Aí que este mês quase só li clássicos e lembrei dos tempos da universidade, que meio que achava que qualquer tempo gasto com literatura de entretenimento era tempo jogado fora. E de como hoje em dia mudei essa visão, e me permito ler para me divertir, e inclusive abandonar livros se estiver achando muito chato. E então me dei conta de como nós mesmos mudamos como leitores, e como existem diversos tipos de leitores por aí.
Se você frequenta fóruns de literatura ou redes sociais voltadas ao assunto, esses variados tipos ficam ainda mais evidentes. E foi pensando nisso (e em tudo o que eu já fui como leitora) que resolvi elaborar aqui uma listinha de tipos de leitores. É bem provável que você nem se veja em nenhum deles (ou talvez se veja em mais de um), mas fica até como uma proposta de exercício para que você reflita como é como leitor.
O INSEGURO: Ele gosta de ler, gosta mesmo. Mas tem medo de que os outros o julguem por gostar de ‘x’ e não gostar de ‘y’. E aí sua lista de livros para ler é formada quase que totalmente por sugestões de pessoas que ele admira, ou daquelas coletâneas “1001 livros para ler antes de morrer” da vida. O maior problema desse tipo de leitor é que ele pode nunca chegar a descobrir o que de fato gosta.
O CHATO: Tem gente que leva a ideia de “leitura crítica” meio à sério e não consegue ler coisa alguma sem dizer que não gostou. A metralhadora de “não gosteis” vai desde o óbvio (as listas de bestsellers do momento) até alguns improváveis cânones literários. É o fulano que vai dizer que acha Shakespeare superestimado, Tchecov ruim e não entende porque elogiam tanto Machado de Assis. O detalhe: ele nunca vai saber explicar o motivo dessas opiniões.
O ESCRAVO DO CÂNONE: Ele é um pouco inseguro, mas mais do que isso é aquele que já fez as contas do pouco tempo que tem para ler poucos livros, e aí tomou a decisão pessoal de só ler clássicos, livros já aprovados por décadas e décadas de crítica. O maior problema do escravo do cânone é que ele não se permite não gostar de um clássico. A culpa é dele, não do livro.
O COMPULSIVO: Com esse não tem tempo feio, o que cair em mãos ele está devorando. De Paulo Coelho à Dostoiévski, ele lê, lê, lê. Ele lê tanto que fica agoniado quando chega em casa e percebe que não tem nada para ler. O maior problema de ser um compulsivo é a falta de critério, que pode levar a muitas e muitas experiências ruins (afinal, se você não gosta de terror por que vai perder tempo com Stephen King?).
O ANTENADO: Quer saber os nomes dos queridinhos do momento? Converse com ele. É o que melhor indicará o caminho para os autores contemporâneos, porque a mania dele é exatamente essa: ler só obras atuais.
O OBSCURO: Guimarães Rosa ele leu na escola, agora que está livre de obrigações ele quer mais é nomes estranhos de países distantes. Será sua melhor fonte de sugestões quando você estiver com vontade de sair da mesmice e topar com escritores da Croácia, Noruega, Nova Zelândia…
O EGOÍSTA: Ele tem um quê de Obscuro, gosta de ler coisas que aparentemente ninguém conhece ainda. Por outro lado, ao contrário do Obscuro que está sempre pronto para sugerir novos títulos, o Egoísta quer continuar sendo o único a conhecer um determinado autor. E aí quando outras pessoas começam a falar desse mesmo autor, ele diz que é modinha e parte para outro. Você deve conhecer esse tipo quando fala em Música também.
O COMPARTILHADOR: É o extremo oposto do Egoísta. Ele se empolga tanto, mas tanto com uma determinada obra que aí quer que todos os seus amigos e conhecidos também leiam. É ele que vai comprar o mesmo livro para dar de presente de aniversário para os amigos, e é ele que vai todo dia te procurar ao vivo ou no messenger com a pergunta “E aí, já leu? Gostou?”.
O FINGIDOR: Este é um tipo de leitor moderno, que só passou a existir depois do Google. Ele não leu Crime e Castigo, ele não leu Esperando Godot, ele não leu O Retrato de Dorian Gray. Em compensação, resumos na internet ele leu um monte. A desvantagem de ser um fingidor é tão óbvia que eu realmente não compreendo como alguém prefira ser um. Nunca é demais lembrar: fingidor é o poeta, não o leitor.
O FETICHISTA: Ele não percebeu ainda, mas não é bem de ler que ele gosta, mas dos livros. É o sujeito que tem três edições diferentes do mesmo livro em casa, aquele que quase chora quando vê que uma editora está lançando um livro com tiragem limitadíssima e numerada, os que entendem mais de capas e qualidade de papel do que de enredo. Se você é um apaixonado pela leitura provavelmente o odeia secretamente, especialmente quando ao visitá-lo você comenta sobre a quantidade de livros e ele responde com um risinho “Ah, ainda nem li”.
O ESPECIALISTA: Ele se baseia fortemente na máxima do “não é o que você diz, mas como diz”. Chega em qualquer discussão como profundo conhecedor, mas esquecendo de uma das características mais importantes do livro: não há uma única leitura ou interpretação possível, não há certo ou errado quando se fala da experiência como leitor. O Especialista às vezes faz um combo Especialista + Chato, turbinado com wikipedia e Google. Fuja desse tipo, não vale a pena conversar de livros com eles.
O BÁSICO: Ele não quer problemas, quer só é ler e ter umas boas horas de diversão com um livro bacana. Ele não vai entrar em discussões com o Especialista, por exemplo. Muito provavelmente não vai entrar em discussões com ninguém, para ser mais exata. No máximo recomendará algum título quando alguém pedir sugestões, e continuará lendo de tudo um pouco, aproveitando o que um livro tem para oferecer.
(Publicado no Meia Palavra em 31/08/2011)
Sou meio compulsiva-compartilhadora-básica. Não tenho todas as características de nenhum dos três, mas tenho algumas das mais marcantes. E as características costumam ser mais acentuadas em determinadas épocas. Quando eu estava no ensino médio, era a clássica compulsiva. Foi assim que li muito Paulo Coelho (e me diverti, hahaha), e li Ulysses, e li Hamlet, etc. Depois que comecei a frequentar os ambientes internérdicos, minha faceta compartilhadora se tornou mais evidente. Sempre encho a paciência das pessoas para lerem os trecos que eu tô lendo (fiz isso com “Garota Exemplar”, hahahah). E básica, bem… eu costumo gostar de uma briga, mas acabo sendo básica por preguiça de uns Sejongs da vida.
a preguiça tb me faz básica na maior parte das vezes, mas tem coisa que nãããão dá para deixar quieto =F minha parte compartilhadora eu acho que fica mais evidente até pelo blog (caso contrário, nem escreveria sobre o que leio e talz)