Agora é que são elas (Paulo Leminski)

elasNo último dia 20 aconteceu na Livraria Cultura aqui de Curitiba um evento de lançamento do livro Toda Poesia, do Paulo Leminski. Se você, caro amigo caçador de autógrafos, já torceu o nariz pensando “Lançamento sem o autor? Pffft!” tenho que dizer que foi um dos eventos mais bacanas que já presenciei: a ideia foi de criar uma espécie de sarau, onde pessoas leram poesias do Leminski ou tocaram músicas que de alguma forma se baseavam na obra do poeta. Teatro lotadíssimo, um clima bacana e, por que não dizer, uma amostra grátis de um pouco do que aquele livro de capa laranja berrante tem para oferecer. Saí de lá morrendo de vontade de reler Toda Poesia. Saí também com um Agora é que são elas embaixo do braço.

Sobre o título, eu tinha uma vaga lembrança de um folder presente na bagunça do quarto do meu irmão (que eu adorava explorar em busca de cds para emprestar). O folder era de uma peça de teatro, que agora graças à Internet posso confirmar que era uma adaptação dirigida pelo Fiani, apresentada pela Cia Máscaras de Teatro (um beijo, Internet!). Mas talvez por não saber o quem é quem na época, fiquei com a ideia errada gravada na cabeça: de que Agora que são elas era um texto do Leminski escrito para teatro, e não um romance. Então na hora que abri o livro na Cultura tive uma baita surpresa – e por isso resolvi comprá-lo na hora. A saber: o livro foi originalmente publicado em 1984 pela Brasiliense (e lá vão quase 30 anos!), mas ganhou ano passado uma nova edição pela Iluminuras, que também relançou Catatau, com uma capa que faz jogo com a de Agora é que são elas, fica a dica para quem tem TOC. Continue lendo “Agora é que são elas (Paulo Leminski)”

De viagens no tempo e outras viagens

 

A: Nossa, DVD O Senhor dos Anéis por 29,90. E pensar que isso chegou a ser vendido por mais de 100 reais. Se eu pudesse voltar no tempo, diria para você “Não compre o DVD, não compre o DVD!”.

F: Mas eu não comprei o DVD.

A: Então eu voltei no tempo!

E se tem uma lição que tiramos disso, crianças, é que não vale a pena pagar os 99,90 que a mesma saraiva está cobrando hoje no blu-ray.

Hemlock Grove

É bem provável que a essa altura você já tenha ouvido falar de Hemlock Grovemas vale uma explicação. A série é uma produção original do Netflix, seguindo os moldes de House of Cards: o Netflix disponibiliza a temporada completa, o que eu acho excelente porque odeio aqueles intervalos das séries gringas que às vezes duram mais de um mês. Com as séries do Netflix (Arrested Development está chegando!) você define quando assistirá ao show e se um episódio terminar com um gancho daqueles extraordinários, não há qualquer necessidade de esperar no mínimo mais uma semana para saber como a história continua, basta um clique e lá vem outro episódio. Foi minha primeira experiência com o formato (ainda não vi House of Cards), e está aprovadíssimo. Não, eu não estou sendo paga pelo Netflix (em tempos de jabás para blogueiros é sempre bom lembrar, né) a real é que eu ultimamente me identifico muito com essa menina aqui.

Enfim, Hemlock Grove. Apesar de ser uma série de terror, eu não estava muito confiante. Primeiro porque o pôster de divulgação tinha um lobo, e vocês sabem, não suporto histórias com lobisomem fora Um lobisomem americano em Londres. Segundo porque a produção (e direção de alguns episódios) ficou por conta de Eli Roth – e o que eu vi de terror dele (Hostel), eu simplesmente detestei. Terceiro (e o mais importante): alguém já fez um levantamento de quantas sinopses de séries falam de “uma adolescente é brutalmente assassinada e começa a busca pelo assassino”? Pois é. Achei que seria tudo mais do mesmo e o pior, mais do mesmo com lobos. Mas como queria testar o formato Netflix (e sabia que logo começariam a chover spoilers nas redes sociais) resolvi começar a ver. Primeira imagem é essa aqui: Continue lendo “Hemlock Grove”

