Ficção de Polpa da Não Editora chega justamente para desmentir essa ideia. Ao convidar vários escritores para formar a coletânea, a proposta segundo (Samir Machado de Machado na introdução) era esta: criar um conto de ficção científica, fantasia ou horror com completa liberdade temática. E os autores souberam aproveitar essa liberdade sem usar o conto como “meio” para apresentar brasilidades, eles fazem ficção brasileira, e de qualidade – sem a artificialidade de elementos inclusos única e exclusivamente para dizer que bem, é ficção feita no Brasil.Notei dois padrões na maior parte dos textos: eles tendem mais ao horror (que eu adoro), e grande parte deles fogem de situar o espaço. Quanto ao segundo ponto, é possivel incluir também o fato de que muitas vezes não temos os nomes das personagens. Então são histórias que podem se passar em qualquer lugar. O que é excelente em se tratando de horror, porque tomando os ensinamentos da Escola Allan Poe (há!) de Horror, o texto não pode ter excessos que distraiam o leitor do efeito que se quer causar. Se o escritor foca seus esforços em situar a personagem em um lugar específico, ele já terá perdido o leitor para quando for partir para a descrição desse local – que é muito mais relevante em histórias de terror, a questão da imagem perturbadora a ser criada como um grande quadro assustador.
O legal no caso de Ficção de Polpa é que os autores que recorrem à brasilidades o fazem de modo sutil, como um elemento que faz parte da história. Há coesão, não há estranhamento. Como no caso de Cabeça-de-Arroz (Annie Piagetti Müller), cuja protagonista em dado momento revela que roubava arroz da despensa da “madame”; ou ainda no conto de abertura, O homem que criava fábulas (Samir Machado de Machado), onde é dito que o casal criador de fábulas tinha horror aos sem-terra. São apenas detalhes, que enriquecem a história, com um propósito além de simplesmente tentar marcar que é um conto que se passa no Brasil.
Assim, o que temos em mãos é uma coletânea para agradar com absoluta certeza qualquer fã do gênero. É divertido e gostoso de ler, do começo ao fim. Alguns contos se destacam, como sempre acontece em uma coletânea, mas todos estão em um nível de bom para excelente. E há horror mesmo, e aqueles desfechos no estilo “tapa-na-cara” que vemos escritores como Ray Bradbury fazer. Seria injusto apontar favoritos, mas eu diria que Carne (Guilherme Smee) e Os internos (Gustavo Faraon) estão entre os que mais gostei. O fígado (Silvio Pilau) é simplesmente hilário, e O Desvio (Antônio Xerxenesky) vem lá cheio das referências que eu tanto gosto (“Narciso acha feio o que não é espelho”? Não sei, mas gosto de reconhecer meu universo cultural nas histórias).
Eu adoraria falar um pouco de cada um, porque realmente gostei de todos. Porém, acredito que parte da graça é também ir se surpreendendo aos poucos, então vou deixar alguns para vocês descobrirem. Mas acredite, vale a pena ler todo o Ficção de Polpa, inclusive a “faixa bônus”, com um conto de Lovecraft. É a melhor resposta que já consegui encontrar para a pergunta “É possível fazer ficção especulativa no Brasil?”. Sim, é. E das boas. E o bacana é que encarnando o espírito das revistas pulp que inspiraram o projeto, o livro é bem baratinho (R$15,00) e a capa é muito legal, lembrando justamente essas revistas. Se você gosta de horror, corre lá no site da Não Editora e garanta o seu, porque dá para dizer sem medo que tem gente nova no pedaço, e eles são de primeira.
Eu tenho o (péssimo) hábito de comprar livros e deixá-los de lado. Tenho os 3 volumes da série Ficção de Polpa, mas nunca li nenhum. 😛
então me empresta o volume 2 que tá esgotado heheehhehe
É por isso que comprei os 3 logo que saíram, porque sabia que seriam de tiragem limitada.
Inclusive o meu Vol. 1 não é nem da não editora, é da anterior, que não lembro o nome agora.
é, esse meu já é uma terceira tiragem (pelo que eu entendi), então com sorte logo sai o volume 2 para eu comprar hehe
mas depois que a dani ler o volume 1 leia vc tb, é muito bom =D
Eu vou levar os 3 pra ler na viagem, em fevereiro. Eu gosto do formato livro leve e de contos para aeroportos, trens e o escambau.
Meu receio era exatamente esse do primeiro parágrafo, hehe.
Comecei a ler hoje de manhã e devorei metade em 1h. Só parei pq tinha que vir trabalhar. Muito divertido mesmo, ótima dica!
falei que ia agradar o/
é muito bom, o pessoal não se prende à ideia de “tem que ser nacional”, simplesmente conta as histórias do modo que a imaginam. e são muito boas ^^