Inicialmente somos apresentados aos dois fios que conduzem a história: a narrativa da Sra. Michel, uma zeladora de um edifício luxuoso de Paris; e os escritos diários de Paloma, uma menina de doze anos que vive no mesmo prédio que a Sra. Michel e está decidida a fazer duas coisas no dia do aniversário, suicidar-se e atear fogo no apartamento.O interessante de A elegância do ouriço é como esses dois fios vão se cruzando, e personagens que são completamente estranhas uma para a outra, descobrem-se e tornam-se amigas. O truque de mesclar os dois tipos de narrativa inclusive ajuda a criar um efeito interessante quando a voz de uma é interrompida pela outra bem em um momento importante: fica a curiosidade de saber o que vem a seguir, o que faz com que o leitor permaneça preso à leitura.
Quanto às personagens, inicialmente tive dificuldades em aceitar Paloma, confesso: não gosto de crianças prodígio nem na vida real, nem na Literatura. Mas as ideias cativantes apresentadas nos diários acabam fazendo com que a idade da menina seja só um detalhe, como acontece para a própria sra. Michel.
No caso da zeladora, o que encanta é perceber o quanto ela se parece com Paloma, fingindo ser algo que não é como uma forma de se proteger das outras pessoas. Mais ainda, ela torna óbvio o quanto medimos as pessoas pelo que fazem e o que parecem, esquecendo de realmente ouvi-las e conhecê-las de fato. Sob a fachada ranzinza da zeladora, esconde-se uma figura doce e inteligentíssima, que atrai não só as personagens do livro, mas também o leitor.
Em dado momento, o livro divide-se em dois. Temos um romance filosófico, com ótimos questionamentos levantados pelas personagens e temos um romance sobre solidão e amizade. E foi uma excelente escolha de Barbery usar um edifício como espaço para a história, porque ele representa exatamente o que suas personagens parecem gritar a todo momento: vivemos em comunidade, com outras pessoas, mas estamos todos sozinhos em nossos pequenos mundos.
É uma história gostosa, simples, doce e realmente cativante. Seja pelo conteúdo filosófico, seja pela leveza do enredo, é daquele tipo de livro que quando você fecha ao concluir a leitura, já começa a sentir saudades das personagens que acabara de conhecer.
Nem preciso dizer que fiquei com vontade de ler. Tb não sou fã de crianças prodígio, mas darei uma chance para essa.
Abraços.
esse livro é realmente lindo, foi um dos melhores que eu li em 2010