Rock n’ Roll e outras peças (Tom Stoppard)

O nome Tom Stoppard pode não soar muito familiar para você, mas vamos tentar estes aqui: Que tal Brazil, o filme? Ainda nas produções da década de 80, quem sabe Império do Sol? Ou ainda o papa-Oscar Shakespeare Apaixonado? Pois saiba que os roteiros desses filmes tem as mãos de Stoppard, seja em autoria, co-autoria ou adaptação. Não acha que são boas referências ainda? Que tal irmos para o campo em que ele realmente atua, o teatro? Ganhador de vários prêmios Tony, além de ser nada mais, nada menos do que “Sir” Tom Stoppard. Já deu para ter uma ideia da importância da figura, não?

É por isso que a publicação de Rock n’ Roll e outras peças pela coleção listrada da Companhia das Letras vem em tão boa hora. Eu já havia comentado em outro momento como fazia falta uma tradução de Rosencrantz and Guildenstern are Dead aqui no Brasil, imagine então minha alegria ao saber que não seria apenas essa peça, mas uma coletânea dos trabalhos de Stoppard que chegariam em português, traduzidas por Caetano W. Galindo. É livro para fazer os olhos dos amantes de teatro brilharem, e mais importante, é daqueles para apresentar Stoppard para um público que aprecia boa literatura.

A coletânea não está organizada por ordem cronológica, mas a forma como foi montada aproximou temas recorrentes do teatro de Stoppard, quase como se fosse uma galeria de quadros dos mais variados estilos na qual temos a oportunidade de ver um pouco de tudo que ele já fez. Stoppard já escreveu mais de 30 peças, a coletânea traz sete (oito se separarmos O Macbeth de Cahoot de O Hamlet de Dogg, embora o dramaturgo afirme que uma complementa a outra). Algumas delas vem com um texto introdutório de Tom Stoppard, explicando algumas questões sobre a criação do texto, característica de personagem, contexto, etc., o que é ótimo para uma leitura mais fluida dos textos. Continue lendo “Rock n’ Roll e outras peças (Tom Stoppard)”

O sentido (e a necessidade) de um fim

Comecei a assistir uma série de 1999 chamada Freaks & Geeks e gostei tanto, mas tanto, que já foram aí cinco episódios, em pouquíssimo tempo. Pretendo falar sobre ela mais além, mas hoje resolvi parar na grande pergunta que qualquer pessoa que também já viu Freaks & Geeks deve ter feito: por que diabos cancelaram a série com apenas um ano, já que ela é tão boa, tão legal, tão tão tão? Eu não sei quais eram os dados de audiência, se um número baixo influenciou a decisão (é o palpite mais provável, não?), mas de qualquer forma, não tem como não achar que foi injusto e que deveria ter durado muitas e muitas temporadas e não ser cancelado e come and play with us forever and ever and ever e…

Tá, Franco, me empolguei, foi mal.

Ok, acho que deu para ter uma ideia do que quero dizer. O fato é que não queremos que nossas séries favoritas acabem. Lembro aqui da primeira vez que aconteceu algo assim comigo: eu lá com meus 15, 16 anos, completamente apaixonada por Jordan Catalano Minha Vida de Cão, até descobrir que sim, as séries acabam assim, sem mais nem porquê. Dos tempos que ainda dependia da tv para assistir séries, lembro também de Jack & Jill, que eu tinha adorado mas que, bem, só um ano. E o que dizer quando você está lá virando canal na tv, assiste a um episódio de uma série, acha bacana e vai para o computador buscar mais informações, e aí descobre que ela foi cancelada? Aconteceu comigo com Accidentally on Purposeque também durou só um ano (há, vejo um padrão aqui). Então é isso, não queremos que acabe porque é bom. Por outro lado, pense aí em uma lista de séries que você abandonou porque começou muito bem mais depois de anos ficou ruim? Li notícia sobre o cancelamento de Dexter agora na oitava temporada e todos parecem ser unânimes “Já vai tarde”. Eu abandonei na terceira temporada, mas lembro que gostava muito. O que faz uma série ótima chegar ao ponto do “já vai tarde”? Bom, a resposta é óbvia: não saber quando é chegada a hora do fim.

