Calma. Ainda temos um narrador em primeira pessoa, masculino, nerd com alguma peculiaridade aleatória, que tem uma amizade forte com outro garoto e sim, a garota por quem o protagonista é perdidamente apaixonado. Mas há algo tanto na estrutura quanto na forma como o autor aborda certas questões (ei, já chego lá) que faz com que Quem é você, Alasca? seja único e, devo dizer, superior às publicações seguintes. A história começa aparentemente simples: Miles é um garoto meio solitário e meio sem propósito algum na vida que vê em uma ida a um colégio interno a possibilidade de dar uma virada, ou, como ele diz ao citar Rabelais, “sair em busca do grande talvez”. Chegando em Culver Creek, começa uma amizade com Chip (apelidado de “o Coronel”) e cai de amores por Alasca Young, uma garota visivelmente mais experiente, meio doidinha e, nas palavras dele, linda.
O livro é dividido em capítulos que fazem uma espécie de contagem regressiva para um dia de um grande evento, que o leitor obviamente ignora (ou deveria ignorar, parte da graça do livro está na surpresa). Conforme a história se desenrola, você vai conhecendo melhor outras personagens, as novas experiências de Miles (a parte do primeiro boquete é impagável) e as regras do local. É engraçado, mas ao repetir constantemente pequenos detalhes da rotina dos garotos (cigarro no banheiro, esconderijo para beber, bufritos no refeitório, etc.) Green vai tornando suas personagens cada vez mais reais, ou, pelo menos, próximas do leitor. E então você segue lendo, aula aqui, trote ali, Alasca gostosa acolá e meio que já começa a imaginar o que pode ser o tal do evento.
Só que aí você erra.
Eu não sei se tivesse começado por Quem é você, Alasca? eu teria errado meu palpite, mas… opa, spoiler.
Aliás, vale aqui chamar a atenção para a questão “o cigarro, a bebida” e afins. Eu acho que já devo ter comentado sobre isso em algum lugar por aqui, mas vamos lá, de novo. Este ano resolvi ver Gossip Girl (é.) e lembro que no primeiro ou segundo episódio tinha uma cena onde Serena encontrava Blair em um bar. Elas bebiam e conversavam. E eu fiquei ÓÓÓÓ, COMO ASSIM, ELAS NEM TEM DEZOITO ANOOOOOOS! e meudeus, automaticamente me senti uma tapada por pensar isso. Olha, não estou dizendo que todo adolescente fuma ou que todo adolescente enche a cara, mas é muito inocente de nossa parte achar que nenhum faz isso. E se eu digo isso é porque volta e meia você pega livro young adult onde os adolescentes se comportam como se circulassem em um mundo sem esses elementos. Sexo pode. Drogas, não. Como se o autor fosse influenciar a gurizada só porque sua personagem bebe vinho ou leite misturado com vodka.
Sei que é uma questão meio espinhosa (porque sim, há quem se influencie), mas de certa forma isso me faz lembrar do receio de alguns pais sobre o que algumas pessoas estão chamando de sick-lit, livros com temas envolvendo depressão, morte e, claro, doenças. É como se o autor de young adult tivesse que recorrer à fantasia já que um retrato da realidade traria temas polêmicos. Enfim, pirações minhas, mas queria colocá-las aqui até porque vi esses pequenos detalhes da vida de Miles e seus amigos como um ponto positivo da obra, até porque Green não fica cheio de dedos e desculpas – sabe, quando o narrador deixa implícito uma mensagem moralizante nessas passagens? Não. É só algo que faz parte da rotina dos guris, como faz de outros tantos da idade deles.
