Antes da “era paparazzi” isso acontecia com poucos artistas: ter a vida pessoal tão esmiuçada pelo público, ser de fato artista e celebridade. Wilde criou uma personagem que serviria como uma máscara protetora para quando passou a frequentar a sociedade inglesa, que tão ferinamente criticava em suas peças e em seu único romance, O Retrato de Dorian Gray. É justamente por ter a difícil tarefa de separar o homem da personagem que Schiffer merece destaque entre os biógrafos de Wilde.
O livro é estruturado em quinze capítulos, que seguem a ordem cronológica da vida de Oscar Wilde: desde um relance da vida dos antepassados, até a transferência do corpo do escritor para o famoso cemitério pariesiense, Pére Lachaise. Apesar dessa estrutura linear, Schiffer utiliza alguns flashfowards, que são bastante importantes para destacar as diferenças gritantes entre o auge e o fim da carreira do britânico.
Como é bem conhecido do público, Wilde aproveitava a fama que conquistara não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, vivendo com luxo e conhecendo pessoas interessantes que o apoiavam e em alguns momentos até serviam como mecenas. O escândalo do envolvimento com Bosie, que foi o motivo para a prisão do escritor fez com que a partir daí sua vida seguisse vertigionosamente para baixo, até chegar aos últimos dias de Paris, sem dinheiro, muito doente e com poucos amigos.
O brilho da biografia é contar a história quase como se fosse um romance, fazendo com que criemos uma simpatia tremenda por Wilde e amigos como Ross, e ao mesmo tempo muita antipatia por Bosie. O leitor desenvolve de fato uma empatia, o que torna o texto ainda mais interessante de ser lido. Os momentos finais da vida de Wilde são extremamente tocantes, sem serem piegas e, ainda mais importante, sem cair na mesmice de outras ‘n’ biografias sobre o escritor.
E fica evidente que parte da razão para conseguir alcançar isso é a vasta pesquisa de Schiffer, que possibilita ao leitor não só uma visão parcial dos eventos, mas de vários pontos de vista. A quantidade de notas é enorme, bem como as referências, que incluem obras de Wilde, biografias e testemunhos de sua vida, ensaios e estudos sobre o autor e iconografia, que servem como um guia do que ler caso o interesse pelo escritor vá além deste livro.
Pela alegria de viver, pela inteligência que rendeu tantos aforismos famosos repetidos até hoje, Oscar Wilde viveu de modo a encantar não só leitores que já estão acostumados com biografias, mas aqueles que costumam não gostar muito do gênero. Somando a isso o modo como Schiffer escreve a história desse homem tão importante para a literatura britânica, trata-se de fato de um livro imperdível para quem tem pelo menos um mínimo interesse pelo autor de obras consagradas como O Marido Ideal e A importância de ser prudente.
E fica a ironia: o escritor que tanto dizia que fazia a arte pela arte, e que aspectos pessoais não eram relevantes para seus textos, apresenta uma vida tão interessante que pode ser lida quase como um romance. Faz da sua própria história arte, tão apaixonante como as das personagens que criou.
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