A escolha do conto de Irving para a coleção é de fato bastante acertada, considerando sua proposta. Eu, por exemplo, já conhecia a história da Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça de cor, embora nunca a tenha lido. E isso por quê? Por causa das diversas adaptações, incluindo aí até uma feita pela Disney (eu não encontrei no Youtube, mas tenho certeza que quando criança assisti uma em que o Pateta fazia o papel do professor Crane), ou uma da década de 90, feita por Tim Burton.
Porém ler a história de Irving é uma experiência completamente diferente, algumas nuances do conto acabam ficando mais evidentes quando no papel, ao contrário do que acontece nas telas de tv e de cinema. Algo que eu nunca tinha me dado conta até ler A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é como a história é marcada especialmente pelo humor, embora seja famosa como conto de horror. Não é que ele não se faça presente, mas aparece muito mais próximo da conclusão do texto, sendo que o começo e a metade são mais leves, e em alguns momentos até bastante engraçados.
Como na descrição do protagonista, Ichabod Crane, um professor extremamente excêntrico, com hábitos e leituras bastante peculiares. Até mesmo do físico da personagem Irving de alguma forma faz graça, como ao lembrar que o sobrenome lhe é bastante apropriado, já que Crane em inglês é Garça. Além disso, algumas coisas sobre a região onde a história se passa, seus habitantes e costumes também são bastante irônicos.
Mas não pense que o fato de ter um tom de humor em boa parte do livro Irving erra a mão com o horror. Não é à toa que A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é lembrada como uma história desse gênero. A parte final do livro, com o retorno de Ichabod da festa que aconteceu no castelo de sua amada Katrina Van Tassel, o momento em que o cavaleiro começa a persegui-lo é realmente de arrepiar, ainda mais se for lembrar o que significava cavalgar por estradas naquela época – sem postes e iluminação artificial, a escuridão tomando conta.
Com uma capa com escolha de cores até inusitadas mas com efeito bastante bonito, além de ilustrações de Waler Pax, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça vem em uma edição bastante caprichada, e como são poquíssimas páginas, não há desculpa para não conhecer a fonte de uma das imagens mais populares do imaginário coletivo quando se trata de histórias de horror.