Para quem ainda não conhece a obra de P.D. James, uma boa porta de entrada é Mortalha para uma enfermeira (publicado originalmente em 1971 e ganhando tradução agora pela Companhia das Letras). Nesta história Adam Dalgliesh vai até um casarão vitoriano que funciona como escola de enfermagem e hospital para investigar a morte de duas enfermeiras, descobrindo aos poucos os segredos sobre as vidas das pessoas que trabalham e vivem na dita mansão Nightingale.
O que é mais peculiar sobre o livro é que ele segue exatamente aquela estrutura básica dos romances policiais, baseada fortemente nas perguntas que Dalgliesh faz para as pessoas que habitam a mansão. Aquela sensação de que ninguém está revelando tudo o que tinha para contar, e de que não é possível confiar em nenhuma personagem se sustenta até o desfecho, que de certa forma é até bastante surpreendente, inclusive pelo rumo que a narrativa toma.
A arma do crime, o motivo, as personagens. Tudo lembra os bons policiais do começo do século passado, como os de Agatha Christie e Edgar Wallace. A trama é até bastante simples, com poucas pistas sendo apresentadas para o público, o que permite um desfecho coerente sem aquela surpresa desagradável de finais ao estilo Scooby-Doo, no qual uma pessoa que sequer aparece na trama é apontada como a culpada.
Além disso, o desenvolvimento do espaço na história também é muito bem feito. A mansão em si parece ganhar vida, e em muito acaba colaborando para o clima da história, ainda mais quando combinada com as chuvas descritas por James. É um livro que prende a atenção, e realmente transporta o leitor para os eventos narrados e que tem tudo para agradar aos fãs do gênero, justamente por ser tão parecido com as melhores policiais já escritos, mas sem ser pastiche, sem errar a mão.
Para quem ler e gostar de Mortalha para uma enfermeira, a boa notícia é que a Companhia das Letras já trouxe para o Brasil quase todos os títulos da autora, sendo que a maior parte desses tem como investigador o agente da Scotland Yard, Adam Dalgliesh. Para saber quais livros de P. D. James já foram traduzidos, basta acessar a página da autora no site da editora, onde há uma lista de obras publicadas pela Companhia.
Uma grata surpresa não só descobrir que P. D. James é uma mulher, mas alguém que consegue contar tão bem histórias. É sempre muito bom ter em mãos um livro de um gênero que você gosta, e ver que o autor consegue desenvolver uma narrativa com êxito, conseguindo entreter o leitor sem ser raso.