Não dá para falar com jovens unicamente através de metáforas e alegorias, isso é, de certa forma, subestimá-los. E não digo aqui pelas drogas (lícitas ou ilícitas) que uma história pode apresentar, é mais sobre o papel de Alasca na vida de Miles mesmo. O desfecho, com o ensaio entregue para o professor, é bonito justamente por ser tão honesto, tão direto. Aliás, por falar em “bonito”, é provável que este seja o livro do John Green com mais citações espalhadas pela internet, acho aliás que antes mesmo de ouvir falar no nome John Green já tinha tropeçado em algum canto naquela citação bem conhecida sobre Miles se comparando com Alasca (“Se as pessoas fossem chuva, eu era garoa e ela, um furacão“):
Que lendo no livro, dentro do contexto, devo dizer que até gostei bastante, mas meu trecho favorito ainda é outro (e é um spoiler, há!):
E antes que você ache que o livro todo é muito melancólico, não, não é por aí. Há partes engraçadíssimas (ri muito com o cisne no lago) e a amizade entre Miles e Chip rende ótimos momentos, com aquelas tirações de sarro que só amigos com boa sintonia conseguem fazer. Tem um pouco de tudo em Quem é você, Alasca?, e talvez até por isso seja tão encantador. E assim, no momento, meu ranking John Green fica desta forma:
(Com A Culpa e Alasca coladinhos, devo dizer)
Em tempo: no final de outubro John Green publicou um video muito bacana chamado Perspective, no qual falava de sua vida há 12 anos. O livro que ele conta que estava tentando escrever era Quem é você, Alasca?. Se ainda não assistiu, veja, porque este é um dos videos mais bacanas dele, e de certa forma dá para traçar um paralelo com o tal do labirinto que aparece tantas vezes na história de Miles e Alasca.
Sei lá, no meu ranking eu coloco eu ainda coloco “Alaska” em terceiro – estou lendo “Cidades de Papel”, mas acho que até esse deve passar “Alaska”. 😛
(Minha resenha aqui: http://demaisconsideracoesliterarias.wordpress.com/2013/03/17/resenha-quem-e-voce-alasca-de-john-green/)
eu acho paper towns legal, mas ele é meio “-inho” perto do alasca.
Looking for Alaska foi até o momento minha única experiência com John Green, gostei do livro tanto que varei uma madrugada em branco para chegar ao final.
Já o meu exemplar de a Culpa e das estrelas está morgando a um bom tempo a espera de leitura sem uma previsão surgindo no horizonte.
hahaha, eu também fiquei lendo até tarde da noite. não que eu ache que o desenvolvimento do mistério tenha mexido com minha curiosidade (como todo livro do john green, é até bem previsível), mas eu realmente fiquei curiosa em como ele desenvolveria as ações e pensamentos das personagens depois do evento. enfim, foi bacana.
Só comprei “Looking for Alaska” porque fui persuadida pelas inúmeras citações encontradas no tumblr. Queria saber qual era a desse cara e acabei gostando muito do livro. Me encantei tanto que quando saiu “A Culpa é das Estrelas” fiquei meio receosa depois de ler aquela invasão de resenhas babando na obra. Não peguei mais nada do Green depois por medo de me decepcionar, mas pelo que li por aí sempre apontam o protagonista como um nerd, mas um nerd meio atípico (um cara SUPER inteligente, por exemplo), e não senti isso com muita intensidade no Miles. Tá, ele é nerd, mas bem mais reservado e “real”. O que mais me chamou atenção em Alaska foi a naturalidade da história e o fato de John Green não subestimar a inteligência de seu público. É um trabalho com certa maturidade, mas adequado para adolescentes na mesma fase de transição de Miles.
acho que a única coisa que me incomodou sobre o miles (sério, não vá rir), é a hora que a menina fala “é estranho” e ele fica todo sem jeito e então ela diz “é grande”. gente, que desnecessário. é para lembrar as pessoas que nerd também tem pinto grande? ¬¬ mas das características dele como personagem, ele realmente tem aquele jeitão de guri real, inclusive pela mistura bem equilibrada entre a inocência e inteligência. mas acho que de todas as personagens a que mais gostei foi o coronel ^^
Essa parte do pênis dele, das duas uma: 1) ou a moça tá querendo elogiá-lo; ou 2) John Green resolveu fazer sua mini-versão de “A Vingança dos Nerds” – a cena em que a moça elogia o desempenho sexual do nerd. Pra que isso? Talvez projeção do autor, rsrsrs.
Hahaha eu também achei isso tão bobo! Lembro de ter parado a leitura pensando “WTF?”. E sim, isso foi bem dosado e dá mais vivacidade pra transição dele durante essa nova fase. Coronel virou queridinho de imediato também 🙂
Geeenteee, eu não consigo entender o motivo pelo qual as pessoas preferem ‘A Culpa é das Estrelas’ e não ‘Quem é você, Alasca?’!! 🙁