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A probabilidade estatística do amor à primeira vista (Jennifer E. Smith)

Sem qualquer obrigação de leitura (não estou na faculdade, não escrevo para um blog com parcerias e, principalmente, não quero provar nada para ninguém) acaba que meus critérios para escolha de livros estão para lá de aleatórios. Tentei engatar leituras de terror por causa de Little Stranger, mas então vi este livro de capa fofíssima e título meio nonsense e pronto, já fiquei curiosa. Sim,é young adult, então se essa não for sua praia nem perca tempo, porque não tem nada que vá te surpreender em termos de escrita. Mas é tão gostosinho de ler, tão bonitinho, tão -inho, -inho que pelo menos para as meninas que gostam de uma história doce eu certamente recomendo este livro. Trocando em miúdos: tive mais sorte do que juízo, porque se o critério foi bocó, pelo menos o livro não foi uma perda de tempo.

Confesso que as primeiras páginas prenderam minha atenção porque eu simplesmente adoro essa teoria de que pequenos momentos banais dos nossos dias podem significar uma grande mudança em nossas vidas (acho que o exemplo mais lindo dessa ideia foi mostrado em um filme nacional chamado Não por acaso). Hadley por uma série de fatores acaba perdendo seu voo para Londres por exatos quatro minutos, e corre o risco de se atrasar para o segundo casamento de seu pai. Fica evidente logo de cara que a garota não está muito bem com a obrigação de estar lá, muito menos com o fato do pai casar novamente – o que a leva a questionar em muitos momentos o que diabos faz com que uma pessoa que tinha uma vida estável e boa largue tudo isso por causa de uma paixão.

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iDrakula (Bekka Black)

Já comentei diversas vezes que sinto que boa parte dos livros atuais ainda não conseguem retratar o impacto da internet no nosso cotidiano. Não só da internet, é claro, mas de todas as mudanças nas formas de se comunicar que vieram nos últimos 20 anos. Tem livro de adolescente em que o adolescente não manda mensagem de texto ou NUNCA dá uma olhadinha nos emails, por exemplo. Dude, existe algum adolescente que não manda mensagem de texto nem dá uma olhadinha nos emails nos dias de hoje? Não entenda mal, não é uma questão de verossimilhança: os autores criam um universo próprio, se nesse universo adolescente não twitta, tá tudo certo, leia logo a história e não seja xarope, Anica. Oooooook. Mas enfim, o anacronismo chama minha atenção, e por isso fico até surpresa quando encontro um livro que tenha algo aproximado do que é o cotidiano de uma pessoa nos dias de hoje.

E se falo isso tudo, é para explicar o que fez com que eu começasse a ler iDrakula, de Becca Black. Pela sinopse, entendi que a ideia era trazer a história de Drácula para os dias atuais, justamente com a adição do elemento “internet” no enredo: Mina, Jonathan, Lucy, etc seriam personagens que trocariam e-mails e mensagens de texto, ao invés de trocarem cartas como acontece no romance de Bram Stoker. O negócio é que mesmo sabendo do que se tratava o livro, nada poderia me preparar para o susto que foi, logo na primeira página, dar de cara com isso aqui:

