Almanaque Jornada nas Estrelas (Salvador Nogueira e Susana Alexandria)

Em 1966, quando Jornada nas Estrelas foi ao ar pela primeira vez pela NBC, o que se viu foi o nascimento de uma das mais duradouras e rentáveis franquias da cultura pop. Outros tantos seguiriam o rastro de Capitão Kirk, Spock e Dr. McCoy, a maioria no cinema (como Star Wars de George Lucas, por exemplo), mas não dá para desconsiderar que quem foi abrindo caminho naquele então campo desconhecido das convenções de fãs, vendas de produtos relacionados e afins foi a série criada por Gene Roddenberry.

E é para ficar sabendo dos bastidores dessa franquia que o Almanaque Jornada nas Estrelas (de Salvador Nogueira e Susana Alexandria) vem para agradar os fãs, e mesmo os curiosos sobre esse fenômeno. Tendo como base principalmente a série original, o livro comenta detalhes envolvendo as personagens, o processo de criação, fofocas de bastidores e muito mais. É muita informação, até porque inclui também detalhes sobre as outras séries (e filmes) que se originaram a partir dessa.

Continue lendo “Almanaque Jornada nas Estrelas (Salvador Nogueira e Susana Alexandria)”

A outra volta do parafuso (Henry James)

Novela escrita por Henry James e publicada pela primeira vez em 1898, A outra volta do parafusoé sem sombra de dúvidas uma das grandes histórias de fantasmas já escritas. Primeiro porque cumpre muito bem a função de assustar – há momentos do livro que são de tirar o fôlego e não decepcionarão em nada os amantes do horror. Mas também por causa da precisão do estilo e, mais ainda, da qualidade literária da obra de Henry James.

O livro começa com um encontro entre conhecidos em uma noite de Natal. Um deles promete que contará uma história assustadora, assim que tiver em mãos um manuscrito que lhe foi confiado décadas atrás. Quando passa a ler o manuscrito, ficamos sabendo que é o relato de uma governanta que aceitou o trabalho de cuidar de duas crianças (Miles e Flora) em uma casa no interior da Inglaterra, com a condição de que não procurasse jamais o tio e guardião das crianças para relatar problemas. Mas mal ela chega na casa, e logo eles começam a aparecer – o garoto, Miles, é expulso da escola e a governanta passa a ver fantasmas de antigos empregados da mansão, e acredita que eles desejam corromper as crianças.

Continue lendo “A outra volta do parafuso (Henry James)”

We (Yevgeny Zamyatin)

We, romance do russo Yevgeny Zamyatin tem uma história por trás da história. Os manuscritos mais antigos da obra datam de 1919, mas ela só foi concluída em 1921. Por conta do tema tratado, foi a primeira obra censurada pelo Goskomizdat, na época o novo bureau de censura da União Soviética. A primeira vez que o livro foi publicado foi em inglês, três anos após ter sido terminado. Em russo, só em 1988 ele foi impresso, revelando-se assim um dos casos raros em que a tradução foi publicada muito tempo antes do original.

E mesmo com tantas dificuldades para ser publicada, ainda assim We serviu de inspiração para várias das distopias da literatura moderna, incluindo aí a citadíssima obra de George Orwell, 1984. Nesse caso é importante ressaltar a questão que um inspirou outro, porque levando-se em conta que a obra do russo ganhou ares “cult” no Brasil (não há traduções disponíveis nem no Estante Virtual), o inglês parece mais conhecido e então há uma inversão na distribuição dos méritos: ao ler o romance russo, não esqueçam, foi Orwell que se inspirou, e não o contrário.

Continue lendo “We (Yevgeny Zamyatin)”

True Blood S04E05: Me and the Devil

Ok, provavelmente este foi o pior episódio da temporada até o momento. Muita atenção para a parte chata da temporada (Sam e o irmão, Lafayette e cia.), somada a uns momentos românticos meio vergonha alheia entre Sookie e Eric (a menina se apaixona fácil, heim?) e pouca coisa nova de fato acontecendo. Normal, estamos chegando perto do meio da temporada, mas eu sinceramente gostaria que ela fosse regular e conseguisse sustentar a qualidade dos primeiros episódios. De qualquer forma, o desfecho já fez valer e deu vontade de assistir logo ao próximo episódio.

Dos momentos mais importantes do episódio, vamos começar com a tal da bruxa Marnie. Ela aparece na tela e eu tenho vontade de parar de assistir – aquela cara de “não sei o que está acontecendo” já cansou. Cansou também a postura de Tara, Lafayette e Jesus. Como comentaram lá na Valinor, como assim eles não perceberam que a bruxa tocou o horror nos dois vampiros mais badass que eles conhecem? Por que insistem nesse medo todo? Aliás, o que é isso de se mandar pro México, matar cabra e o diabo a quatro? Cheesus, as vezes penso que teria sido melhor se manter fiel ao livro e terem matado o Lafayette no final da primeira temporada.

Continue lendo “True Blood S04E05: Me and the Devil”

A página assombrada por fantasmas (Antônio Xerxenesky)

As pessoas tem a falsa ilusão de que por serem mais curtos que romances, contos são fáceis de escrever. Pode até ser, mas bons contos não. É difícil dizer muito, causar sensações no leitor, criar personagens cativantes ou mesmo trazer uma boa história com tão poucos caracteres.  Some a isso o fato de que qualquer excesso no texto fica ainda mais óbvio, e já dá para perceber a série de dificuldades que um escritor enfrenta ao seguir por esse caminho. E é por conta disso que sempre fico muito feliz ao ter em mãos uma coletânea tão boa como A página assombrada por fantasmas, de Antônio Xerxenesky.

Os contos são enxutos, fluem de um jeito gostoso e pegam o leitor de jeito – especialmente se esse leitor for também um apaixonado por literatura. Correndo o risco de causar um efeito semelhante ao que acontece com a personagem Charles Mankuviac (do conto A breve história de Charles Mankuviac), a verdade é que A página assombrada por fantasmas é livro que fala de literatura. Mas de um modo delicioso (porque o leitor se reconhece em determinadas situações) e mesmo crítico (não dá para não transferir certas passagens para a realidade).

Continue lendo “A página assombrada por fantasmas (Antônio Xerxenesky)”

As aventuras de Ook e Gluk: Mestres do kung fu primitivo do futuro

Um dos maiores problemas de fazer uma criança se interessar por leitura é vencer a barreira do formal – as personagens podem ser legais, mas não falam como elas falariam no dia-a-dia, por exemplo. É tudo certinho e redondinho demais, o que pode acabar fazendo com que a atenção se perca rapidamente, por mais que o livro traga um enredo bacana para o jovem. Considerando isso, As aventuras de Ook e Gluk (de Dav Pilkey) chega para vencer esta barreira.

Quando a capa fala em 527,2 erros gramaticais, acreditem, eles estão de fato lá. Mas não aparecem à toa, fazem conjunto com as engraçadíssimas personagens principais de modo a tornar a leitura dessa história em quadrinhos algo tão divertido que certamente deixará a criança com gosto de quero mais.

Continue lendo “As aventuras de Ook e Gluk: Mestres do kung fu primitivo do futuro”

True Blood S04E04: I’m Alive and on Fire

O que eu gosto em True Blood é que mesmo que a série preserve algumas semelhanças com os livros, ainda assim consegue surpreender – não só com novidades, mas também com o modo como desenvolve o que já se sabe se você leu a série. Isso vem desde o começo, com mudanças sutis mas que depois no desenrolar da história acaba trazendo tanta coisa nova que é quase que uma realidade paralela. Veja o caso da primeira temporada, quando Bill matava o vampiro do bar do Eric e aí é punido tendo que transformar a Jessica. No livro, quem mata o sujeito é o Eric e as coisas meio que ficam por aquilo mesmo. Na série, acabou que uma das personagens mais legais foi criada por conta da mudança.

Estou comentando isso porque o episódio I’m Alive and on Fire (S04E04) é o exemplo mais evidente de como assistir e ler a história de Sookie são coisas completamente diferentes. Veja o caso do bebê de Arlene, que está rendendo uma linha narrativa até bem legal (ou vai dizer que você não sentiu um arrepio ao ler “O bebê não é seu” na parede da sala?). Tem ainda o Jason, que no livro é transformado por pura crise de ciúmes e na tv é toda aquela história de procriação (outra vez, arrepios ao ver que estava chegando a vez da garotinha, cheessus). Isso para não falar do Bill como rei, um rei meio bobo, é verdade, mas que aumenta a tensão sobre o Eric escondido na casa de Sookie.

Continue lendo “True Blood S04E04: I’m Alive and on Fire”

Dead Reckoning (Charlaine Harris)

Você acompanha a série da HBO, True Blood? Não gosta de ficar sabendo coisas do enredo antes da hora? Então é melhor não ler esse post aqui, porque ele fala do 11º livro da série escrita por Charlaine Harris, na qual é baseado o True Blood. Quem assiste sabe que algumas mudanças grandes do livro para a tv já apareceram, mas nunca se sabe o que é que eles poderão utilizar da história no papel que possa acabar com sua surpresa. Depois não diga que eu não avisei.

Charlaine Harris ganhou sustento para o resto da vida, especialmente depois que seus livros foram adaptados. Mas mesmo antes disso, ela já tinha lançado mão de um truque para fazer a história render: os eventos de cada livro acontecem de forma seguida, sem saltos temporais, e apesar da série ter aí 10 anos, Sookie mal envelheceu um. Claro que o tiro pode sair pela culatra, e render livros mais fraquinhos como o anterior Dead in the Family, mas esse não é o caso de Dead Reckoning, o mais recente publicado por Harris.

Continue lendo “Dead Reckoning (Charlaine Harris)”

47 Contos de Juan Carlos Onetti

Costumo (tentar) fugir da armadilha de me sustentar na biografia de um autor quando vou opinar sobre um livro. É um terreno perigoso, porque por mais que pareça óbvio que a vida de um escritor se reflete naquilo que ele cria, ainda assim não dá para esquecer os versos de Pessoa sobre o poeta ser um fingidor. De qualquer maneira, como não se surpreender com a coletânea 47 Contos de Juan Carlos Onetti, considerando aspectos de sua vida? A começar para aqueles que acreditam que educação formal está diretamente relacionada com material de qualidade: Onetti abandonou os estudos no segundo grau. E aparentemente isso não fez falta alguma em sua vida.

Ganhador do Prêmio Cervantes e indicado ao Nobel de Literatura, esse uruguaio foi de tudo: de porteiro a vendedor. Em 1930 (então com 21 anos) começou a publicar contos enquanto vivia em Buenos Aires. Os três primeiros contos da coletânea (Avenida de Mayo-Diagonal Norte-Avenida Mayo, O obstáculo, O possível Baldi) são desta fase e mostram já alguns dos elementos que se repetirão em outros textos no livro, como a melancólia noção de que se quer algo mais da própria vida, que se sonha com algo diferente do que se vive. Dessa fase o melhor é O possível Baldini, que reflete muito bem essa questão, quando um sujeito começa a contar para uma moça tudo o que nunca fora.

Continue lendo “47 Contos de Juan Carlos Onetti”

True Blood S04E03: If You Love Me, Why Am I Dyin’?

OOOook. Chega uma hora que as coisas precisam dar uma amansada mesmo. O terceiro episódio da quarta temporada (If You Love Me, Why Am I Dyin’?) foi um pouco mais arrastado do que os dois anteriores, mas não acho que tenha sido ruim. O problema é que teve que trazer novos elementos para o enredo (Debbie evangélica, wtf?) e reforçar outros (Crystal e Jason, Andy locão, etc.), o que pode ser meio cansativo. Mas só por Eric desmemoriado já valeu a pena, hehehe.

Eu já tinha comentado no post sobre o episódio anterior, de como o Alexander Skarsgård tinha conseguido marcar tão bem a diferença entre um e outro Eric. Mas agora ao longo deste quarto episódio isso ficou ainda mais evidente. A cada “Sorry” da personagem eu mandava um “NHOOOOOOOUM!”. Pense, até pouco tempo ele era o cara mais badass da série, agora ele é o mais fofucho. Teve uma hora que Fabio virou pra mim e disse “Dá para fazer uma cara menos satisfeita cada vez que o Eric aparece?”

Continue lendo “True Blood S04E03: If You Love Me, Why Am I Dyin’?”