Robert Johnson

robert_johnsonNão me levem a mal, de certa forma é claro que eu já conhecia o Robert Johnson. Lembro até dele em um TOP TOP da MTV, hehe. Aliás, o Johnson apareceu naquele episódio das mortes bizarras da música, fazendo parte do seleto grupo dos músicos que morreram aos 27 anos (outros membros do clubinho:  Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt Cobain). O nome é tão envolvido por lendas que mesmo quem não é muito fã de blues em algum momento já ouviu falar dele. Mas aquela coisa, ouvir uma música aqui, outra acolá não é conhecer – por isso eu declaro que oficialmente o conheci ontem.

E isso por causa de Supernatural, haha. No episódio Crossroads Blues (S02E08) Dean e Sam acabam retomando mais uma das histórias envolvendo o músico, a de que ele teria vendido a alma para o diabo para ser o melhor bluesman de todos os tempos. Deixando de lado as lendas e o seriado (que ei, pode até ficar bem ruinzão lá pela frente, mas só pelo Johnson e o Blue Öyster Cult já valeu a pena ter assistido, hehe), o fato é que ele é realmente MUITO bom, e é realmente uma pena que ele tenha morrido1 tão jovem, deixando tão pouco para nós escutarmos.

A discografia é pequena e conta mais com álbuns póstumos (faixas remasterizadas ou ainda a velha história das músicas perdidas) e somando faixas que têm mais de uma gravação, toda a produção musical de Robert Johnson fica ali em 42 músicas.  Mas apenas 11 foram lançadas pelo selo Vocalion quando ele ainda estava vivo. Agora para ter ideia da força dessas canções, pensem que sem elas no mínimo Rolling Stones, Led Zeppelin e Eric Clapton não seriam os mesmos, já que eles invariavelmente citam o bluesman como uma de suas influências.

Sugestão, comece por Hellhound on my Trail para entender a razão pela qual me encantei pelo sujeito. Você pode escutar faixa após faixa sem querer pular nenhuma. Ao comentar sobre a dificuldade de falar da biografia do músico, Scorsese uma vez comentou que “O negócio sobre Robert Johnson é que ele existiu apenas em suas músicas. Ele era pura lenda“. E que lenda! E agora dá licença que vou ali curtir Sweet Home Chicago.


  1. aqui temos mais lendas: ninguém sabe ao certo como foi, as teorias vão de envenenamento até sífilis 

6 comentários em “Robert Johnson”

  1. O Eric Clapton é tão devoto do Robert Johnson que gravou dois álbuns inteiramente dedicados às composições dele: Me and Mr Johnson e Sessions for Robert J. Ambos muito bons, vale a pena conferir as versões feitas.

  2. Este texto da Ana Maria Bahiana(publicado na Discoteca Básica,da finada Bizz)resume de forma perfeita o mito que foi Robert Johnson:

    “No quarto de um hotel de segunda, em San Antonio, Texas, o garoto negro, alto, magro e elegante senta-se voltado para a parede, um enorme microfone à sua frente, o violão de aço National-Steel sobre o joelho. Um fio corre pelo chão de madeira até o outro quartinho, onde, concentrados, atentos, maravilhados, dois homens brancos de meia-idade manipulam pesados gravadores de rolo. Faz frio, uma fria noite de novembro de 1936. Olhos fechados, o garoto toca – alguém na sala de controle comenta que não é possível: deve haver mais alguém com ele no quarto. Como é que estamos ouvindo acompanhamento e solo ao mesmo tempo? Mais que isso – que tristeza, que tristeza infinita, que doçura angustiada nessas cordas. O garoto canta, uma voz aguda e ligeiramente fanhosa, e a primeira impressão é de transe, trânsito, fuga, como capturar o vento. Depois, abre-se um universo escuro, um poço das mais absolutas paixões – cada blue é curto, curto, dois minutos e pouco, cantado com quem perseguisse ou fosse perseguido. Nem amor, nem desejo, nem desespero: um pouco de cada uma dessas emoções e mais alguma outra coisa, alguma coisa que remonta à mais básica humanidade, fatalidade, destino, morte.

