No caso do Gaiman, volta e meia é justamente o caso: pode ser uma coletânea de contos como M is for Magic, pode ser um picture book como Cabelo Doido, um YA como O livro do cemitério, não importa. O negócio é que é divertido, realmente gostoso de ler e algumas histórias permanecem com você por um bom tempo depois da leitura (algo que acho que fala mais sobre a qualidade de uma obra do que o público-alvo, por exemplo).
Mas eis que andei fazendo uma compra para o Arthur (ahnn, e agora o Augusto) com três títulos do Gaiman que saíram pela Rocco Pequenos Leitores. Sabe como é, meio que naquele esquema Homer dando uma bola de boliche para a Marge, mas enfim, não tinha muito como errar, não é mesmo? O negócio é que enquanto lia, fiquei pensando sobre essa orientação “infantojuvenil”, “infantil” ou seja lá qual for atribuída aos três e não sei se estão todas exatamente corretas.
Aos títulos: Instruções (com ilustrações do Charles Vess), O alfabeto perigoso (com ilustrações do Gris Grimly) e Menina Iluminada (também com ilustrações do Vess). Os três fazem parte do (selo?) Rocco Pequenos Leitores, portanto imagina-se que são voltados para o público infantil (por infantil entenda-se “pessoas mais novas do que o público de Coraline e O livro do cemitério).
De fato, os três são o que poderíamos chamar de picture books. O problema é que acho que dois deles não são exatamente adequados ao público infantil. Curiosamente, os dois ilustrados pelo Vess.
Veja bem, o trabalho dele é encantador. Adoro a parceria do Gaiman com o Vess desde Sandman (Sonho de Uma Noite de Verão e A Tempestade foram ilustrados por ele) e acho que a maior parte do encanto dos dois livros (Menina Iluminada e Instruções) está justamente na arte.
Então aqui o veredito ainda é dúbio: acho que quem aproveitará de fato a leitura é o público mais velho, mas ainda vejo algum potencial para encantar os tais “pequenos leitores”. Mas pensando em Menina Iluminada, não é exatamente assim. Pior: me parece um texto tão pessoal de Gaiman, tão adequado para uma situação específica que mesmo no grupo “mais velho” eu ainda vejo um outro subgrupo que seria mais adequado ao título.
Tanto é que o último caso, O alfabeto perigoso, parece ser o único que realmente acerta no alvo (entre os três que comprei recentemente, vale lembrar). Arthur se animou bastante, entendeu a sequência das letras do alfabeto (ele está louco pelo alfabeto), a história, e gostou das ilustrações. E olha, o trabalho do Grimly é realmente muito legal, do mesmo jeito que acontece com o Dave McKean, acaba funcionando perfeitamente com o texto do Gaiman para criar uma atmosfera assustadora.
Agora é dar uma conferida nos outros infantis que estão saindo pela Rocco. Ano passado sei que teve O Dia de Chu, e parece que para esse ano sai O Dia que eu troquei meu pai por dois peixinhos dourados, este último uma parceria com Dave McKean que saiu lá fora em 1997. Bibliotequinha dos guris agradece e a mamãe dos guris também.
Anica, eu li nesse fim de semana o Odd e os gigantes de gelo, que também saiu pela Rocco Pequenos Leitores. É bastante divertido também, mas desconfio que seja para crianças maiores, como o Livro do Cemitério – quer dizer, eu não entendo nada de crianças, mas o livro fala sobre um guri, Asgard, os principais deuses e uma senhora aventura.
Em tempo: seu post ecoou uma conversa que tivemos ontem, aqui em casa. Falávamos sobre os livros do Gaiman e o namorado disse que um dos preferidos dele é o Coraline porque ele acerta em cheio no terror: não poder mais confiar na figura dos pais deve ser uma experiência realmente assustadora para os pequenos.
😉
Opa, acho que vou gostar desse Odd!
Sobre Coraline, sabe que eu nunca tinha pensado nisso? Realmente, a base do terror ali é essa. Tira a segurança do lar também, né, com aquela história das portas. E o curioso é que justamente uma das coisas que achei mais assustadoras em O Oceano no Fim do Caminho é essa quebra de confiança que o filho tinha no pai. Acho que preciso reler Coraline, fui meio injusta com ele na época 😐
O dia de Chu é BEM fofinho.
Sobre livros de terror pra crianças, eu adoro um post da Claire Legrand (que escreveu um middle-grade que eu amo demais de paixão verdadeira e eterna) no qual ela fala sobre as dificuldades e as partes divertidas de escrever terror pra crianças, especialmente esse trecho:
“I didn’t actually worry if it was too scary for kids because kids are smart. They can handle reading about dark, terrible things because they are so incredibly open, so accepting of the fact that there is evil in the world and so hopeful that it can be beaten.”
http://project-middle-grade-mayhem.blogspot.com.br/2012/09/guest-post-giveaway-with-claire-legrand.html
Que texto legal! Fiquei curiosa sobre esse The Cavendish Home for Boys and Girls 🙂 Concordo com a autora. Aliás, enquanto lia o texto lembrei de quando era criança, de como tentava ver filme de terror sozinha ou contar histórias assustadoras com meus amigos – e isso criança mesmo. Bobos são os adultos que pensam que crianças são bobas.
Olá! Cheguei a esse blogue pesquisando sobre a caixa Gaiman para crianças. Um toque: o link que deveria levar para Instruções em inglês está direcionando a um site pornográfico, o que pode acabar prejudicando o seu blogue no ranking do Google.
Editado, obrigada mesmo por avisar <3