Uma característica que acho louvável em um autor é saber ser o mesmo e ser diferente ao mesmo tempo. Ele tem aquele tom que é familiar ao leitor, alguns temas reaparecem, mas aí ele tem uma carta qualquer na manga que muda tudo, e faz com que o livro mais recente não seja só “mais um livro de fulano”. Tive o prazer de perceber isso em José Saramago e seu Caim (lançado ano passado pela Companhia das Letras). Aquele que leu O Evangelho Segundo Jesus Cristo vai pensar “Ok, Saramago explorando temas relacionados com a Bíblia…”. Mas aí entramos no como ele o faz.
Em O Evangelho… o que temos é, obviamente, um foco no Novo Testamento. Saramago desconstrói a imagem que temos de Jesus, humanizando ao mostrar defeitos e fraquezas. Mas talvez até por conta disso, a ironia de Saramago em O Evangelho… é sutil, e não é nem de longe o tom predominante de uma narrativa que é extremamente densa. E agora temos Caim, no qual Saramago ao focar o Antigo Testamento desconstrói ninguém mais ninguém menos do que Deus, mas com um tom completamente diferente: narrativa leve, rápida e com o humor quase como constante.
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