Eu não vou dizer que me apeguei tanto assim à Derfel e cia. São apaixonantes (especialmente Artur, que na maioria das lendas é só um bundão enganado por todos e aqui é um líder cativante) e algumas delas odiosas (lembrando aqui de Lancelote, sempre um dos favoritos em histórias de Artur, e descrito por Cornwell como o mais asqueroso dos covardes). Mas talvez o fato de não ter lido um livro seguido do outro pode ter pesado um pouco na questão do “apego”.
De qualquer modo, Excalibur conclui muito bem a saga. E o título é perfeito, porque dos três eu achei que foi o que mais teve batalhas, mais sangue. Nesse desfecho Artur finalmente consegue se livrar dos saxões (embora todos soubessem que temporariamente) mas aí passa a ter que lidar com as disputas por poder dentro do próprio reino que jurou defender. E se você lembrar qual é a conclusão da lenda de Artur, e mesmo retomar a condição do narrador Derfel desde o primeiro livro (vivendo em um mosteiro, recebendo ordens de Samsum), já dá para imaginar que não é exatamente um “final feliz”.
O que mais gostei aqui é, mais uma vez, como Cornwell trabalhou com as personagens. Depois de dois livros eu achava que Guinevere era a vaca mais nojenta de qualquer história já escrita, e em Excalibur ela reaparece como uma personagem extremamente cativante, inclusive participando das batalhas. E não de um jeito forçado, como se ela tivesse acordado da noite para o dia mais bacaninha. Houve um desenvolvimento progressivo, que levou a isso (e me faz lembrar de quando no primeiro livro Igraine diz que odiava Guinevere e Derfel comenta que então falhou miseravelmente em descrevê-la).
Outra personagem que muda é Nimue, sempre amiga do narrador e nessa conclusão completamente louca e obcecada com sua religião, ao ponto de fazer o impensável para conseguir o que precisa para completar um ritual: Excalibur e o filho de Artur. Ela aparece como mais uma peça em um tabuleiro cheio de personagens prontas para atacar Artur, que falhou justamente por não aceitar sua natureza, a de ser rei.
Vale a pena acompanhar a trilogia, e deixar para trás algumas imagens já cristalizadas sobre o ciclo arturiano. Insisto que a questão de ser a mais verdadeira história de Artur não é exatamente a melhor definição, porque Cornwell mesmo comenta no posfácio que nenhum dos dados nos quais se baseou eram conclusivos e/ou definitivos. Foram inspiradores, no final das contas. O brilho da obra no sentido histórico ainda fica por conta de como o autor descreve os hábitos da época, como por exemplo as comemorações de Beltane e Imbolc.
Diversão garantida, daqueles livros que você lê tão rápido que só percebe que chegou no fim porque as personagens estão se despedindo. E se bater saudades, talvez valha a pena arriscar os outros títulos de Cornwell que já foram publicados no Brasil.
Sou fã incondicional do Bernard Cornwell, mesmo estando perfeitamente ciente dos vícios dele (seus protagonistas são sempre órfãos que sobem na vida devido ao seu talento natural para a guerra/luta e sempre acabam se tornando o braço direito do Rei/General/Líder etc.). Suas descrições de batalha são incríveis e a pesquisa histórica primorosa.
No momento estou lendo as Crônicas Saxônicas (Estou terminando o mais recente, “The Burning Land”), e a Trilogia de Artur foi a primeira coisa que li dele, portanto, faz bastante tempo. O que lembro é que apesar de ter adorado os livros, o “Excalibur” em si me deixou um pouco decepcionado. Achei a resolução de tudo extremamente apressada, talvez compensando dividir em 2 livros para se demorar mais em algumas partes. Uma dia terei de re-ler, pra ver se minha opinião é mantida. De qualquer forma, sua resenha está sensacional.
Aliás, conheci o blog através de uma amiga, e adicionei imediatamente nos meus feeds de RSS. Parabéns!