Em uma coletânea de 14 ensaios envolvendo principalmente religião, Russell mostra de forma clara sua visão a respeito do que é crer e dos motivos pelos quais ele não crê. Em alguns momentos, talvez até mesmo pelo senso de humor e simplicidade com o qual discursa sobre tema tão complexo, ele lembre bastante os artigos de Richard Dawkins, biólogo famoso por suas duras críticas às religiões. Mas não achem que por Russell ter sido um filósofo Por que não sou cristão trata-se de um livro apenas para iniciados, qualquer um com um mínimo de curiosidade sobre o assunto pode acompanhar muito bem os ensaios de Russell.
Algo que salta aos olhos ao ler ensaios como o que dá título à coletânea é a atualidade do texto de Russell. Pensar que o primeiro ensaio é de 1927, e ver que alguns aspectos são válidos até para os dias de hoje não deixam de levantar a dúvida se o autor é que era um visionário ou nós que não mudamos muito de lá para cá (e considerando algumas passagens do livro, infelizmente parece que trata-se da segunda opção).
Por que não sou cristão não é um livro apenas sobre religião, há alguns ensaios que são mais voltados ao comportamento em sociedade (Gente simpática e Nossa ética sexual, por exemplo), há ainda A liberdade e as faculdades, que de certa forma parece casar bem com o apêndice Como Bertrand Russell foi impedido de lecionar na Faculdade Municipal de Nova York, de Paul Edwards. Mas o foco principal é mesmo a visão do filósofo sobre a religião, mesmo que em alguns se revele de modo mais sutil.
Como dito antes, pela simplicidade (e mais do que isso, clareza) com a qual faz suas observações, recheadas de um ótimo senso de humor, a leitura de Por que não sou cristão é válida mesmo para os teístas, pelo menos os que tem curiosidade para saber como pensam aqueles que não creem. É sem sobra de dúvidas um livro polêmico, e talvez até pelo tema que aborde, ainda atual nos dias de hoje.