E é pela importância desse momento histórico que não surpreende em nada o tamanho (784 páginas) de A Sombra da Guilhotina, de Hilary Mantel. No prefácio a autora chega inclusive a se desculpar por ter que deixar muita coisa de fora, o que mostra o quão complexo pode ser um romance sobre a revolução francesa. E de fato o é, mas Mantel consegue conduzir a história de modo interessante e mais ainda, cativante.Isso principalmente por conta do desenvolvimento das protagonistas. O tratamento das personagens lembra muito o de Alexandre Dumas aos Três Mosqueteiros, com as três figuras importantes da revolução (Danton, Robespierre e Desmoulins) com alguma característica marcante na personalidade, que te fazem inclusive prever algumas ações/reações ao longo da narrativa. E como acompanhamos a história desde o nascimento desses, é impossível não se apegar ao que acontece com eles.
Outro aspecto positivo da obra é o modo como Mantel constrói a narrativa. Ela não se utiliza apenas do bom e velho narrador em terceira pessoa. Em alguns momentos temos o que representariam trechos de diário, depoimentos e mesmo texto teatral (no caso do último, o que se encaixa perfeitamente com um momento que Fabre d’Églantine comenta em determinado momento: é tudo um teatro). Essas variações no estilo da narrativa permitem inclusive que o romance não fique cansativo para quem está lendo.
É uma história bela, e forte. Mantel não poupa o leitor nos momentos mais violentos da revolução, mas consegue como ninguém retratar os sentimentos e pensamentos de quem participava disso. O desenrolar de A sombra da Guilhotina nos deixa curiosos, mesmo que quem ainda lembre das aulas sobre Revolução Francesa saiba quais são os desdobramentos das primeiras ações de Robespierre, Desmoulins e Danton. Ao longo da história outras figuras conhecidas são citadas, o que torna a leitura ainda mais divertida (como Voltaire e o escritor Chordelos de Laclos). Além disso, citações de documentos históricos entrecortam a narrativa, como que para ilustrar a situação do momento.
O resultado final é que Mantel faz da revolução uma tempestade. Especialmente nas primeiras partes do livro, ela vem se aproximando como aquela nuvem negra que você vê de longe, com o ar já pesado e quente, pronta para desabar. Quando chega a tempestade, ela dá conta de narrar os eventos caóticos daquele momento sem se perder.
É realmente uma obra notável. O momento é especial, as personagens são fantásticas e a autora conseguiu dar conta de reunir tudo isso em um romance que prende a leitura do começo ao fim. É tão gostoso de ler que depois de fechar o livro você acaba correndo para a internet para pesquisar mais sobre as figuras que são apresentadas ao longo do texto.
Acho que vi a capa deste livro no SOBRECAPAS.
Hmmm, gosto de livros grandes, mas acho que nessas férias ficarei com Kafka à beira-mar, do Murakami, que ganhei há um ano.
Mas fiquei interessado em ver essas figurinhas carimbadas, Voltaire e Chordelos de Laclos (este último: <3), no meio do romance. =)