Os 125 contos presentes na coletânea mostram o que há de melhor na prosa de Guy. Os grandes contos, mais conhecidos do público, como Bola de Sebo e O Horla estão lá, assim como obras geniais do horror, o caso do conto A Morta e Sobre a água. Retratos ácidos da sociedade em que vivia também ganham destaque, sempre com uma conclusão irônica a respeito do que foi contado.
A estrutura das histórias normalmente se repete, sendo que os contos normalmente começam com alguém que relatará algum evento que tenha algo a ver com o que está sendo conversado no início. Apesar da estrutura e dos temas se repetirem, o interessante é que Maupassant consegue tornar cada conto único, e muito bom. A leitura é feita com prazer, prende a atenção e chega a ser quase viciante: mal termina um conto, o leitor já deseja continuar seguindo em frente para o próximo.
A questão do retrato da sociedade também é bem interessante. Para pessoas que tem interesse no século XIX, mais precisamente na França do século XIX, Guy de Maupassant é simplesmente fundamental. O grande mural de personagens que ele cria, mostrando a burguesia de modo cínico, com todos os seus defeitos e mesquinharias é simplesmente genial. Não há maniqueísmo, há apenas a imperfeição humana sendo mostrada através de palavras.
E falar de Maupassant sem tocar na questão do horror é quase um crime. As histórias que ele escreve não deixam nada a desejar a grandes nomes como Edgar Allan Poe. Misturando elementos fantásticos ao cotidiano de uma maneira ímpar, alguns contos ficam um bom tempo na memória após a leitura. Cemitérios, mortos, escuridão. Os elementos se combinam criando um efeito surpreendente, que certamente agradará até quem não é muito fã de histórias de terror.
A seleção de contos de Noemi Moritz Korn é extremamente feliz. 125 Contos de Guy de Maupassant é daqueles livros para deixar na cabeceira da cama e ser degustado, página à página, tal e qual aquele chocolate caro e delicioso que você não deseja que acabe tão cedo. É um daqueles casos em que você vê o tamanho do livro e fica feliz por saber que tem muito, muito daquele autor ali para aproveitar.
(Um último comentário bem fútil: sou apaixonada pelo padrão das capas dessas coletâneas de contos da Companhia das Letras, mas essa roxa dos contos de Maupassant está entre minhas favoritas de todos os tempos. Ficou linda!)
Gosto muito do Guy de Maupassant. Tinha (tenho) um livro de contos dele, não esse, que li e reli várias vezes. Fascinava como algo escrito tanto tempo atrás podia ainda ser assustador. O mesmo pode ser dito do Poe, claro, mas enfim, grande autor.