Como a autora mostra ao longo do seu estudo, o livro ilustrado evoluiu muito desde as primeiras versões em xilogravura do século XVIII até os dias de hoje. Os artistas exploram cada vez mais a infinidade de possibilidades do casamento entre a escrita e a ilustração, indo muito além de um simples contar história. Ele chama o leitor para dentro dela, faz com que ele participe, faça parte daquilo. O livro vem como uma máquina cujo motor é o leitor.
A obra de Van der Linden aborda todas essas facetas do livro ilustrado de forma organizada e bastante clara, acessível até mesmo para quem não é iniciado em nenhum dos campos abordados no estudo. Começa descrevendo a evolução desse tipo de livro, para então tentar buscar uma definição mais precisa sobre do que se trata. Preparado o terreno para o leitor, é chegada a hora de aprofundar na arte em si, nos capítulos que abordam páginas e espaços do livro e as que comentam a relação textos e imagens.
O que vale ressaltar é que mais do que a linguagem que foge do pedantismo típico acadêmico, soando bastante agradável e interessante, o texto de Van der Linden também vem repleto de curiosidades que chamam a atenção daqueles que gostam de livros. Como por exemplo o termo francês para aquela “tomada de ar” que alguém dá enquanto lê uma história (unités de souflle, unidades de fôlego) ou mesmo a explicação sobre técnicas de ilustração e de produção da imagem.
É um estudo minuncioso, que fica ainda mais completo com as quase 600 imagens que ilustram todo o livro, funcionando como exemplos do que a autora está comentando (e também como alerta de como poucos dos livros ilustrados franceses ganharam tradução no Brasil). Junto ainda há diversos artigos de outros autores que complementam o que Van der Linden está explicando (esses artigos aparecem em cor cinza, se destacando do restante do conteúdo). É muito material, para ser absorvido aos poucos, porque o que vemos em Para ler o livro ilustrado em muitos momentos requer uma reflexão do nosso papel como leitores, e de como a literatura e a arte é feita pensando em nós.
Livro fundamental para quem se interessa minimamente sobre literatura, até porque abre novos caminhos para um assunto que não ganhou ainda o espaço merecido nos estudos literários, talvez por ser meio ilustração, meio texto. Mas não se engane, porque não é uma obra que soa à leitura obrigatória pedida pelo professor para uma prova. É delicioso, e agradará em cheio quem não só gosta de ler livros, mas também gosta de saber mais sobre eles.
Pois é…a França tem uma tradição em ilustrações em geral, de dar gosto… meu sonho é vê-los traduzidos por aqui. Bela resenha…