Pois é. Decepção. A ideia é muito bem sacada, mas muito, muito, MUITO mal desenvolvida. Se você tira o fator “piadas sobre nosso futuro/nosso passado”, pans, o livro é chato. Não é só questão de chatice, é de ser vazio ou ainda, mais do mesmo. Melhores amigos que se apaixonam. Sério? Sério meeeeesmo? Chegou num ponto que eu já estava até querendo pular as páginas com momentos de Josh e Emma quando não estavam checando o Facebook, de tanto que parecia que aquelas páginas tinham sido escritas no piloto automático. Sei que terá quem se encante, sei que pessoas acharão o Josh fofo e blablabla, mas duvido que alguém termine de ler o primeiro capítulo sem já saber tudo o que acontecerá dali para frente.
Na maior parte do tempo as referências sobre os anos 90 beiram ao name-dropping, com citações completamente aleatórias de bandas do momento, o que é uma pena, porque em algumas passagens dá para perceber que os autores poderiam seguir com maior sutileza para retratar aquele período, como quando Josh estica o fio do telefone o mais longe possível para ter alguma privacidade, ou mesmo a briga sobre ter que desconectar para que alguém da família usasse o telefone (se você usou internet discada, sabe o quão chato era ter que largar uma conversa NAQUELE momento porque sua mãe tinha que ligar para sua tia ou algo que o valha). Mas aí talvez ler uma lista de problemas que você não tem desde os anos 90 seja mais divertido.
Aí tinham as piadinhas sobre o futuro, que inclusive fazem uma certa crítica aos nossos hábitos atuais. Como quando Emma se pergunta por que diabos as pessoas ficam escrevendo sobre pequenas aleatoriedades no Facebook, ou quando em uma das checadas no futuro Josh comenta que sente saudades de Plutão e Emma se assusta com o que pode ter acontecido com Plutão. Assim como as referências ao passado, aqui as piadas vão da sutileza ao óbvio em questão de segundos. Não sei como funcionou a escrita do livro (já que são dois autores), se a Mackler ficou com os capítulos sobre a Emma e o Asher sobre o Josh, mas é nítida a diferença na forma de tratar essas questões. E quando passado e futuro apareciam de forma mais sutil, eu até esquecia da parte ruim – e foi o que me motivou a ir até o fim do livro, caso contrário provavelmente teria abandonado a leitura no meio.
E aquele conflito com o padrasto? Por que OH DEUUUUUS POR QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE quase nenhum adolescente em livro YA consegue ter uma relação normal com os pais? Por que tem sempre um perrengue, algo para ser resolvido fora da trama central da obra? Sinto falta de protagonistas que não precisam lidar com um padrasto malvado, pais ausentes, doentes, dementes e variantes. Sabe, nem todo mundo cresceu em uma família disfuncional. E aí se for ver toda a lenga-lenga do padrasto pouco ou nada acrescenta à obra, e você fica pensando “Certo, isso era provavelmente para dar uma profundidade, releve.”. Mas é difícil, viu.
No final das contas achei fraco e realmente me decepcionei. Pior que agora eles já executaram a ideia, e se alguém fizer algo partindo da mesma premissa será plágio, piuft. Negócio é esperar até achar um livro que pelo menos retrate os anos 90 sem que a história principal seja na realidade só um pano de fundo para isso. Porque talvez o maior erro de O futuro de nós dois seja justamente esse: achar que só a sacada de falar do passado e do futuro já bastariam para salvar o livro, quando a maior parte dele é uma história que qualquer um que tenha lido pelo menos três YA na vida já viu em outro momento.
Últimas:
- Tão decepcionada que levei quase uma semana para falar dele aqui.
- Não quero ser chata, mas o AIM é mencionado várias vezes na história (que se passa em 1996, vale lembrar), sendo que ele só foi criado em maio de 1997.
- Tem booktrailer aqui (em inglês), para quem ficou curioso.
O gênero YA está ficando (ou já ficou?) previsível demais. Os caras leram a “Poética” de Aristóteles e inserem mini-reconhecimentos e mini-catarses só pra darem “densidade” aos seus enredos, que ainda assim continuam ruins.
Pena saber que você não gostou desse, Anica. Até estava curioso pra ler algo do Jay Asher, mas acho que vou ler aquele das fitas que eu esqueci o nome.
O problema é mais de desleixo, mesmo, sabe? Não tem problema repetir pela enésima vez a fórmula “garota se apaixona pelo amigo”, porque de fato isso acontece bastante. Mas coloca de um jeito mais sutil, como acontece em nossas vidas mesmo, não de um que logo de cara você sabe que eles vão ficar juntos no final, porque a história toda é sobre como eles ficarão juntos no final. ¬¬’ Irrita profundamente quando você percebe que o enredo tinha potencial, como era o caso desse.
Que livro é esse das fitas? Fiquei curiosa =P
Acho que quando o autor sente que precisa criar uma obra condicionada a certos temas ou a um plano comum, há sempre o risco de que ele jogue na cara do leitor a previsibilidade da trama. Por outro lado, há autores que sabem como ser sutis e ainda assim são previsíveis, mas tais fórmulas acabam mal sendo notadas ao considerarmos o “todo” – infelizmente, nem todo escritor é assim. 😛
“Thirteen Reasons Why”. Acho que foi traduzido e lançado pela Rocco, mas não tenho certeza.
poxa, deveria ter conhecido o cara por esse livro. estava lendo sobre ele aqui e parece bem interessante