Não que eles sejam novidade dentro da trama, a única coisa que aconteceu é que James deu um pouco mais de espaço para eles. O primeiro é Jack Hyde, o ex-chefe de Anastasia, que por incrível que pareça está mais disposto a atormentar Christian do que a garota. Por causa dele o livro tem até cena de perseguição de carro. E eu, que odeio perseguição de carro até no cinema, obviamente odiei a personagem. O segundo é a boa e velha (sem trocadilho, haha) Mrs. Robinson/Elena, que surge como pivô de uma das ‘n’ brigas de Grey e Ana. E cheesus, como esses dois brigam. Tem até um momento em que Grey, mais inteligente do que um grão de bico, resolve marcar os peitos de Ana com chupões para que ela não fizesse mais topless. Pois é. E se você não gosta de DR, imagina que emocionante que é acompanhar DR alheia, que invariavelmente apresenta um diálogo do tipo:
– Eu estou muito bravo com você, Ana!
– Por favor, não fique bravo comigo.
– Mas eu estou. E eu vou te dar…. PORRADA.
Ok, o diálogo não é exatamente assim, mas vai por esses lados. Então você está em um momento até meio de constrangimento (saca quando um casal de amigo seu começa a brigar na sua frente?), mas continua a ler porque sabe que logo depois disso virá aquele belo momento da foda das pazes (eu não sei como vocês chamam isso, mas já devem ter feito em algum momento da vida, supondo que não sejam virgens como a Anastasia era no primeiro livro, é claro). E sobre o sexo o que chamou minha atenção é que, se no segundo livro a James tinha dado uma aliviada inclusive no BDSM, parece que no terceiro ela vem com força (trocadilho não foi intencional). Ana e Christian usam muito mais brinquedos, o sexo parece bem mais selvagem, a fantasia está lá no topo. Mas HOLY COW! Anastasia continua com aquelas expressões broxantes ao longo da narração.
E eu brinquei ali no começo sobre o diálogo do Christian bravo com Ana se repetir bastante, mas eu fiquei abismada com a quantidade de vezes que conversas inteiras se repetiam ao longo do livro. Tem uma troca de frases entre eles do tipo “Eu te disse, cinquenta tons” e ela “MEU cinquenta” (ou algo assim). Tem também o momento antes da penetração em que Christian quase todas as vezes colocou enfiou o dedo em Ana e disse “Você está TÃO pronta”. É para ser algum código para a pós-vida como em Ghost? É para que a gente entenda que como casal eles têm piadinhas internas? Não sei. Só sei que eu chegava em momentos assim e pensava “Falha na Matrix, falha na Matrix!”.
Mas vocês já sabem que esse é o estilo da autora, então não estou contando novidade alguma. E algo que achei legal sobre os inúmeros comentários de leitoras nos meus posts anteriores é que ficou claro que para quem gostou do livro, isso não faz a menor diferença. E eu admiro essa capacidade mesmo, porque eu me esforcei bastante para tentar fazer isso (confesso que o momento em que Ana descobre que estava grávida até esqueci que estava lendo um dos livros dosCinquenta Tons, por exemplo), mas aí quando eu estou quase conseguindo me desprender dos meus preconceitos… pans, vem lá a James e faz mais uma. Não entendi, por exemplo, o motivo pelo qual ela resolveu adotar o uso de flashbacks em alguns momentos da história. Não dava para simplesmente contar como foi o casamento e então a lua de mel, de forma linear? Ficou parecendo que ela tentou dar uma resposta para quem a critica como escritora, “Ei, ei, eu uso flashbacks, sô foda!”. Só que aí ela economiza linhas para descrever o casamento mas torra alguns parágrafos com a dúvida de Ana sobre quem lavava os butt-plugs do Christian (e com perseguição de carro, não vamos esquecer).