    O garoto é Robert Johnson, 25 ano, nascido (presumivelmente) no vilarejo de Hazelhürst, Mississipi. Os homens são o pesquisador John Hammond e o então diretor artístico da gravadora Columbia, Don Law. O que eles estão gravando é a primeira parte do único registro da obra do virtual do cristalizador do blues moderno; um ano depois, num “estúdio” improvisado no galpão de um prédio em Dallas, Texas, Hammond e Law fariam uma segunda sessão. Quando, cinco meses depois, Hammond desceu de Nova York ao Sul em busca de Johnson para um grande concerto de blues programado para o Carnegie Hall, voltou apenas com a notícia: ele morrera em circunstâncias misteriosas, aos 27 anos, possivelmente assassinado por veneno, por alguma amante vingativa ou por algum marido ciumento. Isso é blues, baby.

    Os dois LPs obtidos dessas sessões são, até hoje, os mais importantes discos de blues que existem, álbuns de cabeceira de Eric Clapton, Jimmy Page, Jeff Beck, John Mayall, Pete Townshend, Ron Wood, Keith Richards, Mick Jagger, Elvis Costello, Nick Cave. Neles estão blues gravados infinitas vezes por artistas contemporâneos – “Love in Vain”, “Crossroads Blues”, “Terraplane Blues”, “Me and the Devil Blues”, “Ramblin’ on My Mind”, “Stop Breaking Down”. Estão neles, também, dezenas de licks – fraseados solistas da guitarra – e riffs – séries de compassos rítmicos -, copiados nota a nota, milhares de vezes, por dúzias de músicos de blues, de jazz, de heavy metal, de rhythm’n’blues, de rock de todas as tendências. E está nesses discos, sobretudo, uma das poesias mais intensas e ousadas da história da cultura popular internacional. Clichê algum descreve a negra lira de Robert Johnson: não se trata de “lamento de raça”, não se trata de “hino da salvação”, não se trata de “lirismo popular”. Trata-se de um mergulho sem amarras nos mais escuros desvãos da alma humana, lá onde mora o verdadeiro devil, o que comercia com as paixões, propõe negócios irremediáveis e não aceita tréguas. Havia uma lenda, já durante o tempo em que Johnson vivia, de que ele teria feito um “pacto com o diabo” em troca de seu notável talento com a música e sucesso com as mulheres. Vista de outro ângulo, a lenda vive: era com seu mais íntimo diabo, aquele que o mundo branco das leis e das normas trata de suprimir, que ele dialogava em seus blues.
    E em seus blues resume-se sua biografia. Robert Johnson nasceu, amou, tocou, morreu. No espaço de 27 anos. Nos dois minutos de um blues.”

  3. Tenho de admitir que no final eu adoro mesmo é Crossroads. Aliás, vc já viu o filme Crossroads com o Daniel San? Não é um filmaço mas é divertido e cheio de Blues. É a história de um garoto estudante de guitarra clássica na escola de Juilliard que acha que precisa de uma obra de arte para se destacar na escola. Com isso ele vai atrás de um velho num asilo que teoricamente tocou com Robert Johnson em um bar no Mississipi a 29a e nunca gravada canção de Robert Johnson.

    Aliás, depois, revendo E aí meu irmão cade você? eu reparei que o Johnson aparece também.

  4. Robert Johnson é demais mesmo, ele conseguia com sua música aparentemente simples causar muita emoção. Muitos anos atrás (pra ser exato 18) um primo meu comprou uma caixa dele, com vários discos, a gente passou semanas ouvindo direto, hehe
    E como já citaram, assista o filme A Encruzilhada, com o Ralph Macchio, é muito legal, explora muito bem esse mito de vender a alma ao diabo pra fazer sucesso. E ainda tem participação do Steve Vai, no final.
    Até mais.

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