Pule aí mais de dez anos do já conhecido processo da indústria cinematográfica, de recriar/copiar fórmulas ou ideias que deram certo buscando novos sucessos de bilheteria, e é evidente que quando chega um filme como Fenômenos Paranormais (Grave Encounters) você pensa que ele não pode oferecer mais nada de novo: oras, não basta ser um “found footage“, ainda por cima a premissa básica é de um grupo de investigadores de eventos paranormais gravando um programa para a tv em um hospital psiquiátrico abandonado. Ou seja: todos os elementos das últimas décadas do que foi criado em horror norte-americano. Mããããs… tanto blog de horror que eu acompanho falando desse filme, tive que conferir. E uou, não é que a mistura de clichês dá liga?
Antes de continuar a comentar, duas coisas: primeiro, estou falando só do primeiro filme, não vi o segundo (e ouvi falar muito mal do segundo, então…). Segundo, se for assistir, tenta seguir as condições normais de temperatura e pressão: veja sozinho e à noite. Duvido que você vá dormir tranquilo depois.
Fenômenos Paranormais funciona bem porque a história é bem montada. Os elementos são colocados aos poucos, aumentando a tensão sem aquela pressa típica de oferecer uma sequência de sustos ao invés de realmente criar uma atmosfera de horror. Começamos com a equipe ainda durante a manhã entrevistando pessoas que trabalham no local, perguntando sobre histórias envolvendo fantasmas. Dá para perceber que eles são bem picaretas, principalmente quando chega o “médium”: a ideia é coletar material para deixar uma série de sugestões ao telespectador, de modo que uma simples porta batendo já será assustadora na hora de editar as imagens para o programa. A proposta do show é de a equipe passar oito horas (à noite) trancados no local, avaliando a presença ou não de fenômenos paranormais. O zelador tranca a porta e…
… aí que as coisas começam a ficar assustadoras. Inicialmente ainda estamos no mesmo nível do que seriam os telespectadores do programa, lembram das sugestões? Alguns lugares que foram marcados com o ‘x’ ainda durante a fase de investigação obviamente nos deixam mais tensos, porque afinal de contas, esperamos que algo aconteça ali. O negócio é que aos poucos a história vai tomando um outro caminho, bastante inesperado e engenhoso. Começa mais ou menos quando a garota Sasha faz perguntas para tentar registrar alguma tentativa de comunicação com os espíritos, e então claramente a câmera flagra o momento em que algo faz com que o cabelo dela se mexa:
Assustados, todos voltam para o sagão (não sem antes seguirem algumas regras básicas dos filmes de terror, do tipo “vamos nos separar”, hehe). A partir daí, eles se dão conta de duas coisas (e aqui vai um baita spoiler, então seria legal se você pulasse para o próximo parágrafo): a primeira é que o hospício virou um tipo de labirinto. O lugar em que eles estavam antes marcava a porta de saída, mas quando tentam arrombá-la, acabam encontrando um novo corredor. E assim segue, ao longo da história, com cada tentativa de um novo caminho sendo frustrada por uma mudança no que seria o labirinto. A outra coisa que eles percebem é que o tempo não está correndo normalmente, já que passaram mais do que as oito horas programadas para eles, e mesmo assim não só o zelador não aparece para abrir as portas, como também não surge a luz do sol. Chega um ponto em que já foram 40 horas presos lá dentro, a comida estragada, apenas um pouco de bateria nas câmeras e nem sinal de achar uma saída.
Calculem então o que dá a soma de um ambiente completamente claustrofóbico com as sugestões colocadas lá no começo da história. Por exemplo: quando ainda estão fazendo entrevistas, o apresentador do programa conta para o público que aparentemente os fantasmas que estão ali não são só do tipo que repetem e repetem uma ação, mas daqueles que fazem algo, ou seja, tem a capacidade de fazer mal para qualquer pessoa ali. Só com essa sugestão não precisava nem aparecer fantasma para você ficar com medo, embora eles apareçam eventualmente, e também de uma forma bastante clichêzona, mas que ironicamente acaba sendo assustador porque você está envolvido pela atmosfera da história. Assim, que mais dá medo em Fenômenos Paranormais não é a suposta presença de espíritos, mas o lugar em si e o que ele vai fazendo aos poucos com a equipe do programa.
Depois de ter dormido mal pra caramba imaginando a guria fantasma na porta do meu quarto, a conclusão que eu pude chegar sobre o filme é que às vezes somos meio obcecados pela busca do original, de algo nunca feito antes, e acabamos esquecendo que às vezes como uma história é contada pode ter muito mais peso do que a história em si. Acabei gostando tanto que estou até pensando em arriscar e ver a continuação, por mais que o pessoal tenha falado mal. Para quem ficou curioso, vai aí o trailer:
Um comentário em “Fenômenos Paranormais (Grave Encounters)”