A trama de Jack Hyde é também um desperdício de caracteres, de tão macarrônica que é. James poderia ter mantido a coisa de modo simples, o cara queria se vingar por ter perdido o emprego, mas nãããão, vamos inventar um passado bizarro que envolva também um pouco do passado misterioso de Christian Grey. Achei tão, mas tão forçado que pensei que só podia ser alguma piada que eu não estava conseguindo entender. Epílogo também, completamente desnecessário. Já tinha dado para entender que eles seriam felizes para sempre (já que se amavam e eram ricos, o que mais falta para ser feliz, não é mesmo?).
Mas você pensa que acabou? Não! Em uma vibe meio Stephenie Meyer ela incluiu materiais extras no último livro. Um deles é extremamente vergonha alheia, descrevendo o primeiro natal de Grey (quem nesse mundo quer saber como foi o primeiro natal do cara, meu deus?). Os outros dois mostram partes de Cinquenta Tons de Cinza contadas sob o ponto de vista de Christian Grey, que então você descobre que apesar da frieza que demonstrou no primeiro encontro, parecia ser um adolescente com os hormônios à mil (imagem não muito excitante para uma balzaca como eu, devo dizer). Mas como já reparei, o sujeito conquistou muitas fãs, então de repente esse material extra acabe agrandando até mais do que o livro todo mesmo.
Então fazendo um balanço geral, eu continuo sendo da opinião de que você precisa conferir a coisa com os próprios olhos. Os meus estavam sangrando quando terminei o último livro, mas “gosto é gosto, já dizia aquela velhinha que comia ranho“. Se quiserem minha opinião sobre qual achei menos pior dos três, a escala ficou assim:
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E se você já terminou o primeiro e está morrendo de vontade de ler o segundo e o terceiro, vale lembrar que as traduções da Intrínseca para esses volumes ainda não saíram aqui no Brasil. A data de lançamento prevista para o Cinquenta Tons Mais Escuros é 15 de setembro, e a de Cinquenta Tons de Liberdade é 1º de novembro. Aliás, sobre as traduções tenho mais uma curiosidade: como foi possível manter uma certa unidade no tom da narradora considerando que cada livro tem uma tradutora diferente? Compreendo as razões da Intrínseca (trazer as traduções o quanto antes para o Brasil), mas não consigo deixar de achar um tanto estranho em se tratando de uma série. Ficam perguntas como, por exemplo, “será que elas conversaram entre si para criar um dicionário de expressões idiotas da Anastasia?”. De qualquer forma, para quem lê em português o negócio é esperar. Já comentei em post anterior e volto a destacar: tradução pirata é feita na maior parte das vezes por amadores, que podem deixar ainda pior a qualidade de um texto que já é ruim. Melhor deixar a coisa nas mãos de um profissional, que de repente até melhora um pouco o texto de James.
(Post originalmente publicado no Meia Palavra em 11 de agosto de 2012)
Cara Anica, concordo em gênero, numero e grau com tudo que você escreveu sobre os 3 livros. Minha experiência foi um pouco diferente, minha primeira tentativa de leitura foi com Cincuenta Sombras de Gray, a versão em espanhol, cheguei só até a pagina 100 e depois comecei a saltar parágrafos até acabar desistindo.
Depois de um tempo acabei não resistindo e peguei para ler os 3 livros em italiano, Cinquanta Sfumature di Grigio, Cinquanta Sfumature di Nero e Cinquanta Sfumature di Rosso. Em italiano ficou um pouquinho mais aceitável que em espanhol.
Além de tudo já descrito em suas resenhas, uma das coisas que me incomodou foi o fato do livro parecer um comercial sem-fim, ele não usa um celular, usa um Black-Berry; ele não têm um esportivo possante, ele têm um Audi R8 e por ai vai o livro inteiro.
Não me me estressei para tentar descobrir como em poucos anos um empréstimo de 100 mil dolares virou um conglomerado extremamente lucrativo, mas me intriga o fato da personagem não se incomodar de saber que ele procurava “amantes” que fossem a cara da mãe dele (parece que as fans do livro também não se incomodam).