O enredo é bastante simples, não vai além do que o próprio título já diz. José Ernesto, um homem da cidade grande resolve comprar uma quinta no interior de Portugal. Porém, ao chegar ao local rapidamente tem sua visão ideal do local desfeita pelo dia de chuva que dá nome ao conto. Sem ter o que fazer ou para onde ir, acaba se entretendo através de conversas com o padre da região.
A força do texto de Eça de Queiroz está especialmente no espaço da narrativa. As descrições do local são feitas de forma impecável, transportando o leitor para a quinta em um dia chuvoso. É quase possível ouvir o barulho da água caindo do céu, sentir o cheiro da terra, ouvir os passos angustiados de José Ernesto no chão de madeira da casa. A casa e a chuva são presenças tão fortes que quase passam a ser personagens da história, junto com os empregados da quinta, José Ernesto e o padre.
Além disso, o desconforto inicial de José Ernesto, preso na quinta por causa do dia de chuva, também é muito bem desenvolvido. A empatia é imediata – impossível não pensar em uma viagem de verão estragada por conta de um tempo ruim, a sensação de estar em uma casa que não é sua, com nada para fazer e sem algo de familiar para que seja possível simplesmente passar o tempo e esquecer daquilo que não pode ser aproveitado naquele instante.
A narrativa se desenvolve em um ritmo interessante, trazendo como elementos que despertam a curiosidade do leitor a filha loira do dono da quinta, que através das histórias do padre começa a chamar a atenção do protagonista. É interessante reparar como com a garota, o enfado inicial da personagem tranforma-se em um real interesse pela mulher, sensação que se repete com o leitor.
Conto simples e belo, extremamente bem desenvolvido, que ganha ainda mais vida com as ilustrações de Eloar Guazzelli. Uma ótima notícia para os fãs de Eça de Queiroz que esse conto tenha ganhado um espaço nas prateleiras das livrarias brasileiras, criando a oportunidade que mais pessoas conheçam esse excelente trabalho do escritor português.