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Room 237

Se um dia eu e o Fábio participássemos daqueles programas de auditório em que o casal tem que responder perguntas um sobre o outro, na pergunta “Qual o filme de terror favorito da Anica?” Fábio acertaria com toda certeza, respondendo “O Iluminado“. Sei disso porque dia desses perguntei para ele, e a resposta foi correta, há. Enfim, eu sei que meu favoritismo oscila bastante entre esse e A espinha do diabo, mas no final das contas o longa de Stanley Kubrick sempre sai ganhando pelo fator nostalgia (já que a primeira vez que vi ainda era criança). E se estou falando tudo isso é só para dar a dimensão da minha curiosidade sobre o documentário Room 237, que busca dissecar algumas teorias de conspiração envolvendo a adaptação cinematográfica desta obra de Stephen King.

O filme é montado da seguinte maneira: imagens de O Iluminado e outros filmes (como De Olhos bem Fechados e A Lista de Schindler) formam uma espécie de colcha de retalhos, ilustrando os depoimentos de alguns entrevistados sobre as tais das teorias de conspiração. Algumas delas eu tenho certeza que você já ouviu por aí, como a de que O Iluminado é um jeito de Kubrick falar sobre a participação dele na falsa gravação dos primeiros passos do homem na Lua; ou a de como o filme conta de maneira subliminar o massacre sofrido pelos índios nos Estados Unidos. Confesso que nunca acreditei em nenhuma dessas teorias: vejo O Iluminado como um filme de horror, e se formulei alguma teoria a respeito do filme não foi sobre significados ocultos, mas mais sobre o que diabos o hotel Overlook fez com o Jack. E olha, continuo não acreditando. E aí que eu acho que o que é bacana nesse documentário não é a argumentação dos entrevistados, mas mais alguns detalhes que eles apontam.

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Abraham Lincoln caçador de vampiros (Seth Grahame-Smith)

Quando gosto muito de um autor costumo dar uma segunda chance caso ele me decepcione. Foi o que aconteceu com os livros que li de Seth Grahame-Smith: o primeiro, How to Survive a Horror Movie (ainda sem tradução no Brasil) achei fantástico. Aí chegou Orgulho e Preconceito e Zumbis e foi simplesmente uma decepção. Resolvi dar a tal da segunda chance com Abraham Lincoln caçador de vampiros, e agora fiquei com a sensação de que muito do que não gostei de Orgulho e Preconceito e Zumbis está em ter procurado humor onde não havia humor. Porque é óbvio que ao ler um título que una o nome de um dos mais famosos presidentes americanos com um dos monstros da moda, dá a sensação de que será uma piada atrás da outra (como em How to Survive a Horror Movie), tanto quanto a inclusão de “e Zumbis” no título do romance de Jane Austen. Mas o que Seth Grahame-Smith faz é construir uma aventura das boas usando uma personagem conhecida como ponto de partida. Não vou negar que há alguns momentos de humor, mas são mais leves.Abraham Lincoln caçador de vampiros deve ser lido como você leria qualquer livro que tenha vampiros.1

A história começa com Seth Grahame-Smith contando que enquanto trabalhava como caixa em um mercadinho recebera de um cliente chamado Henry nada mais nada menos do que os diários de Abraham Lincoln. O que ele percebe logo que começa a ler é que há um elemento até então não conhecido na vida do presidente: ele fora um caçador de vampiros. Após a introdução, começamos a ler o que seria uma biografia de Lincoln – mesmo estilo de texto, mesma voz narrativa, as mesmas fotos ilustrando passagens descritas ao longo do livro – só que é aí que vem o truque de Grahame-Smith, que sem abrir mão do que já é conhecido sobre a figura política, inclui o elemento vampiro de forma muito engenhosa. Continue lendo “Abraham Lincoln caçador de vampiros (Seth Grahame-Smith)”


  1. Ok, hoje em dia é melhor enfatizar: vampiros como vilões, monstros. Não os vampiros bonzinhos que se apaixonam por humanas etc. etc. etc.