O enredo encanta porque, embora melancólico, é de uma doçura surpreendente. Temos inicialmente um pescador chamado Crisóstomo, que ao chegar nos 40 anos se dá conta que por conta de fracassos na vida amorosa é agora um homem sem filho. E ele realmente acredita que um filho o tornaria completo, tiraria dele uma tristeza na qual mergulhara. “Via-se metade no espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausência e silêncios como os precipícios ou poços fundos“. Sai então procurando alguém que o aceite como um pai, para encontrar Camilo, metade como ele que com Crisóstomo forma algo inteiro, completo. Até que o menino sugere ao pai que busque uma mulher, para que seja o dobro.
Mês: março 2013
Do Kindle 3 para o Kindle Paperwhite
Já vão aí uns três anos desde a primeira vez que “experimentei” o kindle do Fábio e mandei para as cucuias todo o meu preconceito sobre e-readers e disse “Quero um também!”. Não vou dizer que foram anos tranquilos, já que aqui em casa nossos kindles estragaram um número suficiente de vezes para que eu ficasse traumatizada e sempre sentisse aquele medo de “Será que a tela vai congelar?” cada vez que puxava o botão para ligar o aparelho. O outro ponto negativo era que meu kindle 3 não tinha luz. Isso não é de fato um problema se você: a) tem uma luz boa na cabeceira da sua cama ou b) não precisa se preocupar com a energia caindo na sua rua cada vez que cai uma chuva mais forte.
Não era bem o meu caso. A luz da minha cabeceira era fraquinha, e eu só conseguia ler virada para a esquerda. Se virasse para a direita, tinha que forçar a vista. E sim, só durante este verão foram pelo menos duas noites lendo com uma lanterninha xumbrega que temos para os dias em que a energia cai por aqui. Por isso quando chegaram as notícias sobre o Kobo Glo sendo vendido no Brasil, já comecei a ficar toda animada para trocar o aparelho. Matava dois coelhos com uma cajadada só: não tenho trauma de Kobo com tela congelada e teria a luz para a leitura à noite.
Por isso a gente acabou (Daniel Handler)
A identificação com a situação foi instantânea, por isso queria ver como a trama se desenvolveria. Minha primeira (boa) surpresa ao ter o livro em mãos foi perceber que ele tinha ilustrações de Maira Kalman representando os objetos dos quais Min está falando. A arte é muito legal, e o efeito que provoca ver o objeto e então ler o que Min tem a falar sobre ele acaba de certo modo reproduzindo a sensação que teríamos se fôssemos Ed, abrindo a caixa e vendo aos poucos aquelas recordações, revendo tudo o que passaram juntos nos poucos dias de namoro. Continue lendo “Por isso a gente acabou (Daniel Handler)”
American Horror Story: Asylum
Pois bem, toca aí o tema de abertura (assustador, mas ainda acho o da primeira temporada mais horripilante). Por desencargo de consciência vou já avisando que este post fala da segunda temporada como um todo, e portanto está cheio de spoilers, ok? Ok. Então vamos lá. Logo no primeiro episódio fica evidente o que é que eles tinham em mente: é como se cada temporada de American Horror Story fosse uma nova série de terror estreando na tv. Ao entrar em Briarcliff logo fica evidente que agora as regras do jogo mudaram: esqueça as histórias de espíritos presos a uma casa, o horror agora é outro. Na realidade, outros: não se economiza em possibilidades de assustar: ets, médico louco, serial killer, freira sádica. De tudo, um pouco.
Locke & Key (Joe Hill/ Gabriel Rodriguez)
Reza a lenda que a IDW Publishing tinha procurado o Hill para publicar uma versão em quadrinhos da coletânea de contos Fantasmas do Século XX, mas então o autor ofereceu o título até então inédito, e a editora acabou publicando. O que pessoalmente acho muito inteligente da parte da IDW, porque Fantasmas do Século XX é só “meh”, mas Locke & Key é muito legal – das coisas escritas pelo Hill que eu já li, fica só atrás de A estrada da noite.
O Circo da Noite (Erin Morgenstern)
Muitas pessoas torcem o nariz para livros de fantasia, isso é fato. Mesmo que autores como J.R.R. Tolkien e J.K. Rowling conquistem legiões de fãs, parece que livros desse tipo estão sempre com o estigma de “literatura de entretenimento”, como se por serem assim não tivessem qualquer qualidade. Não é verdade. O simples fato de conseguirem nos transportar para um lugar onde as regras do “mundo real” não são mais válidas, de nos permitir romper um pouco com nossa chata realidade já é, por si só, um aspecto mais do que positivo. Pensei nisso enquanto me maravilhava com Le Cirque des Rêves, criado por Erin Morgenstern em seu romance de estreia, O Circo da Noite. Não há outro verbo, é maravilhar mesmo, imaginando pequenos momentos descritos pela escritora e pensando em como isso ficaria lindo se visto “na vida real” (ou, pelo menos, em um filme).
