Logo de cara para o que eu não gostei para que depois eu vá para o que eu gostei: o livro é MUITO previsível. Ridiculamente previsível. Previsível do tipo: personagem entra na história e você já sabe qual será o desfecho do livro, porque já viu ‘n’ filmes e leu ‘n’ livros assim. Pode ser falta de jeito de um escritor até então não tão experiente (lembrando, este foi o segundo livro publicado do Green lá fora), mas enquanto ele consegue ser bastante sutil e surpreender quando já maduro em A culpa é das estrelas, em O Teorema Katherine ele entrega apenas mais do mesmo. Não tem nada aqui que você já não tenha lido (ou visto) em histórias para adolescentes já contadas nos últimos anos. Além disso, acho que os conflitos das personagens são extremamente rasos, sem profundidade, quando o próprio enredo oferecia uma ótima oportunidade para falar dos desafios de tornar-se adulto de um modo mais sutil. E se usei a palavra “sutil” duas vezes em um mesmo parágrafo acho que dá para resumir a coisa toda como “falta de sutileza”. Mas veja bem, não estou me contradizendo sobre não poder comparar um com outro pelo intervalo de tempo. É um defeito do livro independente do que Green publicou depois. O problema é que pela ordem de publicação nem todo mundo aqui no Brasil ficará sabendo que O Teorema veio antes de A culpa, e para muitos ficará parecendo que a qualidade da escrita dele caiu, ao invés de evoluir. Então fica o aviso: Teorema veio antes. Não se esqueça disso. E sim, é previsível. Tente não se irritar com isso e leve em consideração os outros aspectos, e você terá algumas horas de diversão, posso garantir.
Ok, então para o que eu gostei. Primeiro que eu adorei a voz do narrador. Fazia tempo que eu não via um narrador tão engraçado, que deixa a história tão gostosa de acompanhar. Há marcas de oralidade como interjeições ou expressões que dão aquela boa e velha sensação do amigo que conta a história para você numa mesa de bar. Sabe, quando ao falar de uma situação inusitada ele antecipa aquilo com um “E juro por Deus que…”? Algo assim. Isso sem contar que ele não tem pudores de tirar sarro do protagonista: Colin não aparece como um garoto perfeito, sem qualquer defeito, e parte do que torna isso possível é justamente o modo como o narrador aponta sutilmente diversas “falhas” da personagem, inclusive no que diz respeito a sua genialidade. Ainda nessa mesma linha, há ainda a brincadeira com as notas de rodapé, que funciona muito bem (teria funcionado ainda melhor se eu já estivesse com meu kindle paperwhite em mãos, blé!), até como uma sátira aos textos acadêmicos. Quase todas elas surgem para causar um efeito de humor, normalmente através de quebra de expectativa do leitor. E são realmente engraçadas.
Aí tem a amizade entre Colin e Hassan, talvez o que eu mais tenha gostado no livro todo. Se você já teve um amigo assim, vai identificar a relação na hora: aquela coisa de nem precisar falar, compreender o outro só com olhares. As vezes em que diziam “Badalhoca” um para o outro, ou quando uma garota se apresenta e o nome parece bastante com Katherine e os dois pensam “ufa, foi por pouco”, o que mais do que cumplicidade representava um certo respeito pelos limites um do outro. Todas as passagens envolvendo interação de Colin e Hassan trouxeram lembranças da minha adolescência, o que me fez pensar que talvez o que faz com que John Green consiga encantar tanto os jovens é porque ele não esqueceu o que é ser jovem: suas personagens não são aqueles adolescentes pasteurizados de Malhações da vida, são pessoas que lembram muito o que você foi (ou, caso você faça parte do público alvo do livro, “o que você é”). É realmente muito gostoso, ao ponto de você se apegar às personagens e sentir um pouco de saudades quando o livro acaba.
O enredo em si é meio sem graça, e talvez por isso eu tenha me irritado um tanto com a previsibilidade da história (lei da compensação, achei que para um enredo mais do mesmo viria alguma surpresa pelo menos na forma de desenvolvê-lo): Colin toma um pé na bunda da 19ª Katherine da sua vida e está inconsolável. O amigo Hassan aparece sugerindo uma road trip para que ele esqueça a desilusão amorosa. Nesse meio tempo ele tem uma ideia sobre uma equação que permitiria prever quando alguém terminaria um relacionamento (e quem seria o “terminante”). E é isso. Como disse, não veria problema em um enredo sem sal se tivesse alguma surpresa pelo caminho, mas assim que Lindsey apareceu eu sabia o que aconteceria (ainda mais quando ficamos sabendo que o único namorado dela até então se chamava Colin também). Pô, John Green, dava para ter pesado menos a mão, né.
Mas insisto: se você busca diversão, o livro vale a pena. Mas tenha em mente que O Teorema Katherine é YA para YA meeeesmo, ao contrário de A culpa é das estrelas que é um YA que acaba servindo para todas as idades (hahaha lembrei do “In fact, I didn’t know The Fault in Our Starswas for young adults. I thought it was for adult adults!” fica a sugestão de leitura da zombie round do ToB, aliás), então sim, ele é bem mais leve e despretensioso, e talvez por isso mesmo lembre tanto uma Sessão da Tarde dos tempos em que você ainda podia se estirar no sofá e assistir Sessão da Tarde.
(Ah, sim, e antes que eu me esqueça, vale a leitura do post no blog da Intrínseca com a tradutora comentando sobre os desafios de O teorema (especialmente por causa dos anagramas de Colin). Só clicar aqui.)
Acho que não vale muito essa teoria de que a escrita do John Green evoluiu desde esse livro porque acabei de ler Looking for Alaska e achei muito superior ao A Culpa é das Estrelas, e foi o primeiro livro dele… sério, sensacional.
eu comecei a ler o alaska em português, mas tinha tanto erro (grotesco mesmo) que eu deixei de lado e resolvi tentar em inglês em um outro momento. mas se vc diz que alaska é bom, isso quer dizer que ele erra a mão em teorema mesmo =/
tive o mesmo problema e resolvi pegar em inglês. o que foi bom, porque gostei bastante da escrita do John Green no original. ele tem umas frases bonitas mesmo (não é à toa que tem tanta citação dele por aí).
mas, sim, dizem que esse das katherines é o mais fraquinho dele. estranho a intrínseca escolher logo esse pra seguir o baita sucesso que foi o A Culpa é das Estrelas (o que me lembra o caso do Marcus Zusac – todo mundo se encantou com A Menina que Roubava Livros e depois veio a porcaria do Eu sou o Mensageiro – e, ei, Intrínseca de novo).
hahahaah engraçado você falar isso, porque enquanto escrevia o post pensando justamente na má ideia de lançar uma mais fraco depois de um como a culpa é das estrelas, também pensei em exemplo da intrínseca, mas com a jennifer egan (a visita cruel do tempo seguida de o torreão).
sim! também tem esse. li o torreão antes (que ainda divulgaram como história de horror, argh) e quase desisti da visita cruel do tempo. ainda bem que a minha curiosidade é maior que meu medo de ler livro ruim, hehehe. mas, pô, Intrínseca!
Aposto que vai acontecer a mesma coisa com a Gillian Flynn e o Garota Exemplar, hehe
EDIT: aaaaaaaaaaaaah esqueci! tem o um dia e depois o resposta certa também hahahha
É a Maldição da Intrínseca!