E aí que falei da preguiça de atualizar, mas a verdade é que estava ficando meio incomodada com a falta de comentários sobre o que li em dezembro e agora no começo de janeiro. Não, não é que eu ache que o mundo precise saber minha opinião sobre tudo o que eu leio, eu é que tenho o péssimo hábito de esquecer minhas impressões sobre determinado livro após alguns anos, e gosto de ter algo registrado para consultar. A solução número um seria partir para o giffy review, mas a verdade é que dá muito trabalho e nem sempre uma imagem basta. Então vamos para o listão mesmo, com alguns breves comentários. Começando com:
Sílvia (Gerard de Nerval): Se você leu Seis Passeios Pelos Bosques da Ficção do Umberto Eco é impossível que você não tenha ficado curioso sobre este livro. Eco fala tanto, mas tanto (e tão bem), que você logo coloca o título na infinita lista dos livros para ler. No meu caso, ficou na tal da lista pro quase oito anos, quando ao saber do tamanhico dele concluí que seria muita falta de vergonha na cara continuar sem ler. Ok, o problema número um é que já nem lembrava mais exatamente o que o Eco falou sobre o livro, há! De qualquer modo, valeu a pena, é bem interessante. de Nerval faz com que as lembranças do narrador sejam escritas quase como alguém que de fato está perdido em memórias. Sabe quando você vai contar uma história para um amigo, aí coloca um evento anterior, então volta para a história, depois avança e por aí vai? Então. Única coisa é que o narrador é tão sem noção sobre como se relacionar com uma mulher que em alguns momentos você tem vontade de dar uns tapas nele (do tipo, dizer para a menina que está com você que outra ali na festa é mais bonita, tipo, quem faz isso meu deus?). Saiu recentemente pela Rocco na coleção Novelas Imortais, tem uma capa bem bacaninha e sério, é muito curto, não tem desculpa para não conhecer.
The Unbecoming of Mara Dyer (Michelle Hodkin): Avisando desde já: este livro já saiu no Brasil pela Galera Record, como A desconstrução de Mara Dyer. Eu estava vendo bastante comentário sobre este young adult, e como fazia algum tempo que eu não ia para o lado dos que têm uma pegada sobrenatural (cofcof) resolvi conferir, até porque a premissa é interessante: uma adolescente é a única sobrevivente de um desabamento mas não tem qualquer memória sobre a noite do desabamento em si. O negócio é que a menina começa a ver os fantasmas dos amigos que também estavam no local do desabamento, e a autora dá um jeito de nos colocar em dúvida constante sobre se o que está acontecendo mesmo é real ou é piração da Mara Dyer (justificada por um stress pós-traumático). E olha, até que a Hodkin manda bem nisso, embora tenha um vício quase irritante de fechar capítulos com ganchos (alguns ganchos forçados). E tem lá o parzinho romântico da protagonista, que é tipo o Chuck Bass (e eu sei que quase nem falo disso aqui por motivos óbvios, mas vi todas as temporadas de Gossip Girl só por causa do Chuck Bass). Negócio é que aos poucos a trama vai ficando meio estranha, até que chega o segundo livro.
The Evolution of Mara Dyer (Michelle Hodkin): Eis o tal do segundo livro, provavelmente o mais wtf que li este ano (ou em uma década, sei lá). Estava tudo até que indo bem no primeiro livro, mas o segundo alopra tanto, mas tanto que você acaba indo até o fim só para saber qual é o limite da autora (atenção, não há). O que era uma história de terror bacana vira um X-men versão Crepúsculo (seja lá o que você conseguir tirar dessa combinação, para fins didáticos vamos dizer que não é legal, hmkay?). Atenção, spoilers: Há algo no desfecho, sobre como a clínica está fazendo um teste com a Mara e os amigos que foi (pelo menos para mim), pedir demais da minha capacidade de suspensão de descrença. Fica aquela sensação de que se fosse um livro só a história teria fechado redondinha, mas aí a autora teve que se virar para fazer mais dois livros e acabou se perdendo dentro da própria cronologia. Ah, sim, falei de Crepúsculo e tive um tipo de epifania (porque ao contrário do James Joyce, as minhas epifanias são sempre capengas): sabe por que algumas autoras fazem os mocinhos de young adult extremamente ricos? Duh, porque aí ela pode escrever a personagem como se fosse um adulto, e não um adolescente.
