E meu palpite estava certo, mas vamos por partes. Se a parte técnica não é uma novidade, o plot também não é: a ideia da transição do cinema mudo para o cinema falado já havia sido explorada por um grande clássico do cinema, o Dançando na chuva. Então você me pergunta: se o filme não tem realmente nada de novo, como pode ter agradado tanto? Bom, acho que porque as qualidades não são as supostas inovações, ao contrário do que se imagina. Os aspectos mais positivos de O Artista estão no fato de – assim como o cinema que está homenageando – saber mostrar que simplicidade nada tem a ver com má qualidade ou desleixo. É trazer novamente aquele gosto pelo cinema pelo que ele tem de melhor, a possibilidade de fazer com que acreditemos num mundo que não mais existe.
No começo vemos um George Valentin no auge de sua carreira – sempre com um sorriso fácil estampado no rosto, aquele cara que você sabe que é gente fina só de bater os olhos. Em determinado momento ele conhece Peppy Miller, que sonha um dia ser tão famosa quanto ele. A questão é que Valentin é o representante do cinema mudo, e Miller acaba se tornando uma das estrelas da novidade que é o cinema falado – a partir daí vemos Valentin caindo cada vez mais no esquecimento – uma vez que ele recusa a ideia de trabalhar em cinema com som. Ele é “um artista”, diz em certo momento. E alega que essa coisa de som é uma moda passageira. A dificuldade em aceitar a mudança acaba lhe custando a fama.
Nesse processo de entrada do cinema falado, eu tenho duas observações sobre o filme. A primeira, é de como a cena do pesadelo do Valentin após a conversa com o dono da produtora é genial. Naquele momento quem está assistindo já se acostumou com a falta de falas e sons do ambiente (a trilha sonora é o único som que temos desde então). E aí Valentin sonha que está no camarim e começa a ouvir sons. Coisa simples: um objeto tocando outro, o canto de um pássaro. Mas ele não tem voz. Aquilo ficou TÃO legal que ali O Artista já tinha me conquistado completamente. O recurso com o “som normal” retorna no desfecho, também criando um efeito muito legal – souberam explorar a ideia do cinema mudo muito bem, não foi só uma questão de dizer “ok, este é um filme mudo”. O recurso tem um propósito, e funciona muito bem (vale lembrar que as primeiras “falas” do filme são de uma cena em que Valentin está sendo torturado por pessoas que falam “SPEAK! SPEAK!”, ou seja ele é todo montado nessa ideia da resistência da personagem em aceitar um novo momento do cinema.
O que leva à segunda observação. Naquela linha de contar uma história para “dizer o outro”, passei um bom tempo da história pensando nessa nova fase que o cinema está atravessando, sobre as produções em 3D. São tantos filmes saindo nesse formato, alguns sendo feitos especificamente para ele (caso de outro oscarizado, Avatar), que não tem como questionar se não há ali nas entrelinhas uma alegoria sobre essa transição para o cinema 3D – ou ainda, uma crítica, se pensarmos na opinião de Valentin quanto ao cinema falado. Sigo mais para o lado da crítica, até porque o filme ao invés de tentar copiar o que há de mais moderno em termos de cinema, prefere mimetizar o que há de mais antigo. Como quem diz: o que vale é uma boa história.
E O Artista tem uma ótima história. Daquela coisa gostosa, que te faz ficar bem depois de assistir, de se emocionar e encantar mesmo. Não há personagens maus (pelo menos não naquele maniqueísmo óbvio). Valentin, como já dito, é um sujeito de carisma 1000, encantador também em suas ações. O mesmo vale para Peppy e para as demais personagens – até a esposa de Valentin, fazendo rabiscos nas fotos do marido, tem lá aquela certa dose de ingenuidade que torna a história toda doce (e sim, tem o cachorrinho, que é a coisa mais fofa do mundo). E algo que gostei muito mesmo é que não houve “cheating” (que eu acharia que aconteceria), com um uso exagerado dos letreiros: eles aparecem na medida certa, assim como nos filmes de antes. Mas no geral, é tudo dito com os gestos e olhares dos atores – o que é óbvio que merece destaque no que diz respeito à atuação.
E no final das contas, eu que nem tinha tantas expectativas acabei me surpreendendo para lá de positivamente. Não posso dizer que era o melhor de todos os selecionados para afirmar se o Oscar foi justo ou injusto, mas a seleção dele entre os destaques da temporada realmente me pareceu acertada. Fica aí o trailer para o caso de alguém ser mais perdidinho do que eu e não souber nada sobre o filme, hehe
Estou mto feliz que te achei aqui….adoro seus comentários e fiquei triste com o fim do Meia Palavra, aliás acho que fiquei desesperada (quem iria me fazer rir como a Anica? quem iria me indicar bons livros?)…por favor, continue escrevendo sempre…bjoss
Puxa, Fabiane, obrigada, mesmo =D Não vou atualizar aqui com a mesma frequência que antes, mas pretendo continuar escrevendo por aqui, sim 😉 Beijo!
Anica,
Como assim acabou o Meia Palavra????????
Oi Flavia!
Eu estava bastante cansada e resolvi parar – passando todos os arquivos para que o pessoal continuasse sem mim. Mas não sei se eles vão continuar o Meia, ou se vão começar algo novo, aí ficou por conta deles.
Que pena…. mas vou continuar acompanhando você por aqui!
beijos,
Flávia Cardoso.
Obs: Também, depois daquela polêmica do “Fifty Shades”… imagino a loucura para acompanhar aqueles mil comentários, rsrs.
eu já nem dava mais conta de responder aqueles comentários +_+
Imaginei….kkkk!
Veja pelo lado positivo, acho que você bateu um record de comentários!
Em tempo: Amei “O artista”. Vi logo que entrou em cartaz e nem esperava tanto, mas saí do cinema encantada.
lá no blog, sim. mas já vi outros blogs com mais comentários. juro que eu não sei como os donos desses blogs davam conta de responder O_o
sobre o artista, é uma delícia, né? tão bom ter um filme assim gostoso de ver, de quando em quando. acho que vendo no cinema deve ter sido ainda mais legal
Já temos assunto para nosso próximo encontro!!! Adorei esse filme…
o/