Confesso que não conhecia Julian Barnes, embora ele já tenha publicado onze romances. Foi o fato de o último livro dele, The Sense of an Ending ter levado o Man Booker desse ano que chamou minha atenção para o título. A sensação que ficou ao ter acabado o romance em questão foi um misto de alívio por saber que tenho mais do autor para conhecer e arrependimento por nunca ter lido algo dele antes. Não dá para economizar elogios, é realmente um livro fantástico.
E como todo livro bom, falar do enredo pode ser perigoso, passar uma falsa ideia de que é simples. Cabe então frisar que embora The Sense of an Ending gire em torno das memórias de Tony Webster, especialmente em seu relacionamento com seu primeiro amor Veronica e sobre sua amizade com Adrian, ele é muito mais do que isso. Há camadas e camadas nesse romance, muito para se absorver. Tanto, que após lido há uma sensação de urgência em encontrar mais alguém que também o conheça para poder conversar sobre ele.
Não é difícil explicar de que forma Barnes nos captura completamente com o livro. Seu narrador, Webster, é um homem de meia idade que resgata momentos de sua vida que são familiares para qualquer um. Aquela ideia de que seus amigos da escola serão seus amigos para sempre, uma certa decepção ao perceber que cada um segue seu caminho e acabam se distanciando. O primeiro amor que invariavelmente é também o primeiro coração partido. É o que vemos na primeira parte do livro, onde um Webster ainda sério analisa essa fatia de sua vida que parece ter sido fundamental para o que ele se tornou.
É interessante chegar na segunda parte e perceber quantas pistas o narrador deixou para o leitor sobre o desdobramentos dos eventos que então surgiriam. Há no discurso de Webster uma repetição do que é História, que vai desde repetidos momentos descrevendo discussões em sala de aula até opiniões pessoais sobre o tema. A mistura do que seria “life story” com “History” está em todo o livro, como quando o narrador diz:
How often do we tell our own life story? How often do we adjust, embellish, make sly cuts? And the longer life goes on, the fewer are those around to challenge our account, to remind us that our life is not our life, merely the story we have told about our life. Told to others, but – mainly – to ourselves.
E então chegamos na segunda parte e compreendemos o que o narrador tanto nos ansiava dizer, para o que nos preparava. E é até engraçado perceber que chegando nesse ponto ele “relaxa”, sendo até engraçado em algumas passagens (especialmente quando se aproxima mais do fim). O Webster então nostálgico e até melancólico passa a ter uma fala mais leve, naquele bom e velho humor britânico e que em alguns momentos lembra Nick Hornby até.
É realmente apaixonante, cativante. Talvez por Webster não ser nenhum sujeito perfeito acima de qualquer suspeita, mas mostrar ao longo de sua história o quanto era como qualquer um de nós. De como muito do que ele diz parece de alguma maneira familiar, e até por conta disso dê vontade de grifar o livro todo e, como disse antes, de sair conversando sobre ele com outras pessoas. Há perguntas ali que sei que só posso fazer para quem já leu. E até por isso deixo como recomendações para The Sense of an Ending:
1. LEIA este livro (por favor, preciso falar sobre ele com alguém).
2. Quanto menos você souber sobre o enredo, melhor será sua leitura.
Os direitos de tradução do autor aqui no Brasil estão por conta da editora Rocco, mas não duvido que ainda no ano que vem ele já chegue nas livrarias daqui. Mas se você lê em inglês, não fique esperando, não. É realmente um daqueles que vale a pena ler (e, acredito, reler).
Update 2013: O livro saiu em 2012 pela Rocco como O sentido de um fim, e chegou a ser vendido no Submarino por 9,90 (ou seja, fica de olho que de repente a promoção volta). E se estiver empolgado para falar sobre o livro, tem uma discussão lá na Valinor com algumas boas teorias sobre a conclusão da história.
assim que vi sua resenha positiva sobre ele, consegui após meio mês de lançado um, a troco do meu a batalha do apocalipse só falta ler… e falando nisso minha lista de desejados sempre parece imensamente melhor que a de lidos rsrsrrsrs
a minha de desejados e comprados. impressionante isso, só aumenta +_+
opa eu mesmo ando viciado em trocar livros, e vou só acumulando pq ando na facudade ai fico sem tempo 🙁
Recebi e já li o livro hoje mesmo. Quando vi o tamanho até pensei “será?”… hehehe… Ótima indicação Anica!
Que bom que você gostou =D Eu estou querendo reler agora, para ver se percebo alguma cisa que possa ter passado batido =F
Acabei ontem à noite. Uma viagem de montanha-russa. Demorei um pouco mais para ler do que havia imaginado (afinal, é um livro pequeno); mas eu parava bastante a leitura, sem sentir, para divagar. O texto faz isso, nos transporta para reflexão sem que ao menos sintamos. As ideias estão todas entrelaçadas, nada é desperdiçado. Não há informação inútil. Adorei mesmo.