ótimo?”. Pois é. Não quero soar arrogante, a coisa é só que não é um livro daquele tipo que agrada todo mundo. Não tem a ver com ser mais inteligente, ter gosto mais refinado nem nada, é só sobre o que você busca no momento em que começou a ler.

Sobre o livro: uma escritora vai narrando uma história de amor mal sucedida, começando pelo fim. O negócio é que aos poucos ela vai percebendo que não pode confiar na memória, já que pequenos eventos são esquecidos, impressões mudam, etc. Como deu para perceber, é BEM introspectivo.

The end of the story me encantou por dois motivos: o primeiro por ter aqueles momentos Lydia Davis tais como em Tipos de Perturbaçãocom aquele pequeno recorte do cotidiano mostrando algo tão profundo sobre nós mesmos. O segundo é que de certa forma, consegui ver na tentativa de narrar o passado uma aproximação muito grande do que nós mesmos fazemos ao pensar em nossas vidas (ou ainda, das nossas vidas propriamente ditas). Não só pela dificuldade de memorizar tudo o que vivemos depois – mas de como ao reconstruir nossas histórias o nosso julgamento sobre pessoas que fizeram parte dela muda completamente (porque já sabemos o “fim da história” com elas).

O negócio é que ele não é um livro simples. Se o tal do “recorte do cotidiano” pode agradar qualquer um com Tipos de Perturbação por ser apresentado de forma breve, com The end of the story o livro já fica para um tipo de leitor que não tem problemas com narrativas mais introspectivas, nas quais aparentemente nada acontece.

A Noite Devorou o Mundo (Pit Agarmen): Quem me falou sobre esse livro foi o Tuca, e em outro cenário eu provavelmente deixaria para ler depois porque olha, eu adoro histórias de zumbi (ah, ce jura?!), mas a verdade é que já estou meio sacuda delas. Mas Pit Agarmen é pseudônimo do Martin Page e putz, não resisto ao nome dele então tive que conferir.

Assim: é um livro de zumbis MESMO. Toda aquela coisa de “onde eu estava no dia um”, “atire na cabeça”, “roubando mercadinhos para sobreviver”, etc. A história se concentra em Paris, mais especificamente no bairro Pigalle, e o trabalho de ambientação é muito bom – eu consegui visualizar aquela cidade tomada por zumbis quase como se tivesse vivido lá (ou quase como se tivesse assistido a um filme).

Mas ao mesmo tempo em que ele segue estrutura e enredo típicos, podendo então ser “só mais um livro de zumbis”, A noite devorou o mundo tem também as famosas digressões de Page, aquela crítica ácida ao esquema em que nos prendemos quando nos tornamos adultos, nossas aflições sobre trabalho e solidão. De chegar um momento em que o narrador-protagonista pensa que o ataque zumbi o colocou numa posição melhor do que a que vivia (pelo menos em termos de moradia). Enfim, não é um Como me tornei estúpido, mas vale conferir.

O Evangelho de Barrabás (José Roberto Torero, Marcus Aurelius Pimenta): Já tinha lido aqui e acolá sobre o livro, junte aí o fato de que o Torero é roteirista de Pequeno Dicionário Amoroso, que eu adoro, e pronto. E olha, veio na hora certa, porque eu estava precisando de um livro leve e engraçado para me divertir. Quando li logo no começo que pesquisadores encontraram o evangelho em uma caverna porque procuravam lugar pra fazer xixi porque a cerveja do local era muito boa já sabia o que viria por ali.

Para ter uma ideia de como funciona a história, pense em A Vida de Brian de Monty Python. Só que aqui ao invés de Brian a figura cuja vida segue paralelamente a de Jesus é a de Barrabás, o sujeito que é perdoado pela população no julgamento de Pôncio Pilatos. Nascido Jesus e filho de Maria e José, seu caminho se cruza com o do Messias diversas vezes, sobretudo por causa de seu amor por Maria Magdalena.  Lógico que parte da noção do que é engraçado no livro dependerá do seu conhecimento da Bíblia, mais precisamente do Novo Testamento, mas acho que tem muita coisa ali que funciona até para quem é leigo.

Acho que o principal é a cutucada que os autores dão na própria ideia de fé – e aí é até de se esperar que mesmo com uma história constantemente engraçada, o livro acabe seguindo para um desfecho mais melancólico. O livro é bem curtinho e rápido de ler. Se me perguntarem, acho que recomendo especialmente para quem estiver sofrendo de ressaca literária.