O Jantar (Herman Koch): Então que este foi um dos inúmeros “o próximo Garota Exemplar” que apareceram por aí, mas o Tuca recomendou e resolvi ler. E olha, que livro. Não é uma leitura fácil, porque é o tipo de história que mexe com você, mais especificamente o seu emocional. Sim, é óbvio que a questão do encontro dos pais para discutirem a situação de seus filhos depois que eles praticaram um ato bárbaro (para dizer o mínimo) já seria o suficiente para causar esse efeito. Mas o motor de O Jantar é o narrador, Paul Lohman, que capítulo após capítulo vai se revelando uma das figuras mais detestáveis já escritas por alguém. Não espere ações óbvias que apontem isso, a maldade de Lohman está escondida em suas pequenas observações sobre questões triviais. Começa com o que parece uma (normal) rivalidade entre irmãos para então vermos que há muito mais ali. Veja bem, não é um livro sobre até que ponto podemos chegar para proteger os nossos filhos. E até que ponto estamos nos centrando cada vez em nós mesmos ao ponto de perder totalmente a noção de certo ou errado. Não acho que seja algo para ler em qualquer momento da vida, você tem que estar razoavelmente bem porque com O Jantar é realmente uma pancada atrás de outra.
O Circo Mecânico Tresaulti (Genevieve Valentini): Desde que fiquei sabendo do lançamento estava curiosa sobre o livro, até porque tinha algo no visual dele que lembrava muito O Circo da Noite (que eu adorei). Ao ler eu não consegui encontrar nada que justificasse a opção pelos mesmos vermelho/branco/preto da capa, e vá lá, nem há muita comparação a não ser que são a) situadas em um circo e b) fantasia. Mas a distância entre um e outro não é defeito, até porque se eu quisesse ler algo parecido com O Circo da Noite, eu só relia o livro oras. A história se passa em um cenário pós-apocalíptico, com várias cidades destruídas por causa de uma guerra sobre a qual a autora nunca se aprofunda de fato. O que nos é realmente apresentado, com riqueza de detalhes, é o Circo Tresaulti, que conta com pessoas com modificações mecânicas no corpo, todos criados pela “Boss” (sim, você acertou, ela é a dona do local). É até bacana, mas algumas vezes chato: a autora usa tanto o foreshadowing (e sempre tão repetitivos), que às vezes eu até olhava para o número da página para ter certeza que não tinha acontecido um erro de impressão e sei lá, de repente eu estava com um livro que tinha duas páginas 40 ou algo assim. Entra naquela categoria dos que poderiam ter sido (BEM) melhores.
O Colecionador de Colecionadores (Tibor Fischer): Eu já falei bastante do Fischer por aqui, então meio que já sabia o que esperar. Certeza que seria um livro com um humor ligeiramente nonsense, críticas ácidas voltadas para nossa sociedade moderna e frases e mais frases para grifar. E é exatamente isso, com uma história que envolve um vaso que “cataloga” a humanidade há séculos, uma especialista em objetos antigos que consegue “conversar” com eles e uma ninfomaníaca golpista. Tem algo que lembrou vagamente Viagem ao fundo da sala, não só pelo inusitado do enredo, mas de como com piadinhas e cutucões o Fischer acaba de novo falando um pouco de solidão (penso aqui especialmente na protagonista, Rosa). A conclusão é de que é lógico que é sempre bom conhecer coisas novas, mas voltar para um autor já conhecido (e aprovado) é sempre um ótimo jeito de começar o ano – praticamente não tem erro.
A queda de Artur (J. R. R. Tolkien): Não faço ideia do que me fez começar a ler o livro, mas estava lá dando sopa e resolvi conferir. É um poema (incompleto, vale ressaltar) que Tolkien escreveu sobre (hum, é óbvio) o Rei Artur. O poema em si você lê rapidinho (não dá nem 90 páginas), mas logo após A queda de Artur tem uma série de artigos falando sobre Rei Artur e também a relação da lenda com o que Tolkien escreveria em seus livros passados na Terra-média. Então assim, se me perguntassem, não acho que serve só para fã de Tolkien, não (embora normalmente quem gosta das obras dele também acaba tendo uma queda pelas histórias de Artur). E algo que achei legal sobre esta edição da WMF Martins Fontes é que ela é bilíngue, então dá para ir acompanhando o “original” com a tradução. Aliás, sobre a tradução, vale reconhecer o esforço do Kyrmse em trazer para o português os versos de Tolkien, buscando manter a aliteração. O problema é que em tradução de poesia sempre acaba se perdendo algo, e aqui eu acho que o texto acabou ficando menos “musical” do que o de Tolkien, que flui melhor. Fiquei sem entender algumas opções (como a de traduzir o verso “Sir Lancelot, Lord of Benwick” como “Sir Lancelot do Lago, Lorde de Benwick“), mas em outros casos fica evidente que para o poema em português não tinha outra saída. Mas é aquela coisa, se ser tradutor já é tarefa ingrata, que dirá de poesia.
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2 comentários em “Para organizar (Ou: listão de livros)”
Anica, cê não achou a voz da Mara Dyer chata não? Eu comecei a ler, mas precisei parar por não aguentar a voz dela. Achei tão chatinha… Se bem que nao sei se o problema sou eu e minha ressaca literária.
Anica, cê não achou a voz da Mara Dyer chata não? Eu comecei a ler, mas precisei parar por não aguentar a voz dela. Achei tão chatinha… Se bem que nao sei se o problema sou eu e minha ressaca literária.
ela é chatonilda, sim. só continuei pelo noah =F hahahahah