A premissa é até bastante simples: uma garotinha de cinco anos é entregue ao pai logo após a morte de sua mãe. O pai é Próspero, um grande mago (embora não se refira a si mesmo como tal), que finge ser um ilusionista (se não ficou claro, a ideia é parecida com a do Teatro dos Vampiros em Entrevista com o Vampiro, só que ao invés de vampiros estamos falando de pessoas que conseguem manipular a realidade). O sujeito resolve envolver a filha em uma espécie de desafio com outro mago, que acolherá um pupilo para tal fim. O desafio em si não fica claro nem para a menina (Celia) nem para o rapaz (Marco) e ok, nem para o leitor – e em partes é isso que prende a atenção de quem tem o livro em mãos, descobrir o que é o tal do duelo entre Próspero e Alexander.
Garota Exemplar (Gillian Flynn)
Mas ok, comecei a ler. E poucas páginas depois, já não queria mais abandonar o livro, principalmente quando percebi a jogada que Flynn começou a fazer com as opiniões que o leitor tinha das personagens. E se menciono isso já, assim, segundaparagrafamente, é porque quero dar um aviso para você que ainda não leu Garota Exemplar: fuja da campanha de marketing da editora. Não leia sinopse do livro, orelha, nem nada. Algumas informações que estão sendo colocadas para anunciar o livro acabam te colocando na pista errada e, o principal, afetando seu julgamento das personagens de uma forma diferente do que deveria ocorrer. Sobre isso falo um pouco mais para frente, aguenta aí.
A questão é que minha cabeça está aqui cheia de ideias a serem comentadas sobre o livro, mas não queria estragar a experiência inicial de ninguém, portanto fica a velha recomendação: volte quando tiver acabado de ler. Por incrível que pareça, esse meu cuidado nada tem a ver com o enredo principal que tem sido apresentado por aí (mulher desaparece, marido é o principal suspeito, etc.), aliás, eu acho que é o tipo de livro que “sobrevive” muito bem mesmo que revelem spoilers, só que fica aquela sensação de chupar bala sem tirar o papel (há!). Avisados? Ok, então agora vamos por partes. Três, como no livro.
Max e os Felinos (Moacyr Scliar)
A edição que ganhei da Clara veio sete anos após a polêmica de 2002 envolvendo o canadense Yann Martel, portanto já veio “equipada” com alguns itens para quem deseja informações sobre a questão do plágio: uma introdução escrita pelo próprio Scliar em 2003, além de Zilá Bernd chamado De trânsito e de sobrevivências, que traça um paralelo entre as duas obras, mostrando suas óbvias semelhanças. Como não queria afetar meu julgamento sobre a questão, deixei para ler esse texto depois (mas que achei bem interessante, com algumas interpretações que passaram batido para mim inicialmente). De qualquer forma, acredito que os dois estarão presentes na nova edição, por motivos óbvios.
Canibais, baleias e o medo ou: Santa coincidência, Batman!
Pois veja como são as coisas: no começo da semana recebi do Matheus Lins via twitter o link para um texto falando sobre o evento que inspirou Herman Melville a escrever Moby Dick, chamado The True-Life Horror that Inspired Moby-Dick (você jura, Anica?). Enfim, o texto é assustador e eu recomendo fortemente a leitura (mas já aviso que sim, está em inglês). O engraçado é que eu realmente desconhecia a história do Essex, e ao mesmo tempo ela me parece tão familiar: lembra muito The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket e todas aquelas coincidências envolvendo o nome Richard Parker (sim, o do tigre de As aventuras de Pi).
Enfim, acabei lendo o texto apenas ontem a tarde e deixei a janela aberta para comentá-lo depois. Então, à noite, estava dando uma olhada básica na lista de videos disponíveis no site do TED, e um chamou minha atenção. O título era “O que o medo pode nos ensinar”, e quem falava era a Karen Thompson Walker, autora de A idade dos milagres. Adivinha que história ela conta no video? Sim, a do Essex.
Tanta coincidência só podia ser um sinal de que eu tinha que compartilhar este link aqui no blog. Fica a sugestão então, The True-Life Horror that Inspired Moby-Dick (sem tradução) e O que o medo pode nos ensinar (com legendas em português). E aproveita que já está no site do TED e vê logo o video da Amanda Palmer, que derreteu meu coração gaimete e de quem agora sou fã: The art of asking (ainda sem legendas em português).
Tipos de leitores
Aí que este mês quase só li clássicos e lembrei dos tempos da universidade, que meio que achava que qualquer tempo gasto com literatura de entretenimento era tempo jogado fora. E de como hoje em dia mudei essa visão, e me permito ler para me divertir, e inclusive abandonar livros se estiver achando muito chato. E então me dei conta de como nós mesmos mudamos como leitores, e como existem diversos tipos de leitores por aí.
Se você frequenta fóruns de literatura ou redes sociais voltadas ao assunto, esses variados tipos ficam ainda mais evidentes. E foi pensando nisso (e em tudo o que eu já fui como leitora) que resolvi elaborar aqui uma listinha de tipos de leitores. É bem provável que você nem se veja em nenhum deles (ou talvez se veja em mais de um), mas fica até como uma proposta de exercício para que você reflita como é como leitor. Continue lendo “Tipos de leitores”