De primeira as personagens são tão caricatas que você pensa tratar-se de um livro infanto-juvenil. São tipos, tais como Mortícia e Gomez da família Addams. Não suportam a alegria de viver, orgulham-se de seus problemas pessoais e de saúde e apresentam uma série de valores distorcidos sobre o que é “normal”. Algo que fica evidente ao ver o orgulho da mãe ao falar da filha obesa que se odeia e do filho que sofre com enxaquecas insuportáveis. Isso torna-se ainda mais óbvio com a chegada de Alan, o caçula, que difere em tudo da família ou seja, a “ovelha branca”. É ele que diz “Obrigada, volte sempre!” para os clientes, e quer mostrar para os Tuvaches que vale a pena viver.
É óbvio que toda a trama (bem curtinha, vale a pena dizer) se baseia nesse conflito entre os Tuvache e o caçula, que aos poucos vai mudando não só os parentes, mas também a loja. E sim, tem toda aquela mensagenzinha de “vale a pena viver” (considerando o enredo eu acho que isso seria impossível de evitar), mas mesmo com ela a leitura vale a pena, por causa de alguns bons momentos de ironia e humor negro na história (como quando o filho é mandado para uma escola de kamikases em Mônaco de castigo) ou mesmo as histórias de suicídios de famosos que aparecem aqui e acolá (como o que deu origem ao nome do filho mais novo).
O estilo da prosa de certa forma lembra muito texto para teatro. Era quase possível colocar um “Sr. Tuvache: blablabla” para indicar a fala. Os parágrafos de narração lembram muito aquelas indicações para os atores expressarem de forma adequada o sentimento da personagem. Mas quanto a isso não é de se admirar, o autor Jean Teulé trabalha como roteirista, talvez tenha acabado imprimindo isso em seu estilo.
E como quase tudo que envolva uma certa dose de fantasia e humor negro, o livro parece gritar desesperadamente por Tim Burton ou mesmo Jean-Pierre Jeunet para dirigirem uma adaptação para o cinema. Em muitos momentos eu ficava imaginando as personagens e mesmo o espaço da história como uma mistura de Delicatessen e Sweeney Todd (visualmente falando, é claro).
No mais, eu sei que o livro parece meio óbvio, mas é gostoso de ler. Vale a pena para aquele momento de descanso. E olha só, para quem acha que já sabe o que vai acontecer, é bom destacar que ele tem uma solução interessante e até mesmo surpreendente para quem não quer só uma liçãozinha de moral edificante, digamos assim.
Em tempo: para evitar confusões, é bom lembrar que a tradução para o Português Europeu é “A loja dos suicídios”.
olá anica!
mais uma bela dica literária. ainda bem que o hell fire voltou, se não, onde mais eu ia saber da existência deste livro?
me interessei bastante, vou atrás.
abraços!
Nossa, adorei esse livro, só pela resenha…
Olhando o nome parece ser um filme de terror, mas a resenha é bem interessante…
Indo adicionar a minha lista…
beijos.
Weeee, agora vi que o Hellfire voltou!!! =D
Me interessei muito por esse livro, Anica, nunca tinha ouvido falar dele antes. Vou ver se consigo ele.
E adorei a capa, huhuhu