“By making time to read, like making time to love, we expand our time for living. If we had to think of love in terms of our busy schedule, who’d risk it? Who’s got time to fall in love? But have you ever seen someone in love not finding time for it? I’ve never had time to read, but nothing’s ever stopped me from finishing a novel I loved. Reading isn’t about managing your social life better; it’s a way of being, like being in love.”
The Rights of the Reader by Daniel Pennac
É inevitável: pessoa aleatória começa a fazer parte da minha rotina, repara nos livros que leio e logo comenta: “Nossa, mas quantos livros você lê por semana? Está sempre mudando!” . Eu fico meio sem jeito de dizer que são em média dois por semana, ainda mais considerando que tem alguns anos 2 era a média de leitura anual do brasileiro. Aquela coisa, fica parecendo que estou querendo me exibir. Aí o que eu invariavelmente escuto é algum elogio ao meu hábito de leitura (obrigada) normalmente seguida pela famosa frase “Puxa, queria ter tempo para ler.”
Eu apenas sorrio sem dizer muito mais sobre isso, porque no momento o que passa na minha cabeça é, primeiro: a pessoa pensa que sou uma à toa na vida, afinal, se ela não tem tempo para ler, o que eu que leio cerca de dois por semana sou? Alguém com muito tempo livre, certo? Bom, não sou. Não que eu goste de dizer esse tipo de coisa para pessoas que acabaram de bater na porta da minha vida pessoal, mas eu sou gente como a gente, aquela coisa: trabalho, cuido de casa, cuido do meu filho e, por acaso, gosto muito de ler.
O que nos leva para a segunda coisa que penso: “Meu filho, não é questão de ter tempo. É questão de querer.” Não estou te julgando, não. Eu mesma adoraria estudar francês mas não tenho tempo, então sei do que estou falando sobre essa coisa de não ter tempo para fazer algo. Não é uma necessidade básica, não é um desejo incontrolável, então eu chego cansada em casa e a última coisa que eu quero é ter mais uma atividade para me preocupar, e com isso vou adiando o francês (e aulas de sax, violino e mais uma infinidade de coisas que queria, mas não tanto assim).
O problema de muitas dessas pessoas que “queriam ter tempo para ler” é que elas veem na leitura uma atividade nobre, porém cansativa. É o equivalente a seguir dieta balanceada ou praticar exercícios: ninguém é doido de negar que são atitudes benéficas. Mas também é bem difícil encontrar quem diga que prefere salada de repolho à qualquer coisa que leve um baconzinho, por exemplo (vegetarianos, eu admiro a força de vontade de vocês). Enfim, meu ponto é: a pessoa não precisa arrumar tempo, ela precisa é ajustar a visão que ela tem do hábito de leitura.
Sei que para quem gosta isso soa meio estranho, mas leitura é prazer. Eu não li mais de cem livros esse ano porque sou masoquista, li porque sinto falta quando não faço isso, porque eu gosto – me acalma, me traz um punhado de coisas novas e o principal, me diverte. Tanto que não vou a nenhum lugar que sei que enfrentarei fila sem carregar um livro comigo. Então se não é questão de tempo, mas de mudar o modo como pensa o hábito da leitura, deixo as seguintes sugestões:
1. Dane-se o cânone, busque o que você gosta: vai querer começar seu hábito de leitura lendo Ulisses, é isso mesmo, meu filho? Não, né. Defina o seu gosto e vá atrás disso. Você curte fantasia? Curte horror? Não tenha medo de seguir por esse caminho só porque os livros desses gêneros não estão em listas de “livros que você deve ler antes de morrer”.
2. Reserve um horário para ler: Se no começo não é hábito, você precisa reservar um horário para ler todos os dias, até para que você não acabe deixando de ler um livro porque ficou semanas sem abri-lo e perdeu o fio da meada. Todo dia leia um pouco, nem que sejam só cinco páginas. Eu recomendo a hora antes de dormir, é bem relaxante e como dormir é algo que você faz todos os dias, não tem como “esquecer”.
3. Insista: Para adultos, passos de formiguinha costumam ser frustrantes e a consequência disso é sempre o abandono da atividade. Aparentemente ninguém gosta de se sentir “iniciante” em algo, e pensar em termos de cinco páginas por dia quando tem uma doida varrida que lê dois livros por semana parece até que você está indo lento demais, que não vale a pena e o melhor é parar. Não pense isso. Insista, continue. Primeiro porque cada qual tem seu ritmo (disso falo em outro momento) e segundo porque é bem provável que das cinco você pule para dez, vinte, trinta – até porque começará a ler não só naquele horário que reservou, mas também no ônibus, na fila do banco, enquanto espera alguém, etc.
E então é isso. Não me venham mais com esse conversê de falta de tempo. Até porque vá lá, ler é o tipo de atividade que você pode fazer em vários momentos do seu dia (até no banheiro, embora eu já tenha lido que tem quem não recomende o hábito). E sobre os quase dois livros por semana, em outro momento eu volto para falar sobre ritmo de leitura.
Atualização 30 de junho de 2013: comprovando minha teoria de que não é questão de tempo, tá aí 2013 que não me deixa mentir. Estou beeeeem menos ocupada do que estava em 2011, e minha média de livros lidos caiu. Enfim, não é questão de tempo. Nisso concordo com cada palavra do Daniel Pennac na citação que abre esse post.
Eu confesso que tenho invejinha boa de você. Sempre brinco que a livraria me fez (e faz) ler menos do que antes – quando eu realmente era uma desocupada recém-saída do ensino médio que decidiu tirar “um ano de leitura mágica” para me dedicar somente a isso e ser sustentada pelos pais.
Deu certo. Eles concordaram.
Consegui ler mais de 60 em 2011.
Hoje, acho que a quantidade não importa, e sim a qualidade da leitura e minha disposição. Me disciplino para a leitura. Quero ler? Vou ler. E ponto.
Mas é uma educação que vem desde que eu era criança.
Mas entre querer aulas de francês e ler, existe uma enorme diferença: ler custa pouco. Muitas vezes, quase nada. Bibliotecas estão aí – sobrevivendo para isso. Realmente, basta querer.
Abraços.