A identificação com a situação foi instantânea, por isso queria ver como a trama se desenvolveria. Minha primeira (boa) surpresa ao ter o livro em mãos foi perceber que ele tinha ilustrações de Maira Kalman representando os objetos dos quais Min está falando. A arte é muito legal, e o efeito que provoca ver o objeto e então ler o que Min tem a falar sobre ele acaba de certo modo reproduzindo a sensação que teríamos se fôssemos Ed, abrindo a caixa e vendo aos poucos aquelas recordações, revendo tudo o que passaram juntos nos poucos dias de namoro.
Aí entra um pouco a faixa etária para a qual o livro é destinado. É evidente que trata-se de uma obra direcionada especialmente para o público jovem, que se verá na relação de Min e Ed mesmo que ela seja tão obviamente marcada por valores dos jovens norte-americanos (a questão do garoto do time de basquete ser o popular, por exemplo). Mas o motivo principal, de dois mundos diferentes colidindo, é algo universal, que acontece lá, acontece aqui e em qualquer lugar. Min vivia em outro mundo quando Ed entrou em sua história, e o que ela deixa evidente em sua carta é que o fracasso da relação se deu justamente pelas realidades diferentes, que acabam se traduzindo em interesses diferentes, conceitos diferentes. E o fundamental: o que é importante para um pode passar despercebido para o outro.
Mas quando falo da idade do público-alvo é porque acredito que o livro possa apresentar um obstáculo para as pessoas mais velhas (especialmente aquelas que já esqueceram o que é ser adolescente). Chega um momento em que o garoto fala para Min que eles estão juntos há 26 dias. E então você, leitor adulto que está lendo Por isso a gente acabou porque foi escrito pelo autor de Desventuras em Série, logo se questiona: “como assim só 26 dias? Essa menina está com o coração partido desse jeito por só 26 dias?”. Digo isso porque foi o que passou por minha cabeça em dado momento. Mas aí logo lembrei de quando era mais nova, de todos os grandes amores que surgiram de uma noite aleatória e marcaram minha vida para sempre. O que quero dizer é que hoje em dia na segurança de um relacionamento estável de anos, somando mais a experiência, é fácil julgar Min como uma carente louca por um romance de filme, mas não acho que o comportamento dela fuja tanto do normal. E acho que é o resgate dessa lembrança, do que era amar quando se era mais novo que faz o livro ser tão gostoso de ler mesmo se você não faz parte do público-alvo da obra.
Na realidade, o livro todo é delicioso, seja pela nostalgia, seja por conta da história em si. A cada página que passa o leitor vai se encantando mais e mais por Min e Ed, torcendo por eles e ficando cada vez mais curioso para compreender como foi que eles acabaram – o que deu errado quando eles pareciam tão dispostos a fazer o relacionamento funcionar. Alguns elementos são colocados pelo autor de modo a ampliar esse mistério de como eles rompem o namoro (afinal, o título é Por isso a gente acabou, então não é nenhum spoiler revelar que sim, eles terminam), como o comportamento da irmã de Ed em algumas situações, ou algumas falas dele que parecem ficar no ar mas que fazem todo sentido no fim.
Há apenas duas coisas que ainda não digeri muito bem sobre o livro (ou, piada interna para quem já leu: não tenho opinião formada). A primeira é sobre as referências ao cinema. Eu ainda não fui checar no Google, mas vá lá, não sou tão perdida assim com cinema, então acredito que nomes de filmes e atores citados por Min são inventados, assim como as dezenas de cenas que ela descreve como comparação aos momentos em que está vivendo. Pessoalmente acho que teria sido muito mais bacana ter usado elementos reais ou, caso sejam reais, menos obscuros, criando uma possibilidade de identificação rápida para o leitor. Não apenas isso, como também poderia servir de sugestões de filmes para assistir para quem desconheceria alguns dos títulos. Sempre ouvi dizer que um dos pontos positivos de Desventuras em Sériesão as “n” referências literárias, que estimulam os leitores a procurarem outros autores ali citados, de repente o efeito fosse o mesmo caso os filmes comentados por Min fossem reais.
Outra coisa é o comportamento de Ed no final da história, confesso estar bastante confusa sobre o que penso do que aconteceu. De primeira me pareceu como uma coisa forçada, “tá aí, por isso eles acabaram”, e fiquei pensando em como relacionamentos não precisam de um evento em específico para acabar. Esperava que com Min e Ed fosse assim, que em uma hora eles simplesmente percebessem que não se amavam mais. Por outro lado, fico pensando sobre a questão do choque de diferentes realidades, e aí as ações de Ed me parecem coerentes. Ainda não decidi por qual lado sigo, e tenho quase certeza que meu julgamento é bastante afetado pelo Ed que Min apresenta antes da parte final do livro.
Mas quero frisar: são só coisas que ainda não digeri muito bem. Não vejo exatamente como aspectos negativos, e tenho quase certeza que isso poderá passar batido para muito leitor (inclusive a questão dos filmes fictícios). No final das contas eu me diverti, me emocionei e fiquei com gosto de quero mais ao terminar Por isso a gente acabou. Fica aquela vontade de saber o que aconteceu depois que Ed recebeu a caixa, ou qual os efeitos do “presente” para ele. Mais ainda, qual a versão dele para o que aconteceu. Enfim, delicioso, até porque convenhamos, todo mundo já teve o coração partido um dia e sabe bem o que Min queria colocar naquela carta.
(Post originalmente publicado no Meia Palavra em 17/05/2012)