A questão é que King vai montando aos poucos uma bomba relógio. O que acontecerá no Overlook durante o frio não é mistério para o leitor, que a todo momento recebe elementos de uma tragédia que está por vir: o homem contratado para o mesmo serviço de Jack em um inverno anterior matou mulher e filhos. Jack tem problemas com a bebida, e mais do que isso, simplesmente surta do nada – incluindo no histórico o fato de ter quebrado o braço do filho uma vez. E somando a tudo isso, temos Danny, o “iluminado”, que consegue ler mentes, ver fantasmas e prever o futuro.
É interessante que King tenha conseguido escrever uma obra de horror tão arrepiante quando foge do recurso típico das histórias do gênero, famosas por assustarem pelo que não mostram, o que não contam. Em O Iluminado quanto mais se revela mais assustador ele fica. Jack em uma determinada situação encontra um scrapbook com histórias do Overlook, recheadas de mortes violentas o que de certa forma nos apresenta aos fantasmas que rondarão os corredores do hotel. Ou ainda no começo da estadia da família Torrance, quando o gerente pergunta ao telefone como está Jack e ele diz irônico “Fique tranquilo que ainda não matei minha esposa e filho, estou deixando isso para o fim da estação quando estiver mais entediado”.
E é realmente assustador, porque foge também daquela máxima de que fantasmas não podem fazer nada contra você. Os fantasmas do Overlook podem e fazem de tudo com as personagens da história. E então outros elementos vão começando a contribuir para a atmosfera de terror, como o barulho do elevador subindo e descendo sozinho, ou mesmo quando até Wendy passa a escutar os fantasmas circulando pelo hotel.
Porém, acredito que O Iluminado seja um livro em dois: ele tem seus momentos de terror puro, que é quando foca nos fantasmas, mas também de suspense, quando Jack começa a enlouquecer e já sabemos o que estará por vir. Nesse segundo momento Stephen King é genial, desenvolvendo uma narrativa de tirar o fôlego, que mal dá tempo do leitor se recuperar e já coloca mais tensão nos eventos.
Aos que já conhecem o filme fica a pergunta de qual é melhor, e eu acho que eles acabam sendo tão diferentes que não tem muito como comparar. É quase como se Kubrick tivesse aproveitado o básico do enredo de Stephen King e com isso fez a versão para o cinema. Há diversos elementos do livro que ficaram de fora (talvez por funcionar unicamente nos livros, como os topiários que “protegem” o Overlook da estrada), e mais do que isso, a condução da narrativa se dá de formas diferentes nas duas mídias.
Por isso é difícil escolher o melhor entre filme e livro Mas quanto ao segundo, é certo que O Iluminado não deve nada às melhores histórias de fantasmas já escritas, e ainda traz um ótimo suspense, que deve agradar a todos os fãs do gênero.
Um dos meus livros preferidos dele. Sempre leio uma parte dele nas aulas quando o assunto é terror, rs…
E como em muitos livros de King, o personagem central, Jack chega as raias de ser repugnante (como pessoa, não fisicamente) – e isso desde o começo da história, ants mesmo da ação dos fantasmas. É como se ele fosse a pessoa certa, o “foco” que os espíritos malignos precisavam.
ah, que saudade desses primeiros livros do king, quando ele não parecia receber por página! hehe
vou resgatar esse do fundo da estante do fabiano.
Eu adoro esse livro. Uma coisa que aprecio nos livros dele é que de vez em quando rola um crossover. No livro Angústia, Annie Wilkes mora perto do Hotel Overlook.
Bj