As atuações são fantásticas, com Christopher Plummer levando um Oscar por sua personagem Hal (o pai de Oliver), mas confesso que quem me encantou ali mesmo foi Ewan McGregor. Eu tinha até esquecido de como gostava deste ator. A personagem que ele interpreta requer que muito seja dito apenas com olhar e com poucas palavras, e mesmo assim ele consegue dar conta de tudo isso: a tristeza em uma festa cheia de pessoas, o encanto por conhecer alguém especial, a dor ao ver que o pai definhava aos poucos mas ainda assim lutava para que seus últimos momentos fossem felizes. A história simplesmente não funcionaria não fosse essa dupla de atores.
O negócio é que não são só as atuações, o roteiro também é fantástico. Algumas falas parecem simples mas ao lembrarmos do que vimos até aquele momento, ganham toda uma força. Cito aqui aquele “Where do we go from here?” do final, que não marca apenas o fato de eles serem “principiantes” como diz o título, mas também combina com aquela brincadeira que a mãe de Oliver fazia com ele, de ele ir apontando para onde queria ir. Aquela citação que Hal coloca no museu no Natal é também de partir o coração porque naquele momento ele sabia que era gay, mas ainda vivia o casamento com a esposa por medo de perder aquele padrão de felicidade.
Aliás, gostei bastante da inclusão de elementos históricos que Oliver faz para descrever determinados períodos (este era o sol em 2003, este era o presidente, etc.) porque em determinado momento, ao falar do passado dos pais, ele mostra o que era ser feliz e o que era ser triste na década de 50. O que era ser feliz naquela época (ter casa, filho, emprego e uma tv) não é necessariamente o ser feliz nos dias de hoje. Na realidade, é até engraçado que um filme que explore tanto o tema do amor acabe ao mesmo tempo falando tanto de alegria e tristeza: a capa de cd que Oliver está fazendo no trabalho é para uma banda chamada The Sads, e então nas ‘n’ sugestões que ele faz de trabalho para o grupo, há lá “a história da tristeza”, que mostra forte influência do passado dos pais:
A última ilustração de Oliver mostra de forma bem óbvia que não é seu próprio passado, mas o passado dos pais que não permitem que ele siga em frente. Essa busca pela “felicidade” é na realidade uma fuga inconsciente da tristeza que ele enxergava na relação dos pais. Oliver não quer uma mentira de 44 anos, que até mesmo uma criança conseguia perceber. E com tanto medo de que a tristeza escondida de seus pais se repita com ele, acaba que Oliver simplesmente sabota qualquer possibilidade de relacionamento, como quem acredita que se não é para ser o ideal, o melhor é não ser. Anna canta esta bola para ele já em suas primeiras conversas: People in the building like us, half of them think it’s never going to work out, the other half believe in magic. Ela parece acreditar em mágica, ele não. Ele acredita em relacionamentos infelizes de 44 anos.
E enquanto a história poderia ser como Oliver e Anna vão lidar com suas expectativas e bagagens, aí voltamos para Hal. A história é montada com um Oliver em algum momento do futuro descrevendo sua infância, os últimos meses do pai e seu encontro com Anna, mesclando esses eventos e adicionando cada vez mais detalhes (aquela primeira sequência de beijos dos pais durante a infância depois vira uma cena da mãe falando com que tipo de homem gostaria de casar numa outra vida, e assim segue). E quando chega a hora de Hal, você já sabe tanto sobre ele, e da relação dele com Oliver, que chega a dar um aperto no coração o momento em que o filho começa a descrever o que acontece depois que uma pessoa morre, toda a parte burocrática envolvendo pagamentos e cancelamentos de cartões, até chegar no quadro que o pai guardava, que então ele percebe ser uma foto da mãe oferecendo flores.
De novo, a alegria e a tristeza. Não acho que seja à toa que a frase que faz com que Oliver de fato se interesse por Anna seja a pergunta anotada no bloquinho “por que você está em uma festa se está triste?”. E eu sei que quem não viu o filme deve pensar que você desliga a tv e vai procurar uma forma de se matar depois de tanta conversa sobre tristeza, mas aí que vem o que faz de Toda forma de amor algo especial. A melancolia é toda colada com doçura, e mesmo os momentos mais tristes têm algo de belo e, por que não dizer, carregado de um sentimento de esperança. Ok, e o cachorrinho Arthur é fofo. =P Gosto de como ele é usado para refletir o que Oliver está sentindo, como quando Oliver acaba de conhecer Anna:
Enfim, valeu muito a pena. Posso ter passado uma impressão errada da história, mas Toda forma de amor pareceu para mim um daqueles filmes “de lavar a alma”, sabe como? Não há gente ruim, só tem gente perdida. O sentimento que ele acaba trazendo é mais de aquecer o coração do que qualquer outra coisa. De qualquer forma, tem este texto aqui do Colherada Cultural (via @juju_gomes) que pode ajudá-lo a entender melhor por que mesmo falando tanto de tristeza esse filme ao mesmo tempo consiga ser tão gostoso de se ver.
Peguei a dica, assisti e adorei! Obrigada!
É muito bacana, né? Que bom que você gostou =D