The Storied Life of A. J. Fikry (Gabrielle Zevin): Garrei muito morzinho nesse aí. MUITO. E olha, eu não vou enganar ninguém aqui: é chick-lit, total. Daqueles perfeitos para virar comédia bacaninha e levinha que você vê sozinha quando seu mozão-testosterona não está em casa. Então se você for procurar este livro (que chegou por aqui pela Companhia das Letras como A vida do livreiro A.J. Fikry), não espere nada de muito desafiador sobre o estilo de Gabrielle Zevin, nem de inovador sobre o enredo.

Mas aí vem o truque da autora, tcharaaaaam! Como é de se esperar considerando especialmente o título em português, A.J. Fikry é um livreiro, daquele tipo completamente apaixonado por livros, e que acaba influenciando toda a cidadezinha onde vive a amar a leitura tal como ele. Pensa no inverso daquela frase do Caetano sobre Narciso achar feio o que não é espelho. É evidente que nos enxergamos naqueles amantes de livros, e nos encantamos por cada comentário, cada passagem que ilustre esse amor.

Fico pensando aqui no modo como a autora se apressa nos eventos da vida de Fikry, como tudo acontece e se resolve tão rápido (o que estimula uma leitura rápida, diga-se de passagem), que talvez a vida do livreiro não deixa de ser uma grande desculpa para falar sobre o amor aos livros, pura e simplesmente. Sugestão: dê logo de presente para aquele seu amigo/amor que é viciado em livros, aproveite enquanto ainda é relativamente “novidade” aqui no Brasil.

Landline (Rainbow Rowell): Eu passei esse ano todo invejando quem estava conhecendo a Rainbow Rowell só agora, porque aí quando chegassem naquele momento em que não tinha nada de novo para ler, ao menos o lançamento de Landline estaria bem próximo. Então é óbvio que acabei comprando o livro na manhã do lançamento, num esquema ansiedade parecido com o de O Oceano no Fim do Caminho do Neil Gaiman, os outros livros que esperem, blé!

Bom, vamos lá. Não é meu favorito da Rowell. Estava além dos 20% quando finalmente a leitura me fisgou. Tem algo na estrutura que atrapalhou um pouco: se o livro é sobre Georgie usando um telefone “mágico” que liga para o passado para salvar o casamento com Neal, por que diabos o narrador se concentra TANTO em quanto Seth é legal, lindo e a amizade dele com Georgie é daquelas de pura química? Não acho que fosse desnecessário, mas talvez eu tivesse colocado os flashbacks mostrando o começo do namoro com Neal antes de todas essas passagens com Seth.

Porque só para variar, Neal é um fofo – a Rowell sabe bem como escrever caras fofos. E quando você finalmente o vê como Georgie o via no passado, aí a história engrena. Engrena no sentido de “você continua a ler e só para quando chega no fim”. Não sei explicar o truque da Rowell, mas ela dá conta disso, sempre. Mesmo quando não está escrevendo um Eleanor&Park da vida. Enfim, bacana, mas se você ainda não leu nada dela, recomendo começar pelos outros.

5 comentários em “No qual eu finalmente atualizo o blog”

  1. Anica, eu estou aqui com a tradução da Companhia das Letras desse amorzinho da Gabrielle Zevin, chegou semana passada e já é minha próxima leitura. Tô querendo mesmo algo mais engraçado, leve, tranquilo. Preciso.
    Menina, seu baby vem agora, na final da Copa? Caramba, que maravilha, hein. Que ele receba todas as bênçãos.
    Abraços.

    1. Nina, você foi uma das pessoas de quem lembrei quando li o livro, hehe. Aposto que você vai gostar das partes em que ele fala sobre livros =]

      (E obrigada ;* )

  2. Ah, a internet. A gente fica meio preocupada com gente que a gente nem conhece… dia desses me peguei pensando: gente, mas o bebê da Anica é tipo para agora, não é? (sem querer fazer a íntima que participou do chá de bebê, claro).

    Mas olha, boa sorte nessa reta final, e que as boas vindas do mundo ao Augusto sejam as melhores possíveis.

    Um beijo.

  3. Uma vida oportunista
    recheada de encontros e desencontros
    fatos felizes , tristes e imemoráveis
    que ainda tem muito o que viver
    sonhadora com bom senso
    porem sem a chance de mudar algo
    amarrada por suas correntes
    presa a este mundo
    espero que seja feliz
    e que nunca esqueça quem realmente foi
    na infância, na juventude e na sua vida
    isso que te torna tão especial…

    22/26

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