Balanço Literário do Mês: Abril

Há quem diga que o melhor jeito de começar a odiar literatura é cursar Letras. Se isso é verdade, então eu posso dizer que dei sorte, acabei conhecendo professores que me apresentaram gente que ainda não conhecia, e criaram em mim paixão e respeito por outros que já conhecia, mas pensava não gostar. Porém, não vou negar que há algo bastante chato sobre o curso, especialmente se seu bacharelado é em Estudos Literários como foi o meu. Vai soar estranho o que direi, mas a parte chata é que você lê muito.

“Está louca? Isso é exatamente meu sonho!”. Pois sim, meu pequeno gafanhoto, era o meu também quando optei por esse curso e esta habilitação. A questão é que são leituras obrigatórias. E mesmo que dentre dessas obrigatórias eu quase sempre tivesse um prazer enorme em ler, ainda assim elas continuavam com esse status de… hum, obrigatórias. E aí eu lia muito, muito mesmo. Mas do que eu queria mesmo, era nada, porque quando chegavam as férias era óbvio que eu queria mais é descansar.

Continue lendo “Balanço Literário do Mês: Abril”

Supernatural S06E17e S06E18

É, quando eles chutam o balde e deixam para lá a linha principal da narrativa, Supernatural volta a ficar bacana. Lembra um pouco aquela fórmula de monstro do dia das primeiras temporadas, há de volta aquele equilíbrio entre o horror e humor e quando o episódio termina você não pensa que foi tempo jogado fora, por mais que tenha torcido o nariz para alguma coisa ou outra. É o caso de My Heart Will Go On (S06E17), que apesar do plot sem pé nem cabeça até que foi bem divertido.

Dean e Sam estão em uma outra linha do tempo, na qual Balthazar impediu que o Titanic afundasse (segundo ele porque não suportava o filme, mas depois ficamos sabendo dos reais motivos, mas ok, valeu a piada). Nessa linha do tempo Bobby é casado com a Ellen, que antes que alguém estranhe e ache que é um lance de necrofilia, não, não está morta.

Continue lendo “Supernatural S06E17e S06E18”

Oriente, Ocidente (Salman Rushdie)

A crítica literária sempre debate sobre o real peso da biografia de um autor na compreensão de sua obra, debate esse marcado por dois extremos: os que acham que é perigoso interpretar um texto considerando a vida do autor, e os que acham que é simplesmente fundamental. De minha parte continuo achando que o ideal é o meio termo, antes de tudo saber identificar quando dados biográficos realmente vão de encontro ao texto, podendo ser então utilizados para o estudo da obra.

No caso de Salman Rushdie, escritor nascido em Mumbai na Índia, mas que ainda jovem foi estudar na Inglaterra, acredito que deixar de lado sua biografia chega quase a ser um pecado, ainda mais no caso de Oriente, Ocidente, coletânea de contos publicada originalmente em 1994 e que agora a Companhia das Letras lança em formato de bolso através do selo Companhia de Bolso. O título mostra de bastante óbvia o que veremos nas (poucas!) 168 páginas do livro: mundos aparentemente tão diferentes se mesclam, criando uma literatura sem pátria, sem fronteiras – tal e qual acontece com pessoas como Rushdie, nascidas em um lugar mas que passaram a viver muito tempo de vida em outro.

Continue lendo “Oriente, Ocidente (Salman Rushdie)”

Heathers

Não, sério. Pense no que leva uma pessoa que mal tem tempo para assistir uma série e está lá com uma fila enorme de coisa para ver, a assistir a um filme de adolescentes dos anos 80 cujo título em português é um bizarro “Atração Mortal”? Eu ainda estou tentando encontrar a resposta do motivo pelo qual fiz isso, sério. Devo estar me punindo por alguma coisa, não sei. Vi algumas imagens do filme em um tumblr que sigo (btw, agora eu tenho um tublr também), fui pesquisar sobre ele, aí li que tinha a Brenda pré-Barrados no Baile no elenco, Winona Ryder e Christian Slater pequerruchos e por aí vai. Depois, vi qualquer comentário sobre “não existir Garotas Malvadas sem Heathers”, e como gostei muito de Garotas Malvadas, lá fui eu.

Mas a verdade é que infelizmente alguns filmes envelhecem (ou você envelhece para alguns filmes). Do começo ao fim não teve nada que realmente me prendesse à trama, que convenhamos, já foi mastigada diversas vezes pelo cinema, toda aquela conversa de quem é o popular da escola, o que sofre bullying, o que tenta ser popular e yadda yadda yadda. A “novidade” é que a que quer ser popular se junta com o namoradinho para ir matando os populares e fazer com que pareça suicídio.

Continue lendo “Heathers”

Lolita (Vladimir Nabokov)

Publicado originalmente em 1955, Lolita do escritor russo Vladimir Nabokov chega com nova tradução no Brasil pelo selo Alfaguara. São aí mais de 50 anos que dividem o momento da primeira publicação (após a recusa de diversos editores) para essa tradução de Sergio Flaksman. E mesmo com todo esse tempo, Lolita ainda é um livro moderno, que mais do que sobrevive ao tempo: consegue se moldar de acordo com o momento em que o leitor tem o livro em mãos.

Isso porque para quem passa da primeira parte do romance, fica mais do que óbvio que ele vai muito além do suposto teor erótico que marcam os primeiros momentos do livro. Nabokov chega a zombar no artigo “Sobre um livro entitulado Lolita” (escrito em 1956 e presente nesta edição da Alfaguara) que alguns dos leitores que abandonaram a obra o fizeram levando em conta a primeira parte, achando que a narrativa seguiria esse caminho. E complementa: “Se acharam ou não que seria pornográfico não me interessava. Sua recusa em comprar o livro baseava-se não em meu tratamento do tema, mas no tema em si, pois existem pelo menos três temas que são totalmente tabu no entender dos editores americanos.

Continue lendo “Lolita (Vladimir Nabokov)”

A Morte de Bunny Munro (Nick Cave)

É complicado começar a falar de A Morte de Bunny Munro sem comentar sobre o autor, Nick Cave, até porque a simples menção desse nome já explica a curiosidade de muita gente sobre o título. Ele é bastante conhecido como músico, através do seu trabalho com The Bad Seeds (sempre com canções envolvendo morte, religião e outros assuntos polêmicos), mas quando o assunto é arte ele não para aí: já escreveu roteiros e até atuou em certos filmes (dá uma conferida aqui) e lá fora já publicou dois romances.

A Morte de Bunny Munro é o segundo, porém é o primeiro que ganha tradução aqui no Brasil, dando a chance para muitas pessoas daqui conhecerem essa outra face do músico por trás de canções como Red Right Hand e Into My Arms. E para quem está com medo de se decepcionar, fica desde já o aviso: o escritor também sabe agradar muito bem seu público.

Continue lendo “A Morte de Bunny Munro (Nick Cave)”

Ficção de Polpa Crime! (Vários)

O lançamento mais recente da série Ficção de Polpa foi lançado com uma proposta bem definida, como já mostra o título “Crimes!”, dando lugar à sequência numerada dos anteriores. E se nos outros volumes mesmo com um tema principal (horror, ficção científica e conto fantástico) ainda assim os contos circulavam livremente entre gêneros, agora nesse quarto livro isso não acontece: são histórias de detetive, do começo ao fim. Outra diferença sobre os outros números da série é que o número de contos é menor, porém esses são mais longos (e todos são ilustrados).

Uma vez que são menos contos, é até possível falar um pouco de cada um deles. No geral, são todos ótimos e certamente agradarão aos fãs de histórias policiais, até porque são todos combinações de elementos já conhecidos desse universo literário, mas com enredos ou estilos de narrativas bastante inovadores, diferentes.

Continue lendo “Ficção de Polpa Crime! (Vários)”

Triste Fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto)

Alguns livros parecem estar ligados com nossas memórias dos tempos de escola. O problema é que nem sempre são as memórias gostosas como o recreio, as conversas com os melhores amigos ou a sensação boa de um bom resultado de uma prova. Tem momentos que ouvir nomes como “Dom Casmurro”, “Macunaíma” ou ainda “Senhora” causam um certo arrepio na pessoa, trazendo lembranças de leituras obrigatórias que resultariam em uma prova com perguntas idiotas como “O que disse a personagem x na página y?”.

É uma pena que muito da literatura em sala de aula ainda aconteça desse modo, afastando leitores não só da (excelente) produção nacional, mas às vezes do hábito da leitura em si. E a realidade é que mesmo dos que se salvaram desse modo antiquado de ensinar literatura, ainda assim não costumam dar uma segunda chance para livros que certamente o merecem, como é o caso de Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.

Continue lendo “Triste Fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto)”

Eu, excluída digital

Quando você sai da classe “filha” para “mãe”, suas saídas passam a ser todas planejadas. Não rola mais aquela coisa de sair na loca, porque invariavelmente você terá que pensar o que fará com seu filho: vai levar com você? caso não leve, quem fica com ele? E já tem quase uma semana que eu planejei que hoje iria ao TRE, já que começaram a fazer recadastramento dos eleitores, para incluir foto e impressão digital e blablabla. Tem uma escala a ser seguida, que está sendo anunciada por tudo quanto é canto, e coube a mim, nascida em janeiro, estrear a bagaça – teria que fazer o recadastramento agora esse mês.

Então Arthur ficou com a vovó e lá fui eu para o TRE fazer o recadastramento, né. Camelando embaixo do sol, munida de endereço (R. João Parolim!) e toda a documentação que pediam (cpf, título de eleitor, documento de identidade e comprovante de residência), sigo meu caminho para o prédio do TRE. Quase na frente do prédio escuto uma mulher falando ao celular “Foi super rápido!” e fiquei toda animada. Chego na porta e sou recebida por uma enxurrada de estagiários. “Oi, o que você veio fazer aqui?”, pergunta uma delas com um sorriso no rosto.

Continue lendo “Eu, excluída digital”

Ficção de Polpa Vol.3 (Vários)

E então você já está familiarizado com a série e sabe mais ou menos o que esperar do livro que tem em mãos. Pelo menos você pensa isso quando começa a ler Ficção de Polpa vol.3, da Não Editora. Mal passa a Introdução, já damos de cara com uma surpresa: a primeira história não é um conto, é história em quadrinhos! Com roteiro de Guilherme Smee e arte de Jader Corrêa, O Quarto Desejo abre a coletânea já mostrando qual será o tom predominante: o fantástico.

Talvez não só fantástico, mas também maravilhoso. Retomando a discussão proposta na Introdução de Contos Fantásticos do Século XIX escrita por Italo Calvino, em todas elas temos o elemento sobrenatural, que foge da nossa realidade. Mas a sutil diferença é que no caso do conto fantástico, temos uma explicação sobre os eventos da narrativa, enquanto no maravilhoso há pura e simplesmente uma suspensão da realidade, o leitor compra aquela história como “real” e aceita os fatos sem questioná-los. É mais ou menos o que acontece já com O Quarto Desejo, no qual temos um homem que pode fazer quatro desejos para um gênio: você não questionará se é possível a existência de um gênio, apenas seguirá os desdobramentos da narrativa.

Continue lendo “Ficção de Polpa Vol.3 (Vários)”