E eu comecei esse artigo comentando isso, porque no final das contas acredito que um fator externo acabou estragando minha leitura de Pequena Abelha (Little Bee no original). No caso, o problema foi a propaganda em torno do livro, justamente o primeiro contato que tive com o título através de um email da editora Intrínseca. Dizia lá:
Não queremos lhe contar o que acontece nesse livro.
É realmente uma história especial, e não queremos estragá-la.
Ainda assim, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte:
Essa é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa fazer uma escolha que envolve vida ou morte. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa… Depois de ler esse livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como a narrativa se desenrola.
Pequena Abelha é o segundo livro de Chris Cleave. Finalista do Prêmio Costa de 2008 como Melhor Obra de Ficção, foi indicado ao Prêmio Commonwealth Writers’ como Melhor Livro de 2009.
E para falar bem a verdade, ela é meio enganadora. Passa a falsa ideia de um mistério ou pelo menos uma surpresa ao estilo filme do M. Night Shyamalan que no final das contas nunca vem. Sim, é claro, há perguntas levantadas e o desejo de saber as respostas, mas vamos lá, qual livro não o tem? No final das contas o que estragou minha leitura foi justamente a expectativa pelo grande truque que justificaria essa propaganda (e aqui vale dizer que não é culpa da Intrínseca, o livro já é vendido com essas mesmas palavras lá fora, como dá para conferir na Amazon).
De qualquer forma, eu não vou estragar a surpresa de ninguém revelando mais do que a própria editora revelou, até porque aí eu estaria aqui fazendo um resumo da história, o que não é a intenção. Então vamos partir disso: o livro narra o encontro em dois momentos da vida de duas mulheres, Sarah (inglesa) e Abelhinha (nigeriana). Considerando a nacionalidade das protagonistas, é óbvio que teremos muito sobre o choque entre culturas diferentes – e aqui o mérito de Cleave é conseguir fazê-lo de forma tão poética pela visão de Abelhinha, que por ter passado pelos dois “mundos” consegue compará-los e descrevê-los de uma forma que Sarah não consegue.
A narrativa toda é montada no primeiro encontro entre as duas, com o ponto de vista mudando de Sarah para Abelhinha de capítulo a capítulo., formando assim uma espécie de quebra-cabeças: a cada capítulo você recebe mais informações que vão compondo as personagens, mostrando seus medos, fraquezas e sonhos. É interessante, embora Cleave peque na repetição de alguns elementos (como Abelhinha explicando como teria que contar a história para sua família) ou mesmo nas digressões de Abelhinha, que embora criem imagens lindas, são em alguns momentos desnecessariamente longas e enfadonhas – até porque lembrem, eu esperava uma surpresa.
A leitura de Pequena Abelha valeu a pena especialmente para lembrar como alta expectativa pode estragar um livro. Eu tenho certeza que se fosse um amigo dizendo “Nossa, é uma história tão comovente, você precisa ler isso!” (como aconteceu com outro título da mesma editora, A Menina que Roubava Livros), eu teria provavelmente gostado muito do romance. Mas a frustração de perceber que venderam gato por lebre acabou ofuscando um pouco o brilho da obra de Cleave, que sem dúvidas está acima da média, mas não entrega o que foi prometido.
Bom, lá vou eu apagar do Kindle.