A história é bastante singela, falando principalmente sobre o crescimento, de como envelhecer significa também deixar certas coisas para trás. Jane tem um cobertorzinho cor-de-rosa (que chama de “betô”) desde bebê, e a medida que vai crescendo o cobertor fica cada vez mais pequeno para ela. São várias as vezes que ela quase o abandona, mas acaba buscando o “betô” novamente – até que chega a hora da separação definitiva.
O encantador da história é que de forma bastante simples Miller consegue retratar o apego das crianças a determinados objetos, coisa que qualquer um que tenha um pequenino em casa deve ter observado. Há, assim, uma identificação imediata com Jane e todo o processo de crescimento que a menina atravessa, simbolizado pela figura do cobertorzinho cor-de-rosa.
O ponto alto da história é o desfecho, o modo como Miller marca a separação de Jane e seu “betô”: ela não consegue mais se cobrir com ele, e decide deixá-lo na janela em uma noite de verão. No outro dia percebe que um passarinho está levando fios de seu cobertorzinho para fazer um ninho, onde esquentará outros bebês-passarinhos. É tão singelo e tão bonito que não tem como reconhecer que Miller, além de grandes peças, também sabia como escrever para crianças.
A edição da Companhia das Letrinhas é bilíngue, sendo que cada língua conta com um ilustrador diferente. Na tradução vemos o trabalho de Elisabeth Teixeira, que reflete muito bem a delicadeza e simplicidade da história de Miller. No original, a ilustração é de Al Parker, toda em preto-e-branco, apenas com o cobertor em cores (ou seja, cor-de-rosa). Os traços são mais fortes, mais adultos. Se for para escolher, acredito que as ilustrações de Teixeira tenham mais a ver com a história, até por ser mais infantil e adequado ao público-alvo do título.
Um livro encantador que merece um lugar na prateleira de qualquer criança, especialmente aquelas que estão atravessando um momento parecido com o da protagonista. É uma forma de usar a literatura para de forma lúdica ajudar o pequeno em uma fase que em alguns momentos pode ser difícil. E ainda tem o extra de ser uma edição bastante caprichada, lembrando o mesmo cuidado de outro título do mesmo selo, Os gatos de T.S. Eliot (que também é bilíngue).
Olha, parabéns pelo blog/site. Encontrei ele há 2 dias e gostei de tudo o que eu li até agora, inclusive nos arquivos.
Obrigada, Rafael =D