A realidade é que excluindo as condições históricas (casamento como salvação, código rígido de comportamento para mulheres, etc.) uma grande parte das pessoas já viveu um momento “orgulho e preconceito” ou, por que não tomar emprestado o primeiro título que Austen deu à obra, “primeiras impressões”. A situação de Elizabeth, que em um baile conhece um Mr. Darcy que se acha obviamente melhor do que todos os presentes e então aos poucos vai conhecendo mais desse homem e descobrindo que fizera uma imagem equivocada dele não é um privilégio da heroína de Austen. Seus colegas de escola ou trabalho em algum momento já passaram por isso. Você já deve ter passado por isso. E é esse um dos motivos que faz de Orgulho e Preconceito uma obra tão encantadora, esse reconhecimento que transforma-se (através da prosa hábil de Austen) em empatia.
Claro, para os de gosto mais romântico fica também uma pequena fatia do que foi a vida no começo do século XIX. Os vestidos, as mansões, o cavalheirismo que parece ter se perdido junto com aquele já citado código rígido de comportamento. Austen sobreviveu ao tempo não só pela força de suas personagens (algumas há de admitir que são quase tipos, mas tomando o casal protagonista temos um exemplo do que ela pode fazer), ou do enredo muito bem amarrado e quase que em tom de novela, mas também por ter retratado com maestria (e também criticado) o período em que viveu.
Quando se fala em “quase que em tom de novela”, é porque Orgulho e Preconceito tem muitas características típicas desse tipo de entretenimento. Para começar, o final dos capítulos deixam ganchos que atiçam a curiosidade do leitor (e aí o que acontece é que “só mais um capítulo” vira “upz, terminei o livro”). Além disso, há subtramas relacionadas às irmãs de Elizabeth, que de certa forma funcionam de engrenagem para o que acontece com Elizabeth e Darcy (vide o caso de Wickham com Lydia). São vários núcleos que se aglomeram ao redor do casal protagonista, quase que empurrando um ao outro para que vençam o teimoso preconceito que se fez a partir daquele primeiro encontro.
Ainda assim, ler Orgulho e Preconceito é não só seguir uma história de um amor que surge (bem) aos poucos, mas também ter a oportunidade de viajar no tempo e ver como se vivia naqueles tempos. E é por isso que rapazes que podem por ventura achar que é apenas “um livro meloso para meninas” deveriam dar uma chance para a obra. Nem que seja para aprender com Mr. Darcy, há.
Melhor ainda se for a edição que acabou de sair pela Penguin-Companhia. São quase 100 páginas de Prefácio (por Vivien Jones) e Introdução (por Tony Tanner), além de notas no final do livro que são um prato cheio para qualquer leitor que queira ir além da obra. De uma forma mais abrangente fala de classes sociais da época e de alusões literárias. Depois começam as notas explicativas, abordando questões capítulo a capítulo que tem tudo para enriquecer ainda mais a experiência de leitura, inclusive quando há a questão do choque cultural, como por exemplo, o que de fato significava a recusa de Mr.Darcy em dançar naquele primeiro baile (o que hoje em dia passaria completamente batido).
O livro conta ainda com cronologia, lista de leituras indicadas para quem quiser saber mais sobre o romance além de um extra muito interessante para os fãs deste trabalho de Jane Austen: emendas ao texto, arrumando pequenos erros apontados por Austen mas nunca corrigidos. É, com isso, o tipo da edição para agradar todos os públicos: os novos leitores da escritora e os mais apaixonados, que desejem saber mais e mais sobre não só o contexto histórico do livro, mas também sobre a obra em si.
Em tempo, está rolando uma promoção lá no blog da Companhia das Letras que sorteará 2 exemplares!