Mas não é só por essa publicação pela Byliner que vejo Hornby circulando com muita segurança no mundo pós-internet. Enquanto alguns autores ainda têm receio de incluir temas e mesmo situações que envolvam o mundo virtual, Hornby parece usá-los como se fizesse isso desde sempre. Repare como mesmo nos livros infantojuvenis, que em teoria deveriam estar melhor conectados com essa nova realidade, a maioria dos adolescentes retratados têm um estranho desinteresse pormessengers, Tumblrs e afins (nunca esqueço da Bella de Crepúsculo pesquisando sobre vampiros… EM UM LIVRO!). Quanto aos romances “para adultos”, parece que aos poucos trocas de e-mail são incluídas, mas é um movimento bastante tímido. As personagens modernas em sua maioria parecem todas presas em 1990, ironicamente.
Mas não é o caso das personagens de Hornby. Já em seu último romance publicado aqui no Brasil, Juliet, Nua e Crua, fórum de discussão, trocas de emails, e afins faziam parte da realidade. E agora com Everyone’s Reading Bastard, novamente temos situações que parecem mais com a do nosso cotidiano, com a ideia de um viral, de ler um jornal pela internet, etc. Sobre o enredo Hornby não arrisca e fala sobre fim de relacionamento, com um protagonista típico, meio loser, meio cínico. Charlie está se divorciando da esposa, Elaine, que é jornalista. Até aí tudo bem, nada demais. A questão é que tão logo o divórcio fica decidido, Elaine (que sempre foi famosa em seu trabalho por torná-lo extremamente pessoal) começa a escrever uma nova coluna, chamada Bastard!. O alerta piscou para Charlie quando ele leu o subtítulo “Life with an Ex. He’s Gone but Not Forgotten” (algo como “A vida com um Ex. Ele se foi, mas não foi esquecido”).
Coluna após coluna, o que Elaine faz é mostrar o fracasso que Charlie é como marido, pai, homem. E faz tamanho sucesso que no meio da história até outra coluna é criada, como que em resposta ao Bastard! (a Bitch!). E lógico, Hornby usa recursos que já domina muito bem, criando situações bem engraçadas como Elaine escrevendo sobre como o ex-marido era na cama (e lembrando, não eram elogios) um pouco antes de um encontro entre Charlie e uma outra mulher. Em tudo você sabe que está lendo Nick Hornby, por causa das tiradas, daquele senso de humor misturado com um tanto de autopiedade e autocrítica.
O problema é: tal e qual com Juliet Nua e Crua, chega um momento em que Hornby erra a mão, o que é bastante frustrante. A história se apresenta com todo o potencial para entrar na lista de favoritos ao lado de Alta Fidelidade, mas o autor acaba se perdendo, deixando a história um tanto entediante, com aquele gosto ruim de que poderia ter sido muito melhor. Talvez se fosse um romance e não uma novela, não só o enredo mas as próprias personagens poderiam ser melhor desenvolvidos/explorados, mas a verdade é que Everyone’s Reading Bastard está bem longe de ser um dos melhores trabalhos do autor.
No final das contas não vale muito nem para matar as saudades enquanto outro livro novo de Hornby não sai. Porém, ficam os méritos para o autor (e a Byliner) de conseguirem reconhecer todas as possibilidades que a Internet tem a oferecer. Quem sai ganhando com ideias como a dessa editora é o leitor, que tem a disposição novidades por preços razoáveis, além da facilidade de fazer a compra em si. Diria que é um modelo a ser observado pelas editoras do Brasil, ainda mais com notícias da chegada da Amazon por aqui.
(Este post foi originalmente publicado no Meia Palavra em 13 de julho de 2012)