Tá. Acho que vale começar a dizer que apesar do histórico, não sou particularmente fã do Spike Jonze, muito menos do Joaquin Phoenix. Digo isso porque não são nomes que despertem minha curiosidade sobre um filme, nem é um daqueles casos em que você já gosta antes mesmo de assistir. Mas aí saiu trailer, e depois começaram a aparecer os comentários e, principalmente, as citações de algumas falas do filme, então de todos os “oscarizáveis”, Her acabou entrando no topo da lista dos que eu tinha vontade de ver. E não decepcionou.
Veja bem, eu tenho um fraco por histórias que buscam trabalhar um tema trivial (aqui, como nos relacionamos com o outro) de forma pouco convencional. Na história Theodore (Phoenix) é um homem que ganha a vida escrevendo cartas por outras pessoas que não são tão boas com as palavras quanto ele. Um dia ele fica sabendo sobre um novo sistema operacional criado para se adaptar ao dono e decide instalá-lo. Poucas perguntas depois, eis que surge Samantha (voz de Scarlett Johansson), que aparentemente não vai só se “adaptando” ao Theodore, mas evoluindo: ela tem senso de humor próprio e, o principal, sentimentos. O resultado disso é bizarro, mas óbvio para o enredo: os dois se apaixonam.
(Aviso: o post será uma série de aloprações minhas sobre variados momentos do filme, então assim, se você ainda não viu, pode ter spoilers, etc.)
Então que lá em 2012 saiu aquela Granta com os jovens autores brasileiros e no Meia Palavra fizemos uma série de posts onde dois membros da equipe comentavam sobre as impressões que tiveram de um dos contos da coletânea. Por coincidência, dois dos que mais me empolgaram na época não eram exatamente contos, mas trechos de romances ainda não publicados: Apneia, que saiu pela Companhia das Letras como o ótimo Barba Ensopada de Sangue do Daniel Galera e Faíscas, que saiu ano passado também pela Companhia como Todos Adorávamos Caubóis, da Carol Bensimon. Em comum, duas coisas: apesar da brevidade (contos, lembra?) prendiam a atenção do começo ao fim, ao ponto de realmente despertar curiosidade sobre o que viria a seguir (e quando os romances seriam publicados).
Faíscas, se eu não me engano, é exatamente o primeiro capítulo de Todos Nós Adorávamos Caubóis, ou seja, a introdução para a história de Cora e Julia. Na época ficava claro um desentendimento no passado, provavelmente relacionado à viagem de uma delas, bem como o fato de que aquela viagem de carro pelo interior do Rio Grande do Sul surgia para Cora (narradora e protagonista) como uma oportunidade de reatar antigos laços. E no final das contas o romance durante os outros capítulos se desenvolve exatamente assim: a viagem de Cora e Julia, os estranhamentos sobre os tempos em que passaram distantes, as explosões de frases não-ditas presas na garganta, a intimidade compartilhada – tudo isso com um tempero de bons road movies norte-americanos.
Eu sei que isso parece meio estranho (ainda mais considerando o que eu escrevi sobre O Oceano no Fim do Caminhode Neil Gaiman), mas costumo separar a vida do escritor de sua obra. Não gosto de ficar procurando detalhes na biografia que justifiquem esta ou aquela passagem da história, até porque aprendi cedo com Tio Wilde a lição de que isto pode ser uma arapuca: muitos e muitos leitores de O Retrato de Dorian Gray costumam ver em Gray a figura do ex-amante de Wilde, Sir Alfred Douglas. A tentação de estabelecer a relação é grande demais, porque há muito ali no romance que bate com a história dos dois – Wilde se desdobraria em Basil (o artista apaixonado por seu modelo) e Lord Henry (o homem mais velho e experiente). Tudo muito bonito só que… O Retrato de Dorian Gray foi originalmente publicado em 1890, e Wilde só conheceria Bosie um ano depois. Pronto, morreu teoria.
Mas aí temos casos como It’s Kind of a Funny Story de Ned Vizzini, e aí é simplesmente impossível escapar da relação vida e obra, até porque o próprio Vizzini passou alguns dias internado em uma ala psiquiátrica para tratar da depressão, tal como seu protagonista. Pior: no fim do ano passado o autor (então com 32 anos) se suicidou, deixando mulher e filho. “Um sujeito de sucesso, com pessoas que o amam e outras que dependem dele, como assim pode tirar a própria vida?”, alguns podem pensar. Outros já chegam com a resposta pronta “É coisa de covarde”. Falta talvez o exercício de empatia, de se colocar no lugar do outro para tentar compreender, o que a Literatura acaba ajudando a fazer. Assim, com It’s Kind of a Funny Story o efeito de vida do autor misturada com a obra foi bastante perturbador: ver a depressão com os olhos de quem sofreu desse mal chega a ser doloroso, especialmente se você tem conhecidos que fazem tratamento para tal.
E aí que falei da preguiça de atualizar, mas a verdade é que estava ficando meio incomodada com a falta de comentários sobre o que li em dezembro e agora no começo de janeiro. Não, não é que eu ache que o mundo precise saber minha opinião sobre tudo o que eu leio, eu é que tenho o péssimo hábito de esquecer minhas impressões sobre determinado livro após alguns anos, e gosto de ter algo registrado para consultar. A solução número um seria partir para o giffy review, mas a verdade é que dá muito trabalho e nem sempre uma imagem basta. Então vamos para o listão mesmo, com alguns breves comentários. Começando com:
Sílvia (Gerard de Nerval): Se você leu Seis Passeios Pelos Bosques da Ficção do Umberto Eco é impossível que você não tenha ficado curioso sobre este livro. Eco fala tanto, mas tanto (e tão bem), que você logo coloca o título na infinita lista dos livros para ler. No meu caso, ficou na tal da lista pro quase oito anos, quando ao saber do tamanhico dele concluí que seria muita falta de vergonha na cara continuar sem ler. Ok, o problema número um é que já nem lembrava mais exatamente o que o Eco falou sobre o livro, há! De qualquer modo, valeu a pena, é bem interessante. de Nerval faz com que as lembranças do narrador sejam escritas quase como alguém que de fato está perdido em memórias. Sabe quando você vai contar uma história para um amigo, aí coloca um evento anterior, então volta para a história, depois avança e por aí vai? Então. Única coisa é que o narrador é tão sem noção sobre como se relacionar com uma mulher que em alguns momentos você tem vontade de dar uns tapas nele (do tipo, dizer para a menina que está com você que outra ali na festa é mais bonita, tipo, quem faz isso meu deus?). Saiu recentemente pela Rocco na coleção Novelas Imortais, tem uma capa bem bacaninha e sério, é muito curto, não tem desculpa para não conhecer.
The Unbecoming of Mara Dyer (Michelle Hodkin): Avisando desde já: este livro já saiu no Brasil pela Galera Record, como A desconstrução de Mara Dyer. Eu estava vendo bastante comentário sobre este young adult, e como fazia algum tempo que eu não ia para o lado dos que têm uma pegada sobrenatural (cofcof) resolvi conferir, até porque a premissa é interessante: uma adolescente é a única sobrevivente de um desabamento mas não tem qualquer memória sobre a noite do desabamento em si. O negócio é que a menina começa a ver os fantasmas dos amigos que também estavam no local do desabamento, e a autora dá um jeito de nos colocar em dúvida constante sobre se o que está acontecendo mesmo é real ou é piração da Mara Dyer (justificada por um stress pós-traumático). E olha, até que a Hodkin manda bem nisso, embora tenha um vício quase irritante de fechar capítulos com ganchos (alguns ganchos forçados). E tem lá o parzinho romântico da protagonista, que é tipo o Chuck Bass (e eu sei que quase nem falo disso aqui por motivos óbvios, mas vi todas as temporadas de Gossip Girl só por causa do Chuck Bass). Negócio é que aos poucos a trama vai ficando meio estranha, até que chega o segundo livro.
A notícia boa é que ao contrário do que aconteceu em 2011 e 2012, agora em 2013 consegui ver até que uma quantidade razoável de lançamentos, o que justifica o top 10 como costumava fazer deeeeeeesde 2004. A notícia ruim é que o ano virou e eu não escrevi o post e ele está meio atrasadinho, mas ok, ok, antes tarde do que nunca. Lembrando que na lista valem apenas filmes lançados no Brasil em 2013 (falo mais sobre isso ali para frente). Só para deixar arrumadinho, links para os outros anos: 2004 | 2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010
Hum, sendo bem honesta aqui: primeiro lugar porque é combo com os outros dois, Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol. Minha primeira experiência com Jesse e Celine não foi das melhores, mas fazendo uma maratona para o Antes da Meia-Noite, me encantei de tal forma que foi uma das melhores experiências que tive no cinema este ano. Falei mais sobre os três neste post aqui.