A história começa com Seth Grahame-Smith contando que enquanto trabalhava como caixa em um mercadinho recebera de um cliente chamado Henry nada mais nada menos do que os diários de Abraham Lincoln. O que ele percebe logo que começa a ler é que há um elemento até então não conhecido na vida do presidente: ele fora um caçador de vampiros. Após a introdução, começamos a ler o que seria uma biografia de Lincoln – mesmo estilo de texto, mesma voz narrativa, as mesmas fotos ilustrando passagens descritas ao longo do livro – só que é aí que vem o truque de Grahame-Smith, que sem abrir mão do que já é conhecido sobre a figura política, inclui o elemento vampiro de forma muito engenhosa.
Vemos a história de Lincoln do começo até o fim, mostrando o que fez dele um caçador de vampiros para então passar a descrever suas caçadas e aí o que o levara a se tornar presidente. Pessoalmente, acho o livro fantástico até o momento anterior à eleição de Lincoln, até porque acho que o enredo dá uma breve desandada ali, fica um pouco exagerado demais, aquela coisa de vampiros querendo conquistar os Estados Unidos que chega até a soar meio ingênua. Porém, é necessária para a explicação do que fez um homem simples virar o presidente norte-americano, o que acaba incluindo no enredo histórias desde a época da colonização. Mas mesmo que o ritmo caia um pouco nessa parte, o desenvolvimento da personagem faz com que chegando ao fim o leitor perceba que no geral vale mais do que a pena acompanhar a história tal como Seth Grahame-Smith conta.
Até porque ele realmente é extremamente cuidadoso ao copiar o estilo de biógrafos, é realmente impressionante como ele consegue impor ritmo, ação e emoção para um estilo de texto que normalmente é bastante frio, independente da figura de quem se fala. Em partes isso se dá também ao fato de que o autor inclui personagens inventadas como Henry Sturges (fantástico! gostaria que tivesse mais dele no livro) e outras reais, como Edgar Allan Poe (sim!!).
E até por causa disso foi uma experiência muito legal. Abraham Lincoln caçador de vampiros é extremamente divertido, como um livro de aventura. O que justamente me fez repensar sobre Orgulho e Preconceito e Zumbis. Acredito que muito da minha decepção estava em ter lido o livro procurando as mesmas piadas de How to Survive a Horror Movie. Com Abraham Lincoln caçador de vampiros, Seth Grahame-Smith mostra que é possível pensar em um enredo que de tão absurdo chega a ser engraçado, e mesmo assim conduzi-lo de tal forma que não deixe nada a dever às boas e velhas histórias de vampiros já publicadas.
Em tempo: este ano chega o filme de Abraham Lincoln caçador de vampiros. Claro que há mudanças para a adaptação, mas ao que tudo indica dará um bom filme. Para quem se interessar (e ler em inglês), já tem uma wiki disponível sobre o título, que tem até uma categoria dedicada a apontar as diferenças entre filme e livro (como o filme ainda não foi lançado, claro que são poucas).
(Publicado originalmente no Meia Palavra em 20/04/2012)
Ok, hoje em dia é melhor enfatizar: vampiros como vilões, monstros. Não os vampiros bonzinhos que se apaixonam por humanas etc. etc. etc. ↩