Há tempos que tenho pensado sobre algo que li no blog da Amanda Palmer, no post em que ela falava sobre seu casamento com Neil Gaiman. O post todo é lindo, independente de você gostar ou não do casal, vale a pena ler, mas fiquemos com o trecho em questão. Diz Amanda Palmer:
i don’t want to live to document my moments. i don’t want to see a sunset and reach for my iPhone. i don’t want to live my life and love my loves inside out. i fear, sometimes, that i do. i fear for all of us. and in these moments, i find non-action is the only antidote. or something like that.
Eu acho que entendi direitinho o que ela quis dizer, porque eu tenho um medo parecido. Hoje em dia, ao mesmo tempo que a internet acaba nos aproximando de modos que antes seriam difíceis de imaginar (do tipo: acabo de enviar um tweet para uma pessoa do Rio Grande do Sul e deixar um comentário no facebook de uma pessoa do Rio de Janeiro), por outro lado parece nos afastar do mais básico, que é viver o momento. Não por acaso temos aquela famosa piadinha de How I Met Your Mother:
Atire a primeira pedra quem nunca ficou “offline” na mesa do bar para ficar online no twitter, comentando exatamente o que acontecia ali. Ou postando uma foto de todo mundo presente com uma legendinha bacana no Instagram. Mal chegou no restaurante e dá check-in no Foursquare comentando o quanto demorou na fila de espera. Coisas assim.
Amanda Palmer usa a expressão “documentar meus momentos” que eu acho servir bem para essa nossa mania de querer deixar registrado cada movimento que fazemos. E a verdade é que tem tempos que, pensando nesse hábito, fico observando algumas fotos e comentários que aparecem pelas redes sociais e não consigo deixar de pensar em situações como:
1. No restaurante, chegam os pedidos de todos na mesa. Sujeito não deixa ninguém dar a primeira garfada antes de dizer:
– Péra, péra, esse prato merece uma foto no Instagram!
(todos fazem cara de bunda esperando que o fulano escolha o filtro ideal para seu bife com salada)
2. Na festa, barulho ensurdecedor, sujeito para num canto qualquer e twitta:
– A festa tá ótima!
(e eu aposto que mesmo quem twitta isso pensa a mesma coisa quando lê mensagem desse tipo quando NÃO está em uma festa: “tão ótima que tá aí twittando ao invés de aproveitar, nééé?”)
E por aí vai. Fico aqui lembrando dos chatonildos fazendo fila para tirar foto da Mona Lisa no Louvre, como se o propósito da ida ao museu fosse conseguir um tipo de prova de que a pessoa esteve uau, em Paris, no Louvre, uau. E aí estragam a experiência de quem está lá realmente para ver a obra de arte (a imagem a seguir eu consegui googlando “mona lisa tourists”, e foi só uma de váááárias registrando esse galerê. E antes que falem “brasileiro é assim mesmo”, não, não é só brasileiro que faz isso).
Enfim, a sensação que dá é que vivemos um momento “Coloque isso na internet ou não aconteceu”. E de novo, insisto: eu faço parte dos chatonildos também. Eu posto foto da minha cerveja no boteco, eu faço relatório do desenvolvimento do Tuco, etc. (mas não, eu não tirei foto ao lado da Mona Lisa). Então, esse post é mais uma autorreflexão do que uma crítica.
E é justamente por isso que é muito, muito irônico que eu tenha começado a escrever este post no dia 03 e aí largado no limbo dos rascunhos. Só resgatei de lá porque na quinta-feira daquela mesma semana fiquei sabendo que meu celular tinha morrido e que teria que viajar SEM celular. Sim, com meu laptop e com acesso à internet, mas vocês entendem que o ‘x’ da questão aqui é documentar as coisas em tempo real, certo? Num primeiro momento mais viciada-em-cold-turkey tentei atualizar usando o twitter via celular do Fábio (o que logo desisti) e o instagram via tablet, não deu certo e larguei mão. Passei meus dias sem registrar qualquer coisa que não fosse na memória.
O mais engraçado? Depois de pouco tempo vi que realmente não fez falta.
E o pior é que quem não tem iPhone, iPod, tablet, ou qualquer coisa que tire foto – como eu – fica por vezes se sentindo excluído, e quase com a sensação de que precisava registrar os momentos também. mesmo que, olhando de fora, pareça idiota tirar foto do sanduiche para por no instagram, tanta gente faz que você fica querendo participar também. até esquece que viver o momento é bem mais importante que isso
Bem isso Acho que alimentamos toda essa falsa noção de que é realmente necessário registrar porque, no final das contas, todo mundo registra. E não é, e não faz falta. Sabe, é lógico que é legal passarem aí uns 10 anos e você resgatar uma foto que não existiria se um amigo com um smartphone não tivesse parado para clicar, mas momento bom mesmo fica na cabeça mesmo sem foto ou qualquer outro registro. Um exemplo: quando ainda era só amiga do Fábio, lembro que eu, ele e uns amigos nos encontramos na casa onde eu morava, e amanhecemos lá, conversando, jogando, enfim, passando um bom momento. E aí era quase seis da manhã e eu chamei todo mundo para ir ver o nascer do sol no telhado. Fomos lá, foi lindo, foi muito legal (quase no esquema do Charlie do Perks “Éramos infinitos”) e ninguém parou para tirar foto, mas tenho certeza de que todos que estavam lá lembram desse dia.
Passei um feriado quase sem bateria no celular, e foi maravilhoso…^^. Mas continuo tirando minhas fotas no instagram hehehe
E eu mal recuperei o meu e já mandei msg no whatsapp